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O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />

improvisava o altar, com uma simbologia : velas de cabeça para baixo, objetos estranhos<br />

de tôda ordem e mais os retratos dos guardas a serem “beneficiados”. Êstes últimos,<br />

dispostos em semi-círculo, assentados, recebiam do detento uma colher de água com<br />

açúcar, além da recomendação de fecharem os olhos e se concentrarem mentalmente,<br />

enquanto êle (detento) orava em voz baixa. Passados poucos minutos, os guardas,<br />

assentados, de fuzil em punho, entravam em transe, permitindo destarte ao prêso subir à<br />

janela, serrar a grade e fugir. Quando os policiais acordavam, o fugitivo estava algumas<br />

milhas distante da prisão.<br />

O autor dêsse engenhoso método de indução hipnótica nunca ouvira sequer a<br />

palavra hipnotismo em sua vida. E, no entanto, sua técnica é, como vimos,<br />

psicològicamente correta, baseada na atenção concentrada, ou desviada, como diria<br />

Gindes, na fé e na expectativa. À minha pergunta : “A que você atribui o fato de os<br />

soldados terem dormido assim, profundamente, de fuzil na mão?”, êle respondeu : É a<br />

minha reza que tem êsse poder.” E pediu-me encarecidamente que não o coagisse a<br />

entregar-me a prece, que trazia numa bôlsa de couro, pendurada ao pescoço.<br />

É POSSÍVEL HIPNOTIZAR UMA PESSOA CONTRA A SUA<br />

V ONTADE?<br />

A resposta a essa pergunta implica aspectos mais sutis do que pode parecer à<br />

primeira vista. Resta saber se a vontade a que tradicionalmente subordinamos a<br />

possibilidade de hipnotização é sincera. Geralmente se verifica uma falta de unidade de<br />

propósitos. Ao mesmo tempo que a pessoa quer ser hipnotizada, não quer. Enquanto a<br />

vontade consciente é a de submeter-se à experiência hipnótica, a vontade inconsciente se<br />

opõe ou vice-versa. Já sabemos que muitos dos indivíduos que conscientemente desejam<br />

valer-se da hipnose para fins terapêuticos mostram-se em princípio refratários ao transe em<br />

virtude de alguma zona de resistência inconsciente, a qual teria de ser explorada<br />

analìticamente, o que nem sempre é fácil ou sequer possível.<br />

Quanto às pessoas que enfrentam o hipnotista com propósitos de desafio, chegando<br />

ao ponto de apostar dinheiro, costuma ser ótimos “sujets”. Trata-se no caso de indivíduos<br />

no fundo desejosos de passar pela experiência hipnótica, e sua atitude desafiante não passa<br />

geralmente de um reflexo da convicção íntima de sua suscetibilidade. É muitas vêzes um<br />

expediente provocativo de um masoquismo disfarçado.<br />

A hipnose pode, entretanto, colher a “vítima” de surprêsa, não lhe dando tempo para<br />

usar a própria vontade. É o caso do indivíduo armado a quem não se deu tempo para<br />

empunhar a arma. Quando tais pacientes começam a dar-se conta da situação, já estão no<br />

transe. Muitos entre os meus “sujets” me declararam : “Eu não estava preparado para uma<br />

ação tão fulminante. Tudo se deu de uma maneira tão inesperada e rápida…”<br />

Lembremos que a técnica hipnótica, seja ela qual fôr, consiste preferentemente num<br />

ataque relâmpago, numa ação de surprêsa ou de atropelamento mental.<br />

A hipnotização contra a vontade do paciente é tanto mais fácil quanto se trata de<br />

pessoas anteriormente hipnotizadas, e havendo uma ordem post-hipnótica no sentido de<br />

voltar ao transe a um dado sinal, a possibilidade de resistir é mínima.

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