POSTERS - Update em medicina 2017 book 1
Crónica de um AVC arrastado… aos 38 anos Carla Costa¹, Diana Miranda¹, Cláudia Teixeira² ¹ - Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, 4º ano ² - Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, 3º ano Enquadramento A disseção carotídea insere-se na categoria das disseções arteriais cervicais como causa de Acidente Vascular Isquémico (AVC), sendo esta última entidade responsável por cerca de 25% dos AVCs isquémicos na população com idade inferior a 45 anos. O quadro clínico inerente à dissecção carotídea relaciona-se com a localização da lesão arterial, sendo a intracraniana a menos comum. A tríade caracterizada por Síndrome de Horner incompleto, dor no trajeto da artéria carótida e cefaleia, à qual se seguem sinais e sintomas de isquemia retiniana e/ou cerebral, devem levantar a suspeita de dissecção da artéria carótida. Os fatores de risco identificados para dissecção arterial cervical incluem, hipertensão arterial, dislipidemia, hiperhomocisteínemia, história de intercorrência infeciosa recente e determinadas doenças genéticas do tecido conjuntivo, contudo, história de trauma cervical constitui o fator de risco de maior relevo. Trata-se todavia, de um diagnóstico frequente em indivíduos sem fatores de risco cardiovasculares major identificados. Descrição do Caso Clínico Identificação: C.M.D., 38 anos, género feminino Antecedentes Pessoais: #1 – Desde 2009: Queixas osteoarticulares e neurológicas referentes aos segmentos cervical e lombar da coluna cervical, intermitentes, características mecânicas, intensidade moderada. #2 – outubro de 2016: Episódio de noção de diminuição intermitente da força muscular em todos os segmentos do membro superior esquerdo, que motiva ida ao serviço de urgência. Teve alta clínica, sem orientação posterior Antecedentes Familiares: #1 - Pai: AVC isquémico aos 59 anos Medicação Habitual: Anticoncetivo hormonal combinado História da Doença Atual – novembro de 2016 #S - Recorre a consulta aberta com a sua médica de família, relatando queixas de noção de diminuição da força muscular em todos os segmentos do membro superior esquerdo, associado a parestesias #O - sem alterações do tegumento objetiváveis - sem sinais inflamatórios aparentes - força muscular mantida e simétrica nos membros superiores bilateralmente - reflexos osteotendinosos vivos e simétricos nos membros superiores bilateralmente #A – Sinal/sintoma do braço; sinal/sintoma da mão/dedo #P – tomografia axial computorizada (TAC) da coluna cervical + eletrocardiograma (ECG) + hemograma + glicose +função renal + função tiroideia Meios complementares de diagnóstico (MCDT) não realizados História da Doença Atual – dezembro de 2016 #S – Noção de diminuição da força muscular no membro superior esquerdo, associado a parestesias com a mesma localização e na região occipital, cefaleia e disartria INEM #S – Manutenção dos sinais e sintomas #O – Hipostesia do membro superior e face à esquerda #A – Acidentes vascular cerebral? #P – TAC craneoencefálico e ECG MCDTs sem alterações valorizáveis #A – Disseção carotídea? #P – Angio-TAC Hospital de Braga – Serviço de Urgência Colaboração de Neurologia Disseção carotídea direita no bulbo cerebral com oclusão em bico de lápis Discussão O diagnóstico de disseção arterial cervical tem vindo a aumentar nos últimos anos, com o advento de um maior recurso às técnicas imagiológicas. Contudo, o seu diagnóstico é muitas vezes atrasado pelo carácter intermitente da sintomatologia e pelas características sociodemográficas dos indivíduos geralmente afetados. É por isso reconhecida a importância de um nível de alerta maior para esta entidade nosológica, de forma a aumentar o seu diagnóstico e respetiva orientação e tratamento urgente ou emergente. Bibliografia Blum, C.; Yaghi, S. Cervical Artery Dissection: a review of the Epidemiology, Pathophysiology, Treatment, and Outcome. Archives of Neurology (2015), vol 2; pgs 1-12 Campos – Herrera, C.; Scaff, M.; Yamamoto, F.; Conforto, A. Spontaneous cervical artery dissection. Arquivos de Neuropsiquiatria (2008), vol 66; pgs 922-927 Chen, J.; Zhou, X.; Li, C.; Cheung, B. Risk of Stroke due to Spontaneous Cervical Artrey Dissection. Internal Medicine (2013), vol 52; pgs 2237-2240
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Crónica de um AVC arrastado…<br />
aos 38 anos<br />
Carla Costa¹, Diana Miranda¹, Cláudia Teixeira²<br />
¹ - Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, 4º ano<br />
² - Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, 3º ano<br />
Enquadramento<br />
A disseção carotídea insere-se na categoria das disseções arteriais cervicais como causa de Acidente Vascular Isquémico (AVC), sendo esta última<br />
entidade responsável por cerca de 25% dos AVCs isquémicos na população com idade inferior a 45 anos. O quadro clínico inerente à dissecção carotídea<br />
relaciona-se com a localização da lesão arterial, sendo a intracraniana a menos comum. A tríade caracterizada por Síndrome de Horner incompleto, dor<br />
no trajeto da artéria carótida e cefaleia, à qual se segu<strong>em</strong> sinais e sintomas de isqu<strong>em</strong>ia retiniana e/ou cerebral, dev<strong>em</strong> levantar a suspeita de dissecção<br />
da artéria carótida. Os fatores de risco identificados para dissecção arterial cervical inclu<strong>em</strong>, hipertensão arterial, dislipid<strong>em</strong>ia, hiperhomocisteín<strong>em</strong>ia,<br />
história de intercorrência infeciosa recente e determinadas doenças genéticas do tecido conjuntivo, contudo, história de trauma cervical constitui o<br />
fator de risco de maior relevo. Trata-se todavia, de um diagnóstico frequente <strong>em</strong> indivíduos s<strong>em</strong> fatores de risco cardiovasculares major identificados.<br />
Descrição do Caso Clínico<br />
Identificação:<br />
C.M.D., 38 anos, género f<strong>em</strong>inino<br />
Antecedentes Pessoais:<br />
#1 – Desde 2009: Queixas osteoarticulares e neurológicas<br />
referentes aos segmentos cervical e lombar da coluna cervical,<br />
intermitentes, características mecânicas, intensidade moderada.<br />
#2 – outubro de 2016: Episódio de noção de diminuição<br />
intermitente da força muscular <strong>em</strong> todos os segmentos do m<strong>em</strong>bro<br />
superior esquerdo, que motiva ida ao serviço de urgência. Teve alta<br />
clínica, s<strong>em</strong> orientação posterior<br />
Antecedentes Familiares:<br />
#1 - Pai: AVC isquémico aos 59 anos<br />
Medicação Habitual:<br />
Anticoncetivo hormonal combinado<br />
História da Doença Atual – nov<strong>em</strong>bro de 2016<br />
#S - Recorre a consulta aberta com a sua médica de família,<br />
relatando queixas de noção de diminuição da força muscular<br />
<strong>em</strong> todos os segmentos do m<strong>em</strong>bro superior esquerdo,<br />
associado a parestesias<br />
#O - s<strong>em</strong> alterações do tegumento objetiváveis<br />
- s<strong>em</strong> sinais inflamatórios aparentes<br />
- força muscular mantida e simétrica nos m<strong>em</strong>bros<br />
superiores bilateralmente<br />
- reflexos osteotendinosos vivos e simétricos nos m<strong>em</strong>bros<br />
superiores bilateralmente<br />
#A – Sinal/sintoma do braço; sinal/sintoma da mão/dedo<br />
#P – tomografia axial computorizada (TAC) da coluna cervical<br />
+ eletrocardiograma (ECG) + h<strong>em</strong>ograma + glicose +função<br />
renal + função tiroideia<br />
Meios compl<strong>em</strong>entares de diagnóstico (MCDT) não realizados<br />
História da Doença Atual – dez<strong>em</strong>bro de 2016<br />
#S – Noção de diminuição da força muscular no m<strong>em</strong>bro<br />
superior esquerdo, associado a parestesias com a mesma<br />
localização e na região occipital, cefaleia e disartria<br />
INEM<br />
#S – Manutenção dos sinais e sintomas<br />
#O – Hipostesia do m<strong>em</strong>bro superior e face à esquerda<br />
#A – Acidentes vascular cerebral?<br />
#P – TAC craneoencefálico e ECG<br />
MCDTs s<strong>em</strong> alterações valorizáveis<br />
#A – Disseção carotídea?<br />
#P – Angio-TAC<br />
Hospital de Braga – Serviço de Urgência<br />
Colaboração de Neurologia<br />
Disseção carotídea direita no bulbo cerebral com<br />
oclusão <strong>em</strong> bico de lápis<br />
Discussão<br />
O diagnóstico de disseção arterial cervical t<strong>em</strong> vindo a aumentar nos últimos anos, com o advento de um maior recurso às técnicas imagiológicas.<br />
Contudo, o seu diagnóstico é muitas vezes atrasado pelo carácter intermitente da sintomatologia e pelas características sociod<strong>em</strong>ográficas dos<br />
indivíduos geralmente afetados. É por isso reconhecida a importância de um nível de alerta maior para esta entidade nosológica, de forma a<br />
aumentar o seu diagnóstico e respetiva orientação e tratamento urgente ou <strong>em</strong>ergente.<br />
Bibliografia<br />
Blum, C.; Yaghi, S. Cervical Artery Dissection: a review of the Epid<strong>em</strong>iology, Pathophysiology, Treatment, and Outcome. Archives of Neurology (2015), vol 2; pgs 1-12<br />
Campos – Herrera, C.; Scaff, M.; Yamamoto, F.; Conforto, A. Spontaneous cervical artery dissection. Arquivos de Neuropsiquiatria (2008), vol 66; pgs 922-927<br />
Chen, J.; Zhou, X.; Li, C.; Cheung, B. Risk of Stroke due to Spontaneous Cervical Artrey Dissection. Internal Medicine (2013), vol 52; pgs 2237-2240