O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
24<br />
K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
Conforme se infere do próprio título de sua obra principal, Liébeault ressaltava a<br />
influência do psíquico sôbre o físico. Acontece que o psíquico ainda era uma coisa<br />
misteriosa : a alma humana pràticamente inexplorada e as conjeturas que se faziam em<br />
tôrno de sua estrutura e dinâmica, baseadas ainda em provas empíricas. Entrementes,<br />
Liébeault estava no caminho certo, podia progredir modesta e tranqüilamente, sem ser<br />
muito molestado pelos colegas, mesmo por ser discreto, pobre e não aceitar dinheiro dos<br />
pacientes que tratava hipnòticamente.<br />
B ERNHEIM<br />
Hyppolite Bernheim, um dos expoentes da medicina da França, homem de<br />
reputação inatacável, a princípio contrário ao hipnotismo, resolveu, em 1821, visitar<br />
Liébeault em Nancy, presumìvelmente para desmascará-lo como charlatão. Bernheim<br />
tratara durante seis meses um caso de ciática e fracassara. O caso foi posteriormente curado<br />
por Liébeault. O eminente clínico, que vinha com propósitos hostis, e como cético, logo<br />
convenceu-se da autenticidade do fenômeno e tornou-se amigo e discípulo do modesto<br />
médico rural. O prestígio de Bernheim muito contribuiu para que o mundo científico<br />
acolhesse o hipnotismo ao menos como “uma tentativa em marcha”. Bernheim, o criador da<br />
“escola mental”, insistiu no caráter subjetivo, ou seja, essencialmente psicológico, da<br />
hipnose. Em sua obra De la Suggestion, publicada em 1884, Bernheim insiste na<br />
necessidade de estudar a técnica sugestiva e as características da sugestibilidade. Seu<br />
método de indução, que é rigorosamente científico, ainda serve de base a todos os métodos<br />
modernos e é o que oferece as maiores possibilidades de êxito. Bernheim foi o primeiro a<br />
vislumbrar na hipnose um estado psicológico normal. O primeiro a lançar a compreensão<br />
dêsse fenômeno em bases mais amplas, mostrando que a sugestibilidade não era um<br />
apanágio 47 dos doentes, pois não se limitava aos indivíduos histéricos, conforme se<br />
proclamava na “Salpetrière”. Todos nós somos sugestionáveis, uns mais outros menos.<br />
“Todos somos alucináveis ou alucinados, hallucinables ou hallucinés… Com efeito, todos<br />
somos indivíduos potencial e efetivamente alucinados durante a maior parte de nossas<br />
vidas”… Todos temos a nossa propensão inata à crença, nossa c r é d i b i l i t é<br />
n a t u r e l l e .<br />
São conceitos moderníssimos. Mostram a visão ampla e profunda de um autêntico<br />
cientista a transcender os limites convencionais da ciência de sua época.<br />
CHARCOT<br />
Concomitantemente 48 com a escola de Nancy, representada por Liébeault e<br />
Bernheim, funcionava em caráter independente outra em Paris, no hospital da “Salpetrière”,<br />
que se intitulava a escola do “g r a n d h i p n o t i s m e ”, chefiada por um<br />
neurologista de grande prestígio, o prof. Jean Martin Charcot. Charcot, que só lidava com<br />
histéricos e histero-epilépticos, e cujas experiências hipnóticas se limitavam a três pacientes<br />
femininos, estabeleceu a premissa, segundo a qual sòmente os histéricos podiam ser<br />
47<br />
Propriedade característica.<br />
48<br />
Que se manifesta ao mesmo tempo que outro.