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Vanda Ng Godinho 1 , Vítor Martins 2 , Helena Sousa 1<br />
1 – UCSP Vouzela, Vouzela – ACeS Dão‐Lafões; 2 – USF Viriato, Viseu – ACeS Dão‐Lafões<br />
ENQUADRAMENTO<br />
O aparecimento abrupto de sintomas sistémicos e inespecíficos dificultam o diagnóstico e a abordag<strong>em</strong> terapêutica, optando‐se, muitas<br />
vezes, por uma conduta expectante até ao aparecimento de outras manifestações. A perda de força muscular generalizada pode ser o início<br />
de um s<strong>em</strong>‐fim de patologias, o que nos leva à procura de possíveis causas. Na presença de marcadores bioquímicos sugestivos, mesmo na<br />
ausência de sintomas típicos como a sudorese, palpitações e a exoftalmia, é importante ponderar a hipótese de hipertiroidismo e tratar<br />
precoc<strong>em</strong>ente uma possível t<strong>em</strong>pestade tiroideia.<br />
DESCRIÇÃO DE CASO<br />
Sexo f<strong>em</strong>inino<br />
58 anos<br />
Caucasiana<br />
Naturalidade: Viseu<br />
Nacionalidade: Portuguesa<br />
Autónoma nas AVD’s<br />
Antecedentes pessoais:<br />
Paralisia cerebral<br />
Mielopatia espondilótica<br />
cervical – operada (2009)<br />
HTA (2009)<br />
S. Vertiginoso<br />
Medicação habitual:<br />
Gabapentina 300mg id<br />
Ramipril 10mg id<br />
Indapamida 1,5mg id<br />
Beta‐histina 24mg 2id<br />
Meloxicam SOS<br />
S<strong>em</strong> antecedentes familiares relevantes<br />
Separada há 10 anos<br />
Vive com a irmã<br />
Filha vive <strong>em</strong> Lisboa, mas<br />
mantêm contato diário<br />
Muito boa relação com a<br />
filha e a irmã<br />
20/11/2016 – S. Urgência<br />
Vómitos há 2 dias, associado a perda de força<br />
muscular, com necessidade de apoio na marcha.<br />
Fez 1L SF e.v. + anti<strong>em</strong>ético e análises, que não<br />
apresentavam alterações. Teve alta no próprio dia.<br />
07/12/2016 – Consulta Externa MFR<br />
Em cadeira de rodas por incapacidade <strong>em</strong> se manter <strong>em</strong><br />
pé, mantinha vómitos alimentares (1 episódio/dia),<br />
<strong>em</strong>agrecimento de 6kg (<strong>em</strong> duas s<strong>em</strong>anas) e<br />
dificuldade <strong>em</strong> manter um discurso fluído<br />
EO: Taquicardia sinusal; clónus a nível das tibiotársicas<br />
e força muscular geral grau 2<br />
Pedidas análises sanguíneas e agendada nova consulta<br />
12/12/2016<br />
Discutido caso com Medicina Interna, optou‐se por<br />
internar a doente para estudo e controlo da crise<br />
tiroideia<br />
Repetiu análises (16/12/2016):<br />
➜ TSH 0,004 mUI/L; T4 Livre 2,7 ng/dL<br />
Ac. anti‐receptores TSH<br />
Ac. anti‐peroxidase tiroideia<br />
Ac. anti‐tiroglobulina<br />
POSITIVOS<br />
26/11/2016 – S. Urgência<br />
Queda no domicílio com traumatismo craneoencefálico.<br />
Agravamento da incapacidade de deambular,<br />
caminhava com auxílio de andarilho, s<strong>em</strong> capacidade<br />
para conduzir.<br />
Fez TC‐CE, s<strong>em</strong> alterações e teve alta com analgesia.<br />
09/12/2016 ‐ Análises:<br />
⬇⬇ TSH ‐ 0,001mUI/L<br />
⬆⬆ T4 Livre ‐ 3,7ng/dL<br />
13/12 ‐ 19/12/2016 – Internamento Medicina Interna<br />
Iniciou antitiroideus <strong>em</strong> altas doses (Tiamazol 30mg<br />
2id) e beta‐bloqueador, com boa resposta clínica e<br />
regressão dos sintomas cardíacos e neurológicos focais.<br />
Realizou ecografia da tiróide: “hipoecogenicidade e<br />
discreta heterogeneidade do parênquima, com possível<br />
tradução <strong>em</strong> processo de tiroidite”<br />
DOENÇA DE GRAVES<br />
Melhoria progressiva da sintomatologia e por insistência da utente, teve alta ao 6º dia.<br />
Teve consulta de Medicina Interna ‐ Doenças da Tiróide, com resolução total do quadro neurológico e mantém ajuste terapêutico gradual.<br />
DISCUSSÃO<br />
A instalação do quadro de hipertiroidismo pode ocorrer de forma progressiva ou insidiosa, acompanhada ou não por sintomatologia típica<br />
como a sudorese, palpitações e/ou exoftalmia. A Doença de Graves, apesar de ter uma incidência mais elevada <strong>em</strong> mulheres mais jovens,<br />
pode surgir <strong>em</strong> qualquer idade. Esta diversidade na forma de apresentação pode dificultar o seu diagnóstico. É, portanto, imperativa a<br />
identificação destas situações, de modo a tratar os sintomas at<strong>em</strong>padamente e evitar o aparecimento de complicações. Tratando numa fase<br />
precoce, uma t<strong>em</strong>pestade tiroideia pode ser totalmente revertida s<strong>em</strong> deixar sequelas na vida do doente.<br />
R. Gomes,R. Mealha,A. Fernandes,L. Oliveira,S. Lança,E. Almeida. Thyrotoxic crisis – clinical report. Rev Port Med Int, 16 (2009), pp. 31‐35; L. Wartofsky. Clinical criteria for the diagnosis of thyroid storm. Thyroid, 22 (2012),<br />
pp. 659‐660; T. Akamizu,T. Satoh,O. Isozaki,A. Suzuki,S. Wakino,T. Iburi. Diagnostic criteria, clinical features, and incidence of thyroid storm based on nationwide surveys. Thyroid, 22 (2012), pp. 661‐679; R.S. Benua,D.V.<br />
Becker,J.R. Hurley. Thyroid storm. Current Therapy in Endocrinology and Metabolism, 5th ed., pp. 75