O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
106<br />
K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
improvisava o altar, com uma simbologia : velas de cabeça para baixo, objetos estranhos<br />
de tôda ordem e mais os retratos dos guardas a serem “beneficiados”. Êstes últimos,<br />
dispostos em semi-círculo, assentados, recebiam do detento uma colher de água com<br />
açúcar, além da recomendação de fecharem os olhos e se concentrarem mentalmente,<br />
enquanto êle (detento) orava em voz baixa. Passados poucos minutos, os guardas,<br />
assentados, de fuzil em punho, entravam em transe, permitindo destarte ao prêso subir à<br />
janela, serrar a grade e fugir. Quando os policiais acordavam, o fugitivo estava algumas<br />
milhas distante da prisão.<br />
O autor dêsse engenhoso método de indução hipnótica nunca ouvira sequer a<br />
palavra hipnotismo em sua vida. E, no entanto, sua técnica é, como vimos,<br />
psicològicamente correta, baseada na atenção concentrada, ou desviada, como diria<br />
Gindes, na fé e na expectativa. À minha pergunta : “A que você atribui o fato de os<br />
soldados terem dormido assim, profundamente, de fuzil na mão?”, êle respondeu : É a<br />
minha reza que tem êsse poder.” E pediu-me encarecidamente que não o coagisse a<br />
entregar-me a prece, que trazia numa bôlsa de couro, pendurada ao pescoço.<br />
É POSSÍVEL HIPNOTIZAR UMA PESSOA CONTRA A SUA<br />
V ONTADE?<br />
A resposta a essa pergunta implica aspectos mais sutis do que pode parecer à<br />
primeira vista. Resta saber se a vontade a que tradicionalmente subordinamos a<br />
possibilidade de hipnotização é sincera. Geralmente se verifica uma falta de unidade de<br />
propósitos. Ao mesmo tempo que a pessoa quer ser hipnotizada, não quer. Enquanto a<br />
vontade consciente é a de submeter-se à experiência hipnótica, a vontade inconsciente se<br />
opõe ou vice-versa. Já sabemos que muitos dos indivíduos que conscientemente desejam<br />
valer-se da hipnose para fins terapêuticos mostram-se em princípio refratários ao transe em<br />
virtude de alguma zona de resistência inconsciente, a qual teria de ser explorada<br />
analìticamente, o que nem sempre é fácil ou sequer possível.<br />
Quanto às pessoas que enfrentam o hipnotista com propósitos de desafio, chegando<br />
ao ponto de apostar dinheiro, costuma ser ótimos “sujets”. Trata-se no caso de indivíduos<br />
no fundo desejosos de passar pela experiência hipnótica, e sua atitude desafiante não passa<br />
geralmente de um reflexo da convicção íntima de sua suscetibilidade. É muitas vêzes um<br />
expediente provocativo de um masoquismo disfarçado.<br />
A hipnose pode, entretanto, colher a “vítima” de surprêsa, não lhe dando tempo para<br />
usar a própria vontade. É o caso do indivíduo armado a quem não se deu tempo para<br />
empunhar a arma. Quando tais pacientes começam a dar-se conta da situação, já estão no<br />
transe. Muitos entre os meus “sujets” me declararam : “Eu não estava preparado para uma<br />
ação tão fulminante. Tudo se deu de uma maneira tão inesperada e rápida…”<br />
Lembremos que a técnica hipnótica, seja ela qual fôr, consiste preferentemente num<br />
ataque relâmpago, numa ação de surprêsa ou de atropelamento mental.<br />
A hipnotização contra a vontade do paciente é tanto mais fácil quanto se trata de<br />
pessoas anteriormente hipnotizadas, e havendo uma ordem post-hipnótica no sentido de<br />
voltar ao transe a um dado sinal, a possibilidade de resistir é mínima.