O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
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hipnotizados, não passando o estado de hipnose de um estado de histeria.<br />
Concomitantemente com essa premissa, formulou sua teoria dos três estágios hipnóticos : a<br />
letargia, a catalepsia e o sonambulismo. O primeiro estágio, que se podia produzir<br />
fechando simplesmente os olhos do “sujet”, caracterizava-se pela mudez e pela surdez; o<br />
segundo estágio, os olhos já abertos, era marcado por um misto de rigidez e flexibilidade<br />
dos membros, êstes permanecendo na posição em que o hipnotista os largasse. O terceiro<br />
estágio, o sonambulismo, se produziria fricionando enèrgicamente a parte superior da<br />
cabeça do “sujet”. Por sua vez a escola da “Salpetrière” procurou reabilitar a ação<br />
magnética. Charcot tentou convencer os discípulos que, aplicando um imã em determinado<br />
membro, êste se paralizava.<br />
Seria de estranhar que um homem daquela reputação e responsabilidade científicas<br />
tivesse idéias tão retrógradas e mesmo ridículas. Bernheim apontou a Charcot os erros,<br />
mostrando-lhe que as características por êle consideradas como critério de hipnose podiam<br />
ser provocadas artificialmente por mera sugestão. Nasceu daí a histórica controvérsia entre<br />
as duas escolas, a da “Salpetrière” e a de Nancy. Recorrendo a um delicado eufemismo 49 , os<br />
dirigentes desta última, classificaram o hipnotismo daquela de “hipnotismo cultivado”, cujo<br />
valor em relação ao hipnotismo de verdade se comparava ao da pérola cultivada em<br />
confronto com a pérola natural.<br />
Charcot tinha ainda uma teoria metálica relacionada ao hipnotismo. Segundo essa<br />
teoria, a cura de certas doenças dependia tão sòmente do uso correto dos metais. Conta-se a<br />
propósito dessa metaloterapia — lembrada ùnicamente a título de curiosidade histórica —<br />
um episódio pitoresco : Um grupo de alunos de procedência estrangeira estava discutindo<br />
sôbre a diversidade dos sintomas nervosos dentre os diversos povos, enquanto percorriam<br />
em companhia do mestre as diversas dependências da “Salpetrière”. Charcot aproveitou o<br />
ensejo para provar aos forasteiros a universalidade do fenômeno anestésico. Iria mostrar<br />
que a perda da sensibilidade de uma determinada parte do corpo era rigorosamente a<br />
mesma em todos os quadrantes da terra. Todavia, ao espetar a agulha no braço de um<br />
paciente, êste gritou. A reação inesperada causou um misto de desilusão e de hilaridade<br />
entre os discípulos. O mestre, no entanto, não tardou em desvendar-lhes o mistério. No<br />
local mesmo teria sido informado de que, durante a sua ausência, um dos seus assistentes, o<br />
Dr. Burcq, colocara uma placa de ouro no braço do doente. E foi em virtude disso que o<br />
enfêrmo recuperou a sensibilidade… Essa experiência teria convencido Charcot, de uma<br />
vez por tôdas, da veracidade de sua metaloterapia.<br />
As ciências também sofrem os seus golpes de retôrno, e êsses são tanto mais<br />
danosos quando se revertem de uma roupagem pseudo-científica e quando alcançam os<br />
gumes da consagração acadêmica. Charcot representa um retrocesso às teorias fluídicas de<br />
Mesmer. E a expressão “retroceder a Charcot” está sendo injusta e maliciosamente usada<br />
pelos que procuram desmerecer o hipnotismo contemporâneo.<br />
Entrementes, o hipnotismo ia ganhando terreno, espalhando-se pela Europa e pelos<br />
Estados Unidos. Conquanto na imaginação popular o hipnotismo ainda continuasse sendo<br />
uma fôrça que não era em dêste mundo e o hipnotista uma espécie de diabo disfarçado em<br />
curandeiro ou homem de ciência, eminentes cientistas se incumbiam de sua difusão.<br />
Homens como Krafft-Ebing e Breuer na Áustria, Forell na Suíça, Watterstrand na Suécia,<br />
Lloyd Tuckey e Bramwell na Inglaterra, Heidenhain na Alemanha, Felkin na Escócia,<br />
Pavlov na Rússia, McDougall e Phineas Puimby nos Estados Unidos, a prestigiar a ciência<br />
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Ato de suavizar a expressão duma idéia substituindo a palavra própria por outra mais cortez.