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Enquadramento<br />
HIPERTENSÃO ARTERIAL<br />
GALOPANTE<br />
Inês Videira 1 , Joana M. Ferreira 1 , Susana Figueiredo 2<br />
1<br />
Interna de Formação Específica <strong>em</strong> Medicina Geral e Familiar na USF Saúde <strong>em</strong> Família – ACeS Grande Porto III – Maia/Valongo<br />
2<br />
Assistente <strong>em</strong> Medicina Geral e Familiar na USF Saúde <strong>em</strong> Família – ACeS Grande Porto III – Maia/Valongo<br />
A Hipertensão arterial (HTA) secundária ocorre numa percentag<strong>em</strong> estimada de 5%. Esta possibilidade deve ser equacionada, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, quando há uma elevação severa da tensão arterial (TA), inicio súbito ou agravamento da HTA, má resposta à terapêutica e<br />
lesões de órgão-alvo desproporcionais à duração da HTA. As diferentes causas dev<strong>em</strong> ser ponderadas de acordo com a idade, género,<br />
etnia, fatores de risco cardiovascular, restantes comorbilidades e exame objetivo.<br />
Relato do caso<br />
Identificação: Utente de 40 anos, sexo masculino, 12º ano de escolaridade (frequentou licenciatura <strong>em</strong> engenharia informática),<br />
des<strong>em</strong>pregado.<br />
Antecedentes pessoais: dislipid<strong>em</strong>ia, excesso de peso (IMC 27,5kg/m 2 ), esquizofrenia. S<strong>em</strong> alergias conhecidas.<br />
Medicação habitual: risperidona 2mg um comprimido à noite, diazepam 10mg meio comprimido à noite.<br />
Hábitos toxofílicos: fumador 20UMA, 7 cafés/dia. Nega consumo de álcool e drogas ilícitas.<br />
Padrão de sono: dorme no período diurno, manhã. Sono reparador.<br />
S<strong>em</strong> hábitos de atividade ou exercício físico.<br />
Caracterização familiar: Família flutuante (entre a habitação dos pais e a da companheira). Classe III de Graffar. APGAR familiar de<br />
Smilkstein: 10 pontos (família altamente funcional).<br />
Antecedentes familiares: avó com história de acidente vascular cerebral e diabetes mellitus, pai com HTA, tia com cardiomiopatia<br />
dilatada.<br />
História atual<br />
Consulta aberta 10.2016<br />
• Parestesias no m<strong>em</strong>bro superior<br />
direito, que associa à toma de<br />
muitos cafés, e alterações<br />
visuais esporádicas. Objetiva-se<br />
TA 170/114mmHg (após<br />
diazepam 10mg).<br />
• Foi dada a indicação para<br />
realizar monotorização <strong>em</strong><br />
ambulatório da TA, reduzir<br />
tabaco (10 cigarros/dia), beber<br />
apenas descafeinado e cumprir<br />
toma de diazepam.<br />
Manteve valores de TA elevados<br />
compatíveis com HTA grau III e<br />
foram solicitados exames auxiliares<br />
de diagnóstico (EADs).<br />
Estudo analítico<br />
• H<strong>em</strong>ograma, ionograma,<br />
glic<strong>em</strong>ia normais; aldosterona,<br />
cortisol livre e metanefrinas<br />
fraccionadas urinárias normais<br />
• Creatinina 1,40mg/dL<br />
• Renina sérica elevada<br />
50,1µU/L/mL<br />
• Colesterol total 245mg/dL, HDL<br />
42mg/dL, triglicerídeos<br />
347mg/dL, LDL 133,6mg/dL<br />
• Microalbuminuria 27,4mg/24h<br />
(volume urina 1400mL)<br />
• Risco cardiovascular moderado<br />
Outros EADs<br />
• Ecografia renal e supra renal:<br />
s<strong>em</strong> alterações<br />
• Eletrocardiograma (ECG): ritmo<br />
sinusal, frequência cardíaca<br />
95bpm<br />
• Ecocardiograma: hipertrofia<br />
concêntrica moderada<br />
ventricular esquerda,<br />
compatível com cardiomiopatia<br />
hipertensiva, com compromisso<br />
ligeiro da função sistólica<br />
ventricular esquerda (fração de<br />
ejeção 47%)<br />
• ECG com prova de esforço:<br />
normal, s<strong>em</strong> sinais de isqu<strong>em</strong>ia<br />
Discussão<br />
Em 2015, <strong>em</strong> consulta de vigilância o utente apresentava TA de 135/85mmHg e após um ano e meio apresenta HTA grau III com lesão de<br />
órgão-alvo. O despiste de causas secundárias de HTA é importante, sendo que o grau de suspeição condiciona a orientação do utente,<br />
nomeadamente a escolha terapêutica. O caso foi discutido com o responsável da consulta de HTA do hospital da área de referenciação,<br />
estando a aguardar consultas hospitalares. Iniciou mudanças de estilo de vida e atorvastatina 10mg. Não tolerou a lercanidipina 10mg,<br />
mantendo controlo da TA (120/80mmHg) com bisoprolol 5mg e indapamida 2,5mg.<br />
Além de uma possível causa secundária de HTA, importa refletir sobre a associação do antecedente de Esquizofrenia com patologia<br />
cardiovascular. O risco cardiovascular acrescido na Esquizofrenia t<strong>em</strong> uma etiologia multifatorial e os estudos apontam para uma<br />
predisposição genética, um estilo de vida pouco saudável (alimentação favorável ao excesso de peso/obesidade, tabagismo e<br />
sedentarismo) e um contributo dos fármacos anti-psicóticos para alterações do metabolismo dos lípidos e hidratos de carbono. O<br />
médico de família t<strong>em</strong> de estar atento ao risco cardiovascular, investir s<strong>em</strong>pre na mudança de estilos de vida, orientar os probl<strong>em</strong>as e<br />
explicar os sinais de alarme para eventos cardiovasculares.<br />
Bibliografia: Normas da DGS. 2013 ESH/ESC Practice Guidelines for the Manag<strong>em</strong>ent of Arterial Hypertension. Rimoldi SF, Scherrer U, Messerli FH. Secondary arterial hypertension: when, who, and how to<br />
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European Psychiatric Association (EPA), supported by the European Association for the Study of Diabetes (EASD) and the European Society of Cardiology (ESC). Eur Psychiatry. 2009 Sep;24(6):412-24. Manu P,<br />
Dima L, Shulman M, Vancampfort D, De Hert M, Correll CU. Weight gain and obesity in schizophrenia: epid<strong>em</strong>iology, pathobiology, and manag<strong>em</strong>ent. Acta Psychiatr Scand. 2015 Aug;132(2):97-108.