O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

rodrigo.vieirati
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148 K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O pessoas são refratárias a uma instrução verbal, mas não resistem ao desejo de imitação. Por isso, digo : “É muito fácil. Façam assim como eu o estou fazendo. Os dedos bem entrelaçados em cima da cabeça e as palmas voltadas para o palco. No momento da prova eu contarei até cinco. À medida que eu fôr contando, as pessoas sensíveis começarão a sentir as mãos prêsas, as mais sensíveis nesta altura não as soltarão…” Convidarei então as pessoas que ficaram com as mãos prêsas e as que sentiram alguma dificuldade no ato de separar as mãos a subirem ao palco. Em seguida haverá outro teste, de tipo diferente, e, finalmente uma terceira prova aqui no próprio palco. Complementarmente esclareço : “As pessoas muito sensíveis, independentemente do teste, não se apresentando, estão sujeitas a entrar em transe na própria poltrona. É melhor subir de uma vez.” Dito isso, passo à primeira prova de sensibilidade : a prova das mãos. “Por favor, todos. É praxe 153 neste gênero de espetáculo todos participarem das provas de seleção.” “Façam agora como eu estou fazendo. Os dedos firmemente entrelaçados, em cima da cabeça, as palmas voltadas para o palco… Isso… Assim… Todos.” “Atenção. Quando eu o pedir, respirem profundamente e prendam a respiração. Soltem a respiração quando eu soltá-la. Eu os acompanharei nesse ato. Continuando com as mãos na mesma posição.” “Pronto. Respirem profundamente comigo. Podem fechar os olhos. “Agora vou contar até cinco. À medida que eu fôr contando, as pessoas sensíveis sentirão as mãos prêsas. As mais sensíveis não as soltarão.” “Atenção! UM… DOIS… TRÊS… QUATRO… CINCO.” A contagem é feita expressivamente, num crescendo de vigôr e de tensão emocional, como que marcando inexoràvelmente 154 o momento exato de um acontecimento fatal. É provável que em uma boa casa uma dezena de pessoas fique efetivamente com as mãos prêsas, demonstrando destarte alta suscetibilidade, e muitas outras terão sentido alguma dificuldade no ato de separar as mãos. Via de regra a audiência não aguarda a ordem do hipnotista para abrir os olhos. A curiosidade de ver quem ficou com as mãos prêsas faz com que invariàvelmente se antecipem a essa ordem. Ato contínuo convido todos que ficaram com as mãos prêsas e mais aquêles que sentiram alguma dificuldade no ato de separar as mãos a se apresentarem sem constrangimento, no palco. Excusado será dizer que, vez por outra, o público se faz de rogado. Se normalmente ao primeiro convite acodem de 15 a 20 pessoas, há dias em que o operador tem de esgotar todo o seu repertório de persuasão psicológica para arrancar meia dúzia de voluntários à platéia. Freqüentemente a presença do operador constrange. Pessoalmente tenho me valido da tática seguinte : retiro-me por um momento do cenário com as palavras convidativas : podem subir, o palco é seu.” Para atenuar êsse ponto crítico que é a mobilização de candidatos para a demonstração, utilizo, invariàvelmente, duas provas de seleção. Fato, aliás, adredemente anunciado. 153 O que se pratica habitualmente; Rotina; Prática. 154 Implacavelmente; Inflexivelmente; Rigidamente.

K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O 149 Notando que ninguém mais se candidata, apresento-me de novo ao público, mais ou menos com estas palavras : “Conforme foi anunciado, haverá uma segunda prova de sensibilidade.” Eventualmente acrescento : “Espero que nessa segunda prova se anime a subir.” E em tom mais autoritário : “Vamos à segunda prova. Esta é a prova da oscilação. É feita em pé. Terão de levantar um momento.” “Levantem, por obséquio. Larguem os objetos que por ventura tenham nas mãos.” Espero até que tenham obedecido a essa instrução. E passo à seguinte : “Não se apoiem nas poltronas e procurem não encostar-se no vizinho. Atenção tôda voltada para mim.” Ato contínuo passo a demonstrar com certo luxo de detalhe e solenidade a posição exata a ser assumida : “Atenção ! A posição é esta : os pés juntos… Os braços caídos… E relaxamento muscular… Fiquem de corpo mole.” “Olhem para mim um momento…Podem fechar os olhos… Quando a música começar vão sentir um balanço.” Conquanto não haja orquestra, utilizo um disco, preferentemente a “Rêverie” de Schumann. Os aparelhos de sonoplástica devem ser testados cuidadosamente para que no momento a música sôe eficiente e suavemente. Independentemente do grau de receptividade a essa sugestão, o hipnotista afirma, monótona e cadenciadamente : “O balanço continua ao som da música. Vocês continuam a balançar, num movimento de oscilação. Para trás, para diante, para a esquerda e para a direita. O balanço continua. Vocês continuam a balançar, etc..” Passados dois ou três minutos, faço um sinal para o sonoplasta fazer cessar a música, e com voz mais familiar digo aos assistentes : “Podem sentar-se.” Em seguida o convite : “Tôdas as pessoas que balançaram fortemente estão convidadas a subir ainda para uma última prova aqui no próprio palco”. Não raro torna-se necessário insistir, apontando eventualmente pessoas que efetivamente balançaram e que relutam em apresentar-se ao palco. Notando, porém, que o indivíduo decididamente se opõe ao convite, não insisto a fim de evitar uma atmosfera de tensão generalizada contra o hipnotista. Muitas pessoas não se candidatam à experiência para não perderem o espetáculo. Para êsses vai um aviso : “Quem ficar hipnotizado não perde o espetáculo, porque terá ingresso para amanhã ou o dia de sua preferência.” Uma vez com os candidatos no palco, faço apagar as luzes da platéia e solicito ao auditório a manter-se nesse silêncio por mais uns quinze ou vinte minutos, enquanto se processam a última prova de suscetibilidade e a indução inicial do transe hipnótico. Agora, com os candidatos à última seleção, o operador pode condescender com um tratamento mais familiar. Familiaridade essa, que só deve servir ao propósito de insinuar maior confiança e contrôle sôbre os que estão com êle e sôbre si mesmo. Não se recomenda nessa hora nem atitudes ditatoriais, nem timidez, mas, sim, uma autoridade e cortezia confiantes, ainda que ùnicamente para efeito de aparência.

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Notando que ninguém mais se candidata, apresento-me de novo ao público, mais ou<br />

menos com estas palavras :<br />

“Conforme foi anunciado, haverá uma segunda prova de sensibilidade.”<br />

Eventualmente acrescento : “Espero que nessa segunda prova se anime a subir.”<br />

E em tom mais autoritário :<br />

“Vamos à segunda prova. Esta é a prova da oscilação. É feita em pé. Terão de<br />

levantar um momento.”<br />

“Levantem, por obséquio. Larguem os objetos que por ventura tenham nas mãos.”<br />

Espero até que tenham obedecido a essa instrução. E passo à seguinte :<br />

“Não se apoiem nas poltronas e procurem não encostar-se no vizinho. Atenção tôda<br />

voltada para mim.”<br />

Ato contínuo passo a demonstrar com certo luxo de detalhe e solenidade a posição<br />

exata a ser assumida :<br />

“Atenção ! A posição é esta : os pés juntos… Os braços caídos… E relaxamento<br />

muscular… Fiquem de corpo mole.”<br />

“Olhem para mim um momento…Podem fechar os olhos… Quando a música<br />

começar vão sentir um balanço.”<br />

Conquanto não haja orquestra, utilizo um disco, preferentemente a “Rêverie” de<br />

Schumann.<br />

Os aparelhos de sonoplástica devem ser testados cuidadosamente para que no<br />

momento a música sôe eficiente e suavemente.<br />

Independentemente do grau de receptividade a essa sugestão, o hipnotista afirma,<br />

monótona e cadenciadamente :<br />

“O balanço continua ao som da música. Vocês continuam a balançar, num<br />

movimento de oscilação. Para trás, para diante, para a esquerda e para a direita. O balanço<br />

continua. Vocês continuam a balançar, etc..”<br />

Passados dois ou três minutos, faço um sinal para o sonoplasta fazer cessar a<br />

música, e com voz mais familiar digo aos assistentes : “Podem sentar-se.”<br />

Em seguida o convite :<br />

“Tôdas as pessoas que balançaram fortemente estão convidadas a subir ainda para<br />

uma última prova aqui no próprio palco”.<br />

Não raro torna-se necessário insistir, apontando eventualmente pessoas que<br />

efetivamente balançaram e que relutam em apresentar-se ao palco. Notando, porém, que o<br />

indivíduo decididamente se opõe ao convite, não insisto a fim de evitar uma atmosfera de<br />

tensão generalizada contra o hipnotista.<br />

Muitas pessoas não se candidatam à experiência para não perderem o espetáculo.<br />

Para êsses vai um aviso :<br />

“Quem ficar hipnotizado não perde o espetáculo, porque terá ingresso para amanhã<br />

ou o dia de sua preferência.”<br />

Uma vez com os candidatos no palco, faço apagar as luzes da platéia e solicito ao<br />

auditório a manter-se nesse silêncio por mais uns quinze ou vinte minutos, enquanto se<br />

processam a última prova de suscetibilidade e a indução inicial do transe hipnótico.<br />

Agora, com os candidatos à última seleção, o operador pode condescender com um<br />

tratamento mais familiar. Familiaridade essa, que só deve servir ao propósito de insinuar<br />

maior confiança e contrôle sôbre os que estão com êle e sôbre si mesmo. Não se recomenda<br />

nessa hora nem atitudes ditatoriais, nem timidez, mas, sim, uma autoridade e cortezia<br />

confiantes, ainda que ùnicamente para efeito de aparência.

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