O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
descrevendo ou tentando descrever o estado de hipnose, usando os qualificativos ultraagradável,<br />
incomparável e invejável.<br />
Já nos referimos à teoria segundo a qual a hipnose é um fenômeno de regressão<br />
infantil, ou seja, a expressão inconsciente, instintiva e automática da submissão filial, frente<br />
à autoridade materna ou paterna. Sabemos que a sensação de felicidade é sempre, ou quase<br />
sempre, a repetição de uma experiência emocional infantil. A própria felicidade, em última<br />
análise, se define como a realização de um desejo da infância. A hipnose proporciona ao<br />
“sujet”, entre outras coisas, uma oportunidade de reviver afetivamente o saudoso<br />
sentimento de confiança e segurança, desfrutadas durante os primeiros três ou cinco anos de<br />
vida em relação aos pais. À pergunta se é possível tirar partido anti-social ou criminal de<br />
semelhante situação de transferência não é fácil responder radicalmente. Ao menos<br />
teòricamente, o crime hipnótico devia ser viável, sobretudo quando preexiste no “sujet”<br />
uma predisposição latente 119 para o ato criminal sugerido.<br />
Sendo a hipnose, conforme já se disse, uma das formas mais generalizadas do<br />
comportamento social, tudo nela, de certo modo, devia encontrar guarida. O fato de não<br />
existir pràticamente nenhum exemplo de crime hipnótico no passado, não exclui essa<br />
possibilidade para o futuro, considerando-se que o exercício da hipnose se irá difundindo<br />
cada vez mais.<br />
Quanto às famosas experiências feitas com o fim de averiguar a possibilidade de<br />
indução criminal, carecem de valicez em virtude de seu próprio caráter experimental.<br />
Vejmaos alguns exemplos citados : Um “sujet” recebe de seu operador um copo contendo<br />
ácido sulfúrico com a devida explicação sôbre a ação do ácido. Em seguida recebe a ordem<br />
de atirar o ácido ao rosto do hipnotizador. O “sujet”, sem hesitar, obedece. Acontece que o<br />
rosto da “vítima” está protegido por uma redoma de vidro quase invisível, conforme seria<br />
de esperar. Outro exemplo : Um grupo de “sujets”, após a devida identificação dos répteis,<br />
recebe a ordem de enfiar as mãos num verdadeiro bôlo de cascavéis. Os “sujets” todos<br />
executam a ordem sem oferecer resistência. Também as serpentes estão cobertas pela<br />
redoma de vidro. Outro “sujet” é armado de um punhal para investir contra a pessoa do<br />
próprio hipnotista. E investe. O punhal é de borracha. É de supor que em tôdas essas<br />
experiências os “sujets” tenham agido de bona fide, ìntimamente convencidos do caráter<br />
inofensivo dos atos sugeridos. Para que tais experiências se revestissem de validez<br />
psicológica, seria preciso reconstitui-las em bases reais, sem nenhum aparato protetor.<br />
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Não manifesto; Oculto; Disfarçado; Dissimulado.