O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
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paciente insiste junto ao hipnotista nas possíveis vantagens da indução química.<br />
O PODER DA HIPNOSE É RELATIVO?<br />
O fascínio que a prática e as lendas sôbre o hipnotismo exercem sôbre a mente<br />
humana, explica-se pela mentalidade mágica e as fantasias de onipotência que ainda nos<br />
dominam. Anda muito generalizada a tendência de atribui ao hipnotista um poder quase que<br />
absoluto em relação ao “sujet” profundamente hipnotizado. Na realidade, o poder da<br />
hipnose é relativo. O “sujet” não é êsse autômato indefeso e de obediência indiscriminada<br />
que geralmente se acredita. O poder da hipnose sofre as limitações dos códigos morais e<br />
das conveniências vitais da personalidade interior. Em nosso preâmbulo já aludimos a êsse<br />
aspecto, referindo-nos aos mecanismos de defesa que funcionam inconsciente, instintiva e<br />
automàticamente, a essa polícia interior que continua vigilante no mais profundo transe<br />
hipnótico.<br />
Com êsse argumento da polícia interior, no entanto, não eliminamos em caráter<br />
absoluto a possibilidade de induzir uma pessoa hipnotizada a um ato lesivo a si mesmo ou a<br />
outrem. Cabe-nos ponderar, por um lado, sôbre a relatividade do poder da hipnose, e por<br />
outro, sôbre a relatividade da eficiência dessa polícia interior, polícia essa que, à maneira da<br />
polícia externa, é suscetível de fraquezas, de doenças, de corrupção e de subôrno. Embora<br />
jamais o diga aos pacientes, estou convencido da possibilidade, ao menos teórica, de burlar<br />
e subornar a polícia interior em muitos casos. É só considerar a quase absurda confiança<br />
que a maioria dos “sujets” deposita na pessoa do hipnotista. A hipnose começa por uma<br />
operação de crédito moral. Podia dar-se o caso de um hipnotizador não estar èticamente à<br />
altura da confiança que nêle se deposita, hipótese essa que não se adstringe aos hipnotistas<br />
teatrais, senão também, e sobretudo, aos médicos e odontólogos, notando-se em favor dos<br />
primeiros o fato de atuarem em público, e o público é notòriamente vigilante.<br />
Vai um exemplo dessa confiança pràticamente ilimitada do “sujet” no relato abaixo,<br />
da autoria de um professor universitário, submetido por mim ao transe hipnótico em uma<br />
das minhas demonstrações :<br />
“Experimentava uma sensação confortável de confiança. Qualquer coisa de paternal<br />
em sua pessoa. A confiança que me inspirou raiava ao absurdo. Quando me escolheu para<br />
fazer a demonstração da rigidez cataléptica (a ponte humana), colocando-me entre duas<br />
cadeiras, apoiado apenas pela cabeça e pelos calcanhares, encontrava-me ainda consciente.<br />
Todavia, não experimentei o menor receio. Sentia que não seria preciso fazer o menor<br />
esfôrço da minha parte. Não iria cair. Apenas tive confirmada a minha confiança ao<br />
verificar que, de fato, sem o menor trabalho da minha parte, ficava duro entre as duas<br />
cadeiras. Não o meu receio, senão ùnicamente a minha curiosidade, intensificou-se quando<br />
percebi que o senhor me iria submeter a uma prova ainda mais espetacular, subindo em<br />
cima de mim, fazendo-me de ponte. Conforme esperava, não lhe senti o pêso, senão de<br />
modo insignificante. (O “sujet” pesava 48Kg. E eu 85). E continuando seu relato, o “sujet”<br />
afirmou : “Não tenho índole homicida, mas se me mandasse apunhalar uma pessoa, eu a<br />
apunhalava, certo de que o senhor devia ter as mais legítimas razões para ordenar tal gesto.<br />
Amo a vida e não tenho inclinações suicidas, e, no entanto, tenho a certeza de que lhe<br />
obedeceria se me mandasse pular de um vigésimo andar… correndo naturalmente todos os<br />
riscos por sua conta. Não me ocorreria questionar a procedência ou não procedência das<br />
suas ordens. A confiança na sua pessoa era absoluta.” Êste paciente termina seu relato