O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
acordou, estranhando a presença de tanta gente desconhecida no aposento. Sua recordação<br />
era a de um pesadêlo. Sonhara que queria abrir os olhos e não podia. Esforçava-se por<br />
enxergar, mas estava cego. Não cogitei na ocasião de averiguar até que ponto se havia<br />
operado a transformação do sono natural em hipnose. O fato do “sujet” ter acordado devia<br />
ter-me deixado em dúvida a respeito. Todavia, o incidente telepático absorveu-me<br />
demasiadamente a atenção.<br />
A existência do fenômeno telepático já está sendo aceita hoje mesmo pelos círculos<br />
científicos mais céticos. A constatação de incidentes telepáticos pertence à observação<br />
comum da vida cotidiana. E o hipnotista, mais do que qualquer outro profissional, tem de<br />
defrontar-se com a telepatia, ainda que contrariado e involuntàriamente. Nas centenas de<br />
demonstrações públicas por mim realizadas, muitas das quais diante das câmaras de<br />
televisão, o fenômeno telepático, longe de entusiasmar-me, me perturbava. Certos “sujets”,<br />
em lugares onde nunca me apresentara, antecipavam-se às minhas ordens, dando aos<br />
assistentes, ou pelo menos a muitos dêles, a impressão de que já conheciam o repertório e<br />
que, portanto, eram elementos adredemente ensaiados.<br />
Quanto à possibilidade de induzir um estado de transe, ou coagir alguém à execução<br />
de determinados atos, encontrando-se o hipnotista longe do “sujet” e ignorando êste último<br />
o intento daquele de submetê-lo à sua influência, não posso informar de fonte pessoal. De<br />
início temos que estabelecer que um tal hipnotismo, à distância, suprimindo o fator<br />
prestígio, sugestão verbal e presença física, deve ser por demais problemático e só se<br />
explicaria mesmo à base da telepatia. É a razão por que W. H. Myers chamou a êsse<br />
fenômeno de h i p n o t i s m o t e l e p á t i c o. Nesse particular tornaram-se<br />
famosas as experiências do professor Pierre Janet e do Dr. Gilbert, por volta de 1886.<br />
E A INDUÇÃO COM A AJUDA DE DROGAS QUÍMICAS?<br />
Muitos hipnotistas clínicos recorrem a drogas químicas para apressar e facilitar o<br />
trabalho da indução hipnótica. Usam-se éter, clorofórmio e diversos outros anestésicos.<br />
Empregam-se ainda Evipan, Pentotal e diversos tipos de barbitúricos intravenosamente.<br />
Recorre-se, inclusive, ao expediente das inalações. Com a ajuda de tais agentes químicos<br />
consegue-se induzir aquilo que se denominamos de e s t a d o h i p n a g ó g i c o.<br />
Acontece que o estado hipnagógico não é o mesmo que o estado de hipnose. Acredita-se,<br />
no entanto, que aquêle, em muitos casos, possa apressar e facilitar a indução dêste último.<br />
O emprêgo de drogas hipnóticas tem os seus advogados e os seus adversários.<br />
Pessoalmente não tenho presenciado muitos resultados positivos à base dêste recurso. A<br />
presença do agente químico neutraliza um dos fatôres psicológicos fundamentais da<br />
influenciação sugestiva, a saber, o fator prestígio pessoal. É como se o paciente dissesse :<br />
“Assim não é vantagem. Dessa forma qualquer um hipnotiza.” Por sua vez, o operador<br />
também não deixa de sentir-se, de certo modo, diminuído, senão mesmo desmoralizado, em<br />
sua qualidade de hipnotista.<br />
O uso de certas drogas pode ainda induzir determinados pacientes não à hipnose,<br />
mas, sim, ao vício e, inclusive, servir de pretexto para alimentar um vício preexistente. Sei<br />
de um paciente que, não satisfeito com a dose de barbitúrico que o médico lhe injetava ao<br />
iniciar a sessão, ingeria por conta própria uma dose suplementar, antes de dirigir-se, de<br />
automóvel, ao consultório. Um dia chegou ali carregado, em estado de coma, tendo<br />
escapado por um triz de desastre pavoroso. Devemos desconfiar por princípio quando um