O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
144<br />
K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
Dentre as diversas razões que se apontam para justificar o maior índice de sucesso<br />
no hipnotismo público, há uma pouco lembrada : a imperiosa necessidade de êxito.<br />
Enquanto um insucesso numa indução de gabinete repercute de forma depressiva,<br />
sobretudo no hipnotista novo, necessitado de estímulo, um fracasso em público é algo<br />
desastroso para a carreira do hipnotizador. Há demonstrações menos felizes, que em sua<br />
fase inicial se assemelham a uma verdadeira agonia, até que, finalmente, o operador<br />
consegue o seu intento. Não estivesse em jôgo a sua carreira, é certo que teria desistido<br />
daquela sessão.<br />
Contràriamente ao que se observa no hipnotismo de gabinete, no qual os métodos<br />
variam de acôrdo com o back-ground cultural e as reações individuais de cada paciente, o<br />
hipnotismo público exige métodos mais ou menos estereotipados. Dentre os métodos já<br />
citados, é o Método da Estrêla o que melhor se adapta à técnica da indução coletiva do<br />
hipnotismo de palco. Excusado será dizer, entretanto, que o método em questão constitui<br />
apenas uma pequena parte do programa e longe está de representar a mais importante.<br />
O hipnotista público deve ser um doublé de artista e cientista, ao mesmo tempo<br />
instrutivo e recreativo, confiante e vigilante em relação ao público.<br />
Excusado será dizer, que a primeira impressão é de decisiva importância para o<br />
êxito da demonstração. Para melhorar essa impressão evitamos extravagâncias de<br />
conceitos, de gestos e de indumentária. Tudo impecável, porém simples e sóbrio… ( * )<br />
Teminada a rápida, porém incisiva apresentação lida pelo meu assistente, eu me<br />
apresento em cena para proferir pessoalmente o indispensável preâmbulo, tão logo<br />
terminem as palmas.<br />
Meu preâmbulo, mais longo do que geralmente se admite, tem por objetivo<br />
condicionar os potenciais “sujets”, elucidar pontos necessários e estimulantes e proteger o<br />
espetáculo contra eventualidades e incidentes desagradáveis.<br />
Segue uma amostra do meu preâmbulo :<br />
Começo dizendo que “uma demonstração científica de hipnotismo não prescinde 149<br />
de uma pequena preleção” — o público constatará eventualmente que a preleção não foi<br />
* ( * ) O hipnotismo de palco exige em alto grau, além da chamada fôrça moral, auto-contrôle e presença de<br />
espírito. A hipnose teatral, mais do que a médica, desperta em certos indivíduos desejos de desafio e mesmo<br />
propósitos agressivos. O hipnotista que enfrenta o público de cinema e teatro, sôbretudo no interior, não está<br />
livre de ciladas e incidentes tumultuosos, apesar do preâmbulo que tem por finalidade principal proteger o<br />
espetáculo. Cito alguns breves exemplos : Certo hipnotizador, que vinha imitando razoàvelmente a minha<br />
técnica, defrontou-se, numa demonstração pública, com um espectador que se propôs a desafiá-lo, para vêr<br />
quem tinha mais fôrça. Percebendo a falta de segurança do jovem hipnotista, o desafiante, possìvelmente um<br />
paranóico delirante, forçou-o fìsicamente a assentar-se numa cadeira, asseverando-lhe peremptoriamente :<br />
“Eu é que vou hipnotizá-lo”. À vista dêsse espetáculo extra, a platéia prorrompeu a princípio em<br />
manifestações hilaridade e em seguida ouviram-se protestos : “escroque (O que se apodera de bens alheios<br />
por manobras fraudulentas.)” “vigarista” etc. etc.. O jovem demonstrador perdeu o contrôle e, temendo uma<br />
agressão iminente, fugiu pelo fundo do teatro. Escusado será acrescentar que não houve espetáculo. E o<br />
público se convenceu da desonestidade do hipnotizador.<br />
Em mais de uma ocasião alguém se me apresentou com propósitos de desafio em demonstrações públicas.<br />
Minha resposta ao desafiante tem sido invariàvelmente esta : “Meu amigo, não duvido de sua fôrça hipnótica.<br />
Sei que você é perfeitamente capaz de hipnotizar a mim ou a qualquer outra pessoa aqui dentro. Acontece que<br />
o distinto público, aqui presente, não veio para vêr o seu trabalho, mas, sim o meu.” E em tom mais enérgico<br />
acrescento : Tenha a bondade de descer e portar-se convenientemente. E o público invariàvelmente solidário<br />
comigo, aplaude. Não há desafiante isolado que resista a reprovação de tôda uma platéia. Vai uma regra<br />
fundamental : o público deve estar com o hipnotizador, desde o comêço de seu trabalho.<br />
149<br />
Não leva em conta.