O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

rodrigo.vieirati
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116 K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O XIV — A HIPNOSE COMO RECURSO TERAPÊUTICO E EDUCATIVO Associando, num mesmo conceito, a função terapêutica à educativa, obedecemos apenas a uma experiência, que se vem confirmando cada vez mais segundo a qual curar, ao menos no sentido psicológico da palavra, significa educar, ou mais precisamente, reeducar. Em outro lugar já apontamos a hipnose como uma das técnicas mais eficientes no contrôle das condições psicosomáticas. É o instrumento por excelência para a penetração e reeducação do inconsciente. A chamada hipnoterapia funcional tem surtido, em muitos casos, resultados satisfatórios, ainda que exercida por leigos. Importante é que o paciente tenha sido antes examinado por um médico, a fim de estabelecer o caráter, orgânico ou funcional, da doença a qual se propõe tratar hipnòticamente. Insistem certos autores em que a hipnose não passe de um método paliativo 123 . Não é lícito considerar como meramente paliativo um recurso capaz de produzir tamanhas modificações fisiológicas e tão profundas alterações nas condições psicosomáticas. É muito acatada ainda nas classes médicas a analogia segundo a qual a hipnose não se compara a um método, mas, sim, a um instrumento. Uma espécie de bisturi nas mãos do operador. Acontece, para a felicidade dos “sujets”, que êsse “bisturi” é de incisão limitada e de responsabilidade dividida, por não estar ùnicamente nas mãos do terapeuta, senão também nas mãos do próprio paciente, o qual exerce na sua própria intervenção o papel de co-cirurgião e, para todos os efeitos, o de co-operador, no sentido literal desta palavra. Por ser um “bisturi” de duplo comando, cabendo ao paciente maior parte no seu contrôle do que ao próprio operador, o uso dêsse instrumento não oferece o perigo que geralmente se lhe atribui. O reparo mais generalizados feito à hipnoterapia em bases puramente sugestivas é o de eliminar, única e temporàriamente os sintomas. Acontece que a supressão 124 dos sintomas pela sugestão hipnótica não é necessàriamente coisa simples e nem sempre de caráter temporário. A supressão dos sintomas, em muitos casos, é o suficiente para favorecer ao paciente o ajustamento ulterior à cura definitiva, abrindo-se-lhe destarte chances terapêuticas inestimáveis. Não se nega que os sintomas sejam manifestações superficiais de conflitos emocionais mais profundos, os quais, em muitos casos, têm de ser sondados e interpretados ao paciente, sob pena de abandoná-lo à desesperança da enfermidade. Muitos casos não se resolvem pela hipnoterapia comum, mas, sim, pela psicoterapia ou pela hipno-análise, da qual trataremos no capítulo seguinte. Casos há que resistem ainda assim. São as clássicas resistências à cura, consideradas parte da estratégia neurótica. Para a hipnoterapia sugestiva poderia elaborar-se idêntico argumento de defesa 123 Medicamento de eficácia momentânea. 124 Ato ou efeito de suprimir: Impedir que apareça, que seja publicado, vulgarizado; Eliminar; Cortar; Fazer que ae extinga; Cassar; Anular.

K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O 117 para explicar-lhe os fracassos. O fato é que falhas e fracassos ocorrem em todos os métodos. Não estamos com isso nivelando culturalmente a técnica sugestiva aos sutis expedientes psicanalíticos. Reconhecemos que a volta triunfal do hipnotismo clínico é largamente devida à obra da psicanálise. E já se afirmou, não sem razão, que tôda hipnoterapia em bases modernas não se compreende sem alguma coisa da orientação e penetração psicanalíticas. Contudo, restaria ainda averiguar o quantum de sugestão que opera no processo psicanalítico e o quantum de psicanálise que entra, embora não sistematizadamente, na aplicação terapêutica sugestiva. Às pessoas que procuram o hipnotista com propósitos terapêuticos mais rápidos, pedindo-lhe, por exemplo, uma sugestão post-hipnótica para dormir, ou deixar de fumar etc., costumamos responder assim : É claro que eu posso dar-lhe uma sugestão nesse sentido. Contudo seria interessante saber por que razão o senhor (senhora) não consegue dormir, por que sente tanta dificuldade em deixar de fumar etc. É esta já uma norma entre os hipnoterapeutas. Indagam, ainda que às vêzes infrutíferas ou superficialmente, dos possíveis motivos dos males que se intenta curar hipnòticamente. Não vamos admitir, entretanto, conforme certa autoridade médica, que, agir de outro modo, seria o mesmo que dar clorofórmio para curar uma fratura. Seria muita fôrça de expressão. Está estabelecido, portanto, que como coadjuvante da psicoterapia e da medicina, o emprêgo da hipnose não tem contra-indicação formal. Como recurso terapêutico independente, ainda que não ofereça o perigo que geralmente se lhe atribui, deve vir precedido de diagnóstico médico, a fim de ter-se certeza quanto à natureza dos sofrimentos que se intenta suprimir hipnòticamente. É preciso saber se o mal é de origem orgânica ou funcional (de origem nervosa como se diz popularmente). De modo contrário, pode-se, eventualmente, apagar uma luz vermelha e retardar uma providência de caráter urgente. A hipnoterapia é tanto mais importante quando se considera que, de acôrdo com estatísticas dignas de crédito, 85% das doenças consideradas orgânicas, são na realidade de origem emocional. Afora os possíveis descuidos de diagnóstico, o aspecto negativo mais freqüente da hipnoterapia, é o da desilusão. Para quase a totalidade dos doentes que recorrem ao hipnotista, a hipnose constitui errôneamente uma última esperança, uma tábua de salvação. Ao hipnotizador se vai depois que falharam todos os recursos da ciência. Resta ainda a hipnose. Se esta falhar o paciente não fica apenas com uma desilusão a mais. Pode considerar-se a si mesmo completamente desenganado. Para neutralizar semelhante efeito, que pode advir de uma simples falha ou dificuldade técnica na indução, devemos alertar o paciente, convencendo-o, antes de mais nada, de que a sua cura (ou salvação) não está de todo na dependência exclusiva do êxito hipnótico. Se por ventura se mostrar refratário à hipnose, ainda lhe restariam os recursos da psicoterapia e particularmente os de psicanálise. Por outro lado mostra-se ao paciente que a hipnose pode e costuma ser mais do que um recurso meramente paliativo, pôsto que, em seus estágios mais profundos age poderosamente, consoante a natureza das sugestões, sôbre o organismo afetado. Um mero paliativo não produziria estados catalépticos e anestésicos, não faria desaparecer verrugas e nem inversamente, aparecer flitenas (bôlhas de queimadura). Por meio da regressão de idade, um dos fenômenos característicos da hipnose, conseguem-se autênticas ablações 125 funcionais de certas zonas corticais, tais como a supressão de determinados reflexos, restaurando-se destarte condições neurológicas infantis. É notória a eficiência da ação 125 Remoção(ões) de estrutura(s) orgânica(s) ou de parte(s) dela(s).

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XIV — A HIPNOSE COMO RECURSO<br />

TERAPÊUTICO E EDUCATIVO<br />

Associando, num mesmo conceito, a função terapêutica à educativa, obedecemos<br />

apenas a uma experiência, que se vem confirmando cada vez mais segundo a qual curar, ao<br />

menos no sentido psicológico da palavra, significa educar, ou mais precisamente, reeducar.<br />

Em outro lugar já apontamos a hipnose como uma das técnicas mais eficientes no<br />

contrôle das condições psicosomáticas. É o instrumento por excelência para a penetração e<br />

reeducação do inconsciente.<br />

A chamada hipnoterapia funcional tem surtido, em muitos casos, resultados<br />

satisfatórios, ainda que exercida por leigos. Importante é que o paciente tenha sido antes<br />

examinado por um médico, a fim de estabelecer o caráter, orgânico ou funcional, da doença<br />

a qual se propõe tratar hipnòticamente.<br />

Insistem certos autores em que a hipnose não passe de um método paliativo 123 . Não<br />

é lícito considerar como meramente paliativo um recurso capaz de produzir tamanhas<br />

modificações fisiológicas e tão profundas alterações nas condições psicosomáticas.<br />

É muito acatada ainda nas classes médicas a analogia segundo a qual a hipnose não<br />

se compara a um método, mas, sim, a um instrumento. Uma espécie de bisturi nas mãos do<br />

operador. Acontece, para a felicidade dos “sujets”, que êsse “bisturi” é de incisão limitada e<br />

de responsabilidade dividida, por não estar ùnicamente nas mãos do terapeuta, senão<br />

também nas mãos do próprio paciente, o qual exerce na sua própria intervenção o papel de<br />

co-cirurgião e, para todos os efeitos, o de co-operador, no sentido literal desta palavra. Por<br />

ser um “bisturi” de duplo comando, cabendo ao paciente maior parte no seu contrôle do que<br />

ao próprio operador, o uso dêsse instrumento não oferece o perigo que geralmente se lhe<br />

atribui.<br />

O reparo mais generalizados feito à hipnoterapia em bases puramente sugestivas é o<br />

de eliminar, única e temporàriamente os sintomas. Acontece que a supressão 124 dos<br />

sintomas pela sugestão hipnótica não é necessàriamente coisa simples e nem sempre de<br />

caráter temporário. A supressão dos sintomas, em muitos casos, é o suficiente para<br />

favorecer ao paciente o ajustamento ulterior à cura definitiva, abrindo-se-lhe destarte<br />

chances terapêuticas inestimáveis. Não se nega que os sintomas sejam manifestações<br />

superficiais de conflitos emocionais mais profundos, os quais, em muitos casos, têm de ser<br />

sondados e interpretados ao paciente, sob pena de abandoná-lo à desesperança da<br />

enfermidade. Muitos casos não se resolvem pela hipnoterapia comum, mas, sim, pela<br />

psicoterapia ou pela hipno-análise, da qual trataremos no capítulo seguinte. Casos há que<br />

resistem ainda assim. São as clássicas resistências à cura, consideradas parte da estratégia<br />

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