O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
134 K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O XVI — HIPNOSE EM ODONTOLOGIA ( H I P N O D O N T I A ) A aplicação da hipnose em odontologia (hipnodontia) tem, como tôda disciplina científica, seus precedentes históricos. Em 1837, Jean Etienne Oudet comunicou à Academia Francesa de Medicina haver extraído molares sob o “sono magnético”. Usava-se ainda a terminologia Mesmeriana para designar o fenômeno hipnótico. Tais precedentes, no entanto, não passavam de ocorrências esporádicas. Ao tempo de Oudet e ainda posteriormente a êle, não se poderia ter feito uso da hipnose rotineiramente na clínica odontológica ou em qualquer outra clínica, devido à insuficiência do conhecimento e do contrôle da natureza humana. A odontologia fisiológica e mecânica ainda não contava com o recurso científico e sistematizado da psicologia, que não existia senão apenas empírica e intuitivamente. Com a medicina psico-somática nem sequer se sonhava. A alma e o corpo ainda eram tratados como entidades separadas. Os dentistas que usavam a hipnose tinham de ser olhados como charlatães, o que geralmente eram, ou então como sêres misteriosamente dotados, quando não como bruxos. Com efeito, a ciência que aponta na hipnose uma técnica no contrôle das condições psico-somáticas e uma velharia, malgrado os feitos de Oudet e de outros. É uma conquista legítima do progresso científico contemporâneo. ( * ) O dentista se vê às voltas com o mais cruciante dos problemas : o problema da dor. Êle lida com reações psico-físicas próprias do ambiente dentário. Seus pacientes são indivíduos que têm horror à agulha, à broca, à anestesia, ao motor. Com o auxílio da hipnose o tratamento dentário torna-se mais suave e até agradável para as pessoas nervosas, refratárias aos processos rotineiros. Para tanto, o odontólogo moderno não dispensa conhecimentos de psicologia e noções de medicina psicosomática. Dentro dos seus limites profissionais êle tem de ser um psicólogo e um educador, já que não se limita a restaurar ou remover dentes, pois começa por remover fobias, apreensões, mêdos, ansiedades, objeções, hostilidades, acabando por remover a própria dor psicològicamente. Assume ainda o contrôle da salivação, dos espasmos, da náusea, da hemorragia e o próprio processo da cicatrização é influenciado pela hipnose. Por meio de ordens post-hipnóticas eliminam-se ainda as memorias traumáticas que normalmente persistem em estado de vigília. O paciente se esquece que está no gabinete dentário e na hora se “esquece”, inclusive, de sentir dor. Em muitíssimos casos antes de eliminar hipnòticamente o mêdo da dor, o dentista tem de neutralizar o mêdo inicial da hipnose. Muitos pacientes se vêem acometidos de * ( * ) Nos Estados Unidos já existe na Faculdade de Medicina de Concordia, em Moorhead, Minesota, uma cadeira para o estudo da hipnodontia, contando em 1952 com mais de trinta mil pacientes atendidos. No Brasil iniciou-se em 1955, quando, a convite da Associação Brasileira de Odontologia, o autor dêste trabalho organizou os primeiros cursos de hipnodontia no Brasil. Nêsses cursos, repetidos pelo autor em diversas cidades, diplomaram-se, entre odontólogos e médicos, mais de mil alunos.
K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O 135 verdadeiros acessos de ansiedade quando de súbito, sem o devido preparo psicológico, se vêem na iminência de serem hipnotizados. Para evitar uma reação dessas, usamos o preâmbulo que já conhecemos. Não se insiste com o paciente para que se submeta à hipnose. Devidamente elucidado, êle provàvelmente, se deixará hipnotizar por vontade própria. Êsse processo de condicionamento por elucidação exige bastante desembaraço além de razoável expediente didático e um nível cultural correspondente por parte do paciente. Excusado será dizer que nem sempre essas condições coincidem favoràvelmente com o intento hipnótico. Para contornar essa dificuldade inicial alguns dos autores mais modernos divisaram métodos nos quais a preparação psicológica do paciente não inclui informações específicas sôbre hipnotismo. Ao contrário, os fenômenos hipnóticos são apresentados como meramente fisiológicos. Tudo resultante de um exercício de respiração, relaxamento muscular, reflexo condicionado, a exemplo das escolas que preconizam o parto sem dor e cujos resultados se operam, notòriamente, à base da ação sugestiva. O MÉTODO DO DR. G. F. KUEHNER O Dr. G. F. Kuehner inicia com o preâmbulo costumeiro do profissional, declarando ao paciente que veio ainda a tempo para começar o tratamento. Tivesse esperado mais e não se lhe pouparia maiores sacrifícios e incômodos. Em seguida passa à recomendação do relaxamento muscular : “Vamos afrouxar primeiro bem os músculos. O relaxamento muscular vai lhe proporcionar instantes muito agradáveis. Para ajudá-lo a relaxar, pintei aquêle ponto que poderá fixar. Terá de respirar umas três vêzes, profundamente, enchendo bem os pulmões e expirando vagarosamente.” E começa : UM — respire assim, profundamente. Mais um pouco. Está bem. Agora solte todo o ar dos pulmões. DOIS — Outra vez. Respire profundamente… Mais um pouco… Solte o ar dos pulmões, completamente, etc., etc.. TRÊS — (Repete com ligeiras variantes a mesma recomendação). À medida que você vai fixando êste ponto vai relaxando cada vez mais os músculos. (Êste autor observa pausas de cinco segundos). Em virtude do relaxamento muscular seus membros vão ficando pesados. Agora suas pálpebras já estão ficando pesadas… querendo fechar. De olhos fechados então o relaxamento muscular se completa. Seus músculos estão profundamente, completamente afrouxados. Está se sentindo completamente, agradàvelmente relaxado. Vou agora levantar o seu braço. Primeiro o que está mais próximo de mim. À medida que vou levantando seu braço você vai relaxando ainda mais os músculos, até alcançar o relaxamento mais completo. Você está profunda, profundamente afrouxado. Já está quase completo o seu estado de relaxamento. Nunca em tôda a sua vida você esteve com os músculos tão profundamente relaxados. É esta uma sensação muitíssimo agradável. Neste ponto o Dr. Kuehner larga o braço do paciente e observa a reação. Quando tudo corre de acôrdo com o que esperamos, o braço continua na posição em que o largou o
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A aplicação da hipnose em odontologia (hipnodontia) tem, como tôda disciplina<br />
científica, seus precedentes históricos. Em 1837, Jean Etienne Oudet comunicou à<br />
Academia Francesa de Medicina haver extraído molares sob o “sono magnético”. Usava-se<br />
ainda a terminologia Mesmeriana para designar o fenômeno hipnótico. Tais precedentes, no<br />
entanto, não passavam de ocorrências esporádicas. Ao tempo de Oudet e ainda<br />
posteriormente a êle, não se poderia ter feito uso da hipnose rotineiramente na clínica<br />
odontológica ou em qualquer outra clínica, devido à insuficiência do conhecimento e do<br />
contrôle da natureza humana. A odontologia fisiológica e mecânica ainda não contava com<br />
o recurso científico e sistematizado da psicologia, que não existia senão apenas empírica e<br />
intuitivamente. Com a medicina psico-somática nem sequer se sonhava. A alma e o corpo<br />
ainda eram tratados como entidades separadas. Os dentistas que usavam a hipnose tinham<br />
de ser olhados como charlatães, o que geralmente eram, ou então como sêres<br />
misteriosamente dotados, quando não como bruxos. Com efeito, a ciência que aponta na<br />
hipnose uma técnica no contrôle das condições psico-somáticas e uma velharia, malgrado<br />
os feitos de Oudet e de outros. É uma conquista legítima do progresso científico<br />
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O dentista se vê às voltas com o mais cruciante dos problemas : o problema da dor.<br />
Êle lida com reações psico-físicas próprias do ambiente dentário. Seus pacientes são<br />
indivíduos que têm horror à agulha, à broca, à anestesia, ao motor. Com o auxílio da<br />
hipnose o tratamento dentário torna-se mais suave e até agradável para as pessoas nervosas,<br />
refratárias aos processos rotineiros. Para tanto, o odontólogo moderno não dispensa<br />
conhecimentos de psicologia e noções de medicina psicosomática. Dentro dos seus limites<br />
profissionais êle tem de ser um psicólogo e um educador, já que não se limita a restaurar ou<br />
remover dentes, pois começa por remover fobias, apreensões, mêdos, ansiedades, objeções,<br />
hostilidades, acabando por remover a própria dor psicològicamente. Assume ainda o<br />
contrôle da salivação, dos espasmos, da náusea, da hemorragia e o próprio processo da<br />
cicatrização é influenciado pela hipnose. Por meio de ordens post-hipnóticas eliminam-se<br />
ainda as memorias traumáticas que normalmente persistem em estado de vigília. O paciente<br />
se esquece que está no gabinete dentário e na hora se “esquece”, inclusive, de sentir dor.<br />
Em muitíssimos casos antes de eliminar hipnòticamente o mêdo da dor, o dentista<br />
tem de neutralizar o mêdo inicial da hipnose. Muitos pacientes se vêem acometidos de<br />
* ( * ) Nos Estados Unidos já existe na Faculdade de Medicina de Concordia, em Moorhead, Minesota, uma<br />
cadeira para o estudo da hipnodontia, contando em 1952 com mais de trinta mil pacientes atendidos. No<br />
Brasil iniciou-se em 1955, quando, a convite da Associação Brasileira de Odontologia, o autor dêste trabalho<br />
organizou os primeiros cursos de hipnodontia no Brasil. Nêsses cursos, repetidos pelo autor em diversas<br />
cidades, diplomaram-se, entre odontólogos e médicos, mais de mil alunos.