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O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />

105<br />

XII — O QUE SE COSTUMA PERGUNTAR<br />

AO HIPNOTIZADOR<br />

PODE UMA PESSOA SER HIPNOTIZADA SEM AVISO<br />

P R ÉVIO?<br />

Esta pergunta é geralmente motivada pelo temor à crítica do paciente em caso de um<br />

fracasso. A experiência autoriza, no entanto, uma resposta afirmativa. Em condições<br />

excepcionais podemos hipnotizar um indivíduo sem lhe comunicar adredemente nosso<br />

intento de hipnotizá-lo, recorrendo, entre outras técnicas, à da sugestão indireta. Ex. : Dá-se<br />

ao paciente um cálice de água doce ou de xarope, ou uma injeção qualquer, afirmando-lhe<br />

que se trata de um barbitúrico 116 ou coisa equivalente, marcando-lhe cinco ou dez minutos<br />

para sentir o efeito soporífico, descrevendo-lhe, eventualmente, a ação química da droga<br />

sôbre o sistema nervoso etc. O paciente cai em transe e o hipnotista passa a completar a<br />

indução com a sugestão verbal. A eficiência dêsse expediente sugestivo é pública e notória.<br />

Um exemplo ilustrativo nesse sentido foi publicado pela Revista Britânica de Medicina :<br />

um indivíduo sofrendo de insônia solicitou ao seu médico barbitúricos. Recebeu dez<br />

comprimidos de vitamina com a severa advertência de não abusar do remédio. Deveria<br />

ingerir no máximo duas drágeas. No dia seguinte, a espôsa do consulente teve de chamar o<br />

pronto socorro. Encontrou o marido em estado de coma. O homem ingerira as dez drágeas<br />

que o médico lhe cedera.<br />

Nota-se que êsse processo indireto de hipnotização torna-se ainda mais eficiente<br />

quando o próprio hipnotista ignora a natureza hipnótica dos efeitos produzidos na pessoa<br />

alheia, quando êle próprio acredita na ação soporífica da droga administrada. Daí, não<br />

raramente, a hipnose ser exercida, não sòmente sem o conhecimento do paciente, senão<br />

também sem o conhecimento do próprio agente. São comuns os hipnotistas avant la lettre,<br />

pessoas que ignoram sua qualidade de hipnotizadores e que longe estão de exercer<br />

conscientemente seu mister psicológico. Dentre êsses hipnotistas inconscientes<br />

encontramos, não raro, elementos ignorantes e de nível social inferior. Lembro-me a<br />

propósito de um paciente meu, um recluso, homem rústico e analfabeto, que acompanhado<br />

de ficha antropológica 117 bastante desfavorável, apresentou-se em meu gabinete de<br />

psicologia ( * ) . Na ficha constava que o paciente conseguira evadir-se engenhosamente de<br />

diversos estabelecimentos penais. Interrogado, o próprio detento confiou-me o segrêdo de<br />

sua técnica fugitiva. Angariava a confiança dos guardas da prisão, convencendo-os de que<br />

possuía uma reza secreta, capaz de “endireitar-lhes” a vida. Bastava que êles (guardas)<br />

compartilhassem de sua fé e participassem de uma sessão. Na própria cela, o presidiário<br />

116<br />

Qualquer de determinados compostos orgânicos, muitos deles com uso farmacológico devido a atividade<br />

sedativa e anticonvulsionante.<br />

117<br />

Estudo ou eeflexão acerca do ser humano, e do que lhe é característico.<br />

* ( * ) Na Penitenciária de Neves (Minas Gerais — Brasil).

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