O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
19<br />
Não obstante sua sinceridade e objetividade científicas, o padre Faria era um tipo de<br />
personalidade um tanto quanto teatral. Chamava a atenção pelo seu aparato, suas<br />
vestimentas e suas maneiras um tanto extravagantes. É esta, no entanto, de certo modo, até<br />
aos nossos dias, parte integrante do expediente psicológico da hipnotização.<br />
Já no princípio do século XIX o nome do abade Faria era muito popular em Paris.<br />
Sua figura era vista com freqüência nos salões da nobreza e da alta sociedade parisiense. A<br />
exemplo de todos os expoentes do hipnotismo antes e depois dêle, viveu ao mesmo tempo<br />
horas de glória e de opróbrio 34 . Ofereceram-lhe uma cadeira de Filosofia na Academia de<br />
Marselha, e sem nunca ter estudado medicina foi proclamado membro da Ordem dos<br />
Médicos.<br />
Em Paris, onde desfrutava de enorme prestígio, o padre Faria abriu uma escola de<br />
magnetismo, depois que a polícia lhe proibira as experiências de hipnotismo em Nimes.<br />
Explicando a verdade sôbre o hipnotismo, o padre Faria não escapou à perseguição<br />
maliciosa de seus contemporâneos. Seus inimigos recorreram a um dos expedientes mais<br />
estúpidos (ainda muito usado) para desacreditá-lo diante da opinião pública : contrataram<br />
um ator para simular hipnose e na hora oportuna abrir os olhos e gritar : “Embuste!” O<br />
golpe, não obstante irracional, não deixou de surtir o efeito almejado. Por incrível que<br />
possa parecer, o abade Faria ficou desmoralizado devido a um engano, o qual poderia<br />
ocorrer ao mais experiente e confiante dos hipnotizadores modernos. E até hoje, muitos<br />
hipnotistas de palco caem vítima dessa cilada maliciosa e deshonesta . Na minha própria<br />
prática uso aparar êsse golpe com um simples aviso : “As pessoas que se apresentarem com<br />
propósitos de simulação darão prova de ser, entre outras coisas, portadoras de doença<br />
mental ou tara caracterológica.”<br />
Contudo, o abade Faria, envolvido nas agitações da Revolução Francesa, sofreu<br />
mais perseguição política do que científica. Segundo um livro publicado há mais de um<br />
século, da autoria de um antigo funcionário da polícia parisiense, descrevendo o caso<br />
verdadeiro que serviria de fonte inspiradora a Alexandre Dumas, o abade Faria teria<br />
morrido em uma prisão de Esterel, onde fôra lançado por motivos políticos, tendo deixado<br />
tôda sua fortuna a um dos seus companheiros de prisão, condenado devido a uma denúncia<br />
falsa, fortuna essa calculada naquele tempo em quatro bilhões. Fadado assim a tornar-se<br />
personagem de uma das mais famosas obras de ficção, o padre Faria, herói de Monte<br />
Cristo, não deixou de vingar como pesquisador e cientista, reconhecido pela posteridade.<br />
“O padre Faria — declarou recentemente o doutor Egas Moniz, Prêmio Nobel de Medicina<br />
e um dos maiores expoentes da psiquiatria contemporânea — viu o problema da hipnose<br />
em suas próprias bases com uma grande precisão e com clareza. Foi êle o primeiro a marcar<br />
à hipnose os seus limites naturais… Foi êle que defendeu, pela primeira vez, a doutrina<br />
sôbre a interpretação dos fenômenos do sonambulismo, ponto de partida de tôda sua<br />
doutrina filosófica.” O mais importante, porém, é a sua contribuição à doutrina da sugestão.<br />
ELLIOSTON<br />
Aquilo que já começara a denunciar-se como fenômeno essencialmente psicológico<br />
e subjetivo, ainda funcionaria por algum tempo e para efeitos terapêuticos importantes, sob<br />
o nome de magnetismo ou mesmerismo. Um dos derradeiros expoentes do magnetismo era<br />
34<br />
Desonra; Afronta infamante; Injúria.