POSTERS - Update em medicina 2017 book 1

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REFERÊNCIAS: 1. Obesity and overweight, World Health Organization, Updated June 2016 (http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs311/en/) ENQUADRAMENTO DIFICULDADES POR TRÁS DA OBESIDADE MÓRBIDA – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Sofia Oliveira Vale, Adriana Meneses, Ana Catarina Machado I USF Nova Salus Segundo a Organização Mundial de Saúde, a prevalência mundial da obesidade, entre 1980 e 2014, mais que duplicou. 1 A principal causa desta patologia é um desequilíbrio energético entre calorias consumidas e gastas. Está associada a um aumento do risco de doenças cardiovasculares, osteoarticulares, de determinadas neoplasias e consequentemente da mortalidade. Além disto, há problemas psicológicos e psicossociais que exigem atenção. É ainda importante estar alerta para o facto de a obesidade poder dificultar a valorização das queixas dos utentes e a realização do exame físico. DESCRIÇÃO DO CASO IDENTIFICAÇÃO Mulher, 55 anos, caucasiana, casada, 2 filhos, 4º ano escolaridade, natural e residente em Vila Nova de Gaia, reformada de costureira por incapacidade ANTECEDENTES PESSOAIS • IIIGIIIP • Obesidade mórbida (65 kg/m 2 ) (1986) (T82) • Laqueação tubar (1992) (W13) • Síndrome da apneia obstrutiva do sono (1995) (R04) • Balão intragástrico (2001) • Hipertensão arterial não medicada (2007) (T93) • Insuficiência respiratória (2010) (R04) • Doença osteoarticular degenerativa (L29) • Bócio multinodular tóxico e massa mediastínica compatível com tecido tiroideu, submetida a tratamento com Iodo 131 (2015) (T81) • Hipotiroidismo subclínico sequelar (2015) (T86) • Insuficiência cardíaca (2015) (K77) • Índice de Barthel 40 Aumento progressivo de peso após as gravidezes (1991) devido a uma alimentação hipercalórica, tendo atingido um índice de massa corporal de 80 kg/m 2 . Maio 2016 Início de Junho 2016 Final de Setembro 2016 Nunca mostrou motivação para perder peso, tendo recusado cirurgia bariátrica. Realizaram-se várias visitas domiciliárias por incapacidade de deslocação e por queixas inespecíficas múltiplas. • Queixas de dor abdominal associada a anorexia com perda de peso não quantificada • Ecografia abdominal (23/05): Exame de difícil realização devido ao biótipo da paciente e meteorismo intestinal. Fígado com múltiplas estruturas nodulares. Adenopatia de 3,7 cm peri-pancreática. • Requisitada TC abdominal a 01 de junho • Apresenta sempre justificações para o adiamento da realização do exame • Agravamento do quadro de anorexia • Estudo analítico (19/09): anemia normocítica/normocrómica (hemoglobina 9,5 g/dL), ferritina elevada (2000 ng/mL) e elevação de enzimas hepáticas • Acrescenta-se o pedido de TC torácica e pélvica (22/09): metastização hepática e pulmonar difusa • Referenciação para consulta de Oncologia Médica Legenda - TC: Tomografia Computorizada MEDICAÇÃO HABITUAL • Ácido fólico 5mg id • Levotiroxina 75mg id • Oxigenoterapia 1-2L/min 24h ANTECEDENTES FAMILIARES • Doente desconhece doenças de antecessores • 1º Filho: faleceu com < 1 ano de idade por meningite (1979) • 2º Filho e Filha: excesso de peso (T83) AVALIAÇÃO FAMILIAR • Família nuclear​ • Fase VII do ciclo de Duvall • Classe social baixa de Graffar • Cuidador principal: nora 07 outubro de 2016 Consulta de Oncologia • Queixas de dor lombar e agravamentos de dispneia em repouso. Escala ECOG 4. • Decidido não existirem condições para tratamento antineoplásico, nem benefício em estudo complementar. • Explicado à doente e marido que compreendem e aceitam. • Inicia esomeprazol 20mg id, lepicortinolo 5mg id, paracetamol 1g 8/8h. • Pedido de consulta de Cuidados Paliativos (CP). 12 e 14 de outubro de 2016 Domicílio MGF • Rápido agravamento do estado clínico entre as visitas domiciliárias, com dispneia (O 2 a 2L) e dor (sem analgesia: EVA 6; com paracetamol 1g: EVA 0). •Exame objetivo: SatO 2 89%; FC: 134bpm. Múltiplas pregas com maceração, com solução de continuidade ténue; úlcera de pressão trocantérica direita. • Médico de Família contacta Equipa Intra-Hospitalar de Suporte de Cuidados Paliativos (EIHSCP). •Decisão conjunta de internamento para controlo sintomático, tendo em conta o contexto biopsicossocial, e eventual referenciação para Unidade de CP. • Aumenta O 2 para 3L (SatO 2 98%) e inicia morfina 20 mg/ml 2 gotas a cada 4h. • Aguarda vaga de internamento. 19 outubro de 2016 Consulta de Cuidados Paliativos/ Internamento • Realizado internamento. • Decidido reavaliar necessidade de referenciação para Unidade de CP conforme evolução nos dias seguintes. • Falecimento no próprio dia do internamento. DISCUSSÃO Legenda - ECOG: Eastern Cooperative Oncology Group; EVA: Escala Visual Analógica da Dor; FC: Frequência Cardíaca; SatO 2: Saturação de Oxigénio A obesidade, nomeadamente a obesidade mórbida, pode trazer problemas de saúde importantes. Neste caso, apesar de uma intervenção atempada e da rápida evolução do quadro clínico da doente, fica a dúvida se, na ausência de obesidade mórbida, teria sido possível realizar um diagnóstico mais precoce e obter um desfecho diferente. Pretende-se alertar para esta patologia, uma vez que a prevenção é muito importante, mas quando instalada é também necessário ter em atenção os possíveis problemas associados. Cabe à equipa de saúde o seu seguimento, identificar as dificuldades inerentes à mudança comportamental, ter em atenção o desenvolvimento de patologias secundárias e fornecer o suporte necessário.

Consulta Programada Consulta de Neurologia 06.04.2015 21.07.2015 Consulta Programada Consulta de Pneumologia 19.05.2015 11.2015 Consulta de Neurocirurgia Internamento Pneumologia 11.2016 08.06.2015 ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA: UM DIAGNÓSTICO INTRIGANTE Sofia Rosas de Araújo 1 , José Carvalho 1 , Rita Santos 2 1. USF Infante D. Henrique, Viseu | 2. USF Montemuro, Viseu ENQUADRAMENTO A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma patologia neurodegenerativa progressiva de etiologia desconhecida, atualmente incurável. Parece não haver predisposição étnica ou racial nesta patologia, que é mais frequentemente esporádica. O pico de incidência situa-se entre os 50-75 anos, com sobrevida média após diagnóstico de 3 anos, sendo as complicações pulmonares a causa mais comum de morte. 1,2,3,4 A apresentação clínica depende do envolvimento dos neurónios motores superiores (espasticidade, parésia e hiperreflexia) e dos neurónios motores inferiores (parésia, atrofia e fasciculações). Os sintomas iniciais da ELA podem confundir-se com outras doenças da espinal medula, mononeuropatias e diversas síndromes neurológicas que podem adiar o diagnóstico correto. 1,2,3,4 DESCRIÇÃO DE CASO 72 anos de idade | Casado | Reformado há 7 anos |Antecedentes de HTA, medicada e controlada com lisinopril + hidroclorotiazida | Família nuclear | Classe VIII do ciclo de vida de Duvall | Classe média de Graffar S: Noção de alteração na marcha, de predomínio direito, que descreve como "pernas presas, com falta de força dos joelhos para baixo". Negava sintomas álgicos ou sensitivos, sem queixas a nível dos membros superiores, disfagia ou disfonia. O: Rarefação pilosa bilateral na perna, limitação na rotação interna da anca bilateralmente e aparente diminuição da força à direita. Laségue negativo, sem alterações da temperatura da pele ou das sensibilidades. A: Miopatia? P: Eletromiografia + TC coluna lombar S: Vem mostrar resultado de eletromiografia. O: Electromiografia com padrão compatível com lesão radicular lombo-sagrada bilateral, recente, de gravidade moderada, com indicação para considerar doença degenerativa motora na ausência de lesão estrutural. A: Miopatia? P: Referenciação a Neurocirurgia. Apresentava marcha em steppage. Nova eletromiografia demonstrou achados de desnervação crónica e re-inervação ativa em miótomos cervicais e lombares e fasciculação em miótomos cervicais, dorsais e lombares, sugestivos de doença neuromuscular/ELA. TC coluna lombar sem lesão estrutural. Plano: referenciação para consulta de neurologia Deambulava com auxílio de canadianas, fasciculações em ambos os quadricípetes, peitorais, deltóides e tricipitais, com atrofia das cinturas, défice na flexão e extensão dos antebraços e paraparésia flácida de predomínio direito. Plano: inicia toma de riluzol + referenciação para consultas de MFR, pneumologia e gastrenterologia. Estudo polissonográfico síndrome de apneia-hipopneia do sono ventilação não invasiva noturna Progressão do quadro (plegia dos membros superiores, dificuldade na deambulação - já em cadeira de rodas e necessidade de ventilação diurna para repouso dos músculos respiratórios) abandono fisioterapia Disartria e disfagia para sólidos e líquidos colocação de PEG. Atualmente apresenta dependência total nas atividades de vida diárias (20 pontos), segundo a Escala Modificada de Barthel. DISCUSSÃO intrigante, sem tratamento eficaz. 1 BIBLIOGRAFIA Descrita pela primeira vez nos meados do século XIX, a ELA continua a ser uma doença neurodegenerativa O atraso no diagnóstico continua a ser um problema frequente nos estágios iniciais da doença. Um elevado nível de suspeição e rápida referenciação a especialidades hospitalares, tornam-se essenciais por parte do MF nesta patologia, porque uma abordagem paliativa multidisciplinar pode prolongar a sobrevivência e atenuar o impacto sobre qualidade de vida. O tratamento com riluzol e a ventilação não-invasiva melhoram a taxa de sobrevida. O MF tem também um papel crucial no desenvolvimento de estratégias de coping nesta patologia. 5 1. Lauren BE, Leo M. Clinical features of amyotrophic lateral sclerosis and other forms of motor neuron disease. [acesso em 19 dez 2017]. Disponível em https://www.uptodate.com 2. Madureira CD. Diagnóstico Diferencial de Esclerose Lateral Amiotrófica: A propósito de um caso clínico. Covilhã. Tese [Mestrado em Medicina] – Universidade da Beira Interior; 2012 3. Amyotrophic lateral sclerosis and other motor neuron diseases. Adv Neurol 1991; 56:1 4. Rowland LP. Diagnosis of amyotrophic lateral sclerosis. J Neurol Sci 1998; 160 Suppl 1:S6. 5. Coping strategies among patients with newly diagnosed amyotrophic lateral sclerosis. J Clin Nurs, 23: 3148–3155. doi:10.1111/jocn.12557

Consulta Programada<br />

Consulta de Neurologia<br />

06.04.2015<br />

21.07.2015<br />

Consulta Programada<br />

Consulta de Pneumologia<br />

19.05.2015<br />

11.2015<br />

Consulta de Neurocirurgia<br />

Internamento Pneumologia<br />

11.2016<br />

08.06.2015<br />

ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA:<br />

UM DIAGNÓSTICO INTRIGANTE<br />

Sofia Rosas de Araújo 1 , José Carvalho 1 , Rita Santos 2<br />

1. USF Infante D. Henrique, Viseu | 2. USF Mont<strong>em</strong>uro, Viseu<br />

ENQUADRAMENTO<br />

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma patologia neurodegenerativa progressiva de etiologia<br />

desconhecida, atualmente incurável. Parece não haver predisposição étnica ou racial nesta patologia, que é mais<br />

frequent<strong>em</strong>ente esporádica. O pico de incidência situa-se entre os 50-75 anos, com sobrevida média após diagnóstico de 3<br />

anos, sendo as complicações pulmonares a causa mais comum de morte. 1,2,3,4<br />

A apresentação clínica depende do envolvimento dos neurónios motores superiores (espasticidade, parésia e hiperreflexia) e<br />

dos neurónios motores inferiores (parésia, atrofia e fasciculações). Os sintomas iniciais da ELA pod<strong>em</strong> confundir-se com outras<br />

doenças da espinal medula, mononeuropatias e diversas síndromes neurológicas que pod<strong>em</strong> adiar o diagnóstico correto. 1,2,3,4<br />

DESCRIÇÃO DE CASO<br />

72 anos de idade | Casado | Reformado há 7 anos |Antecedentes de HTA, medicada e controlada com lisinopril +<br />

hidroclorotiazida | Família nuclear | Classe VIII do ciclo de vida de Duvall | Classe média de Graffar<br />

S: Noção de alteração na marcha, de<br />

predomínio direito, que descreve como<br />

"pernas presas, com falta de força dos<br />

joelhos para baixo". Negava sintomas<br />

álgicos ou sensitivos, s<strong>em</strong> queixas a nível<br />

dos m<strong>em</strong>bros superiores, disfagia ou<br />

disfonia.<br />

O: Rarefação pilosa bilateral na perna,<br />

limitação na rotação interna da anca<br />

bilateralmente e aparente diminuição da<br />

força à direita. Laségue negativo, s<strong>em</strong><br />

alterações da t<strong>em</strong>peratura da pele ou das<br />

sensibilidades.<br />

A: Miopatia?<br />

P: Eletromiografia + TC coluna lombar<br />

S: V<strong>em</strong> mostrar resultado de<br />

eletromiografia.<br />

O: Electromiografia com padrão<br />

compatível com lesão radicular<br />

lombo-sagrada bilateral, recente, de<br />

gravidade moderada, com indicação<br />

para considerar doença<br />

degenerativa motora na ausência de<br />

lesão estrutural.<br />

A: Miopatia?<br />

P: Referenciação a Neurocirurgia.<br />

Apresentava marcha <strong>em</strong> steppage.<br />

Nova eletromiografia d<strong>em</strong>onstrou<br />

achados de desnervação crónica e<br />

re-inervação ativa <strong>em</strong> miótomos<br />

cervicais e lombares e fasciculação<br />

<strong>em</strong> miótomos cervicais, dorsais e<br />

lombares, sugestivos de doença<br />

neuromuscular/ELA. TC coluna<br />

lombar s<strong>em</strong> lesão estrutural.<br />

Plano: referenciação para consulta<br />

de neurologia<br />

Deambulava com auxílio de<br />

canadianas, fasciculações <strong>em</strong> ambos<br />

os quadricípetes, peitorais, deltóides<br />

e tricipitais, com atrofia das cinturas,<br />

défice na flexão e extensão dos<br />

antebraços e paraparésia flácida de<br />

predomínio direito.<br />

Plano: inicia toma de riluzol +<br />

referenciação para consultas de<br />

MFR, pneumologia e<br />

gastrenterologia.<br />

Estudo polissonográfico síndrome<br />

de apneia-hipopneia do sono <br />

ventilação não invasiva noturna<br />

Progressão do quadro (plegia dos<br />

m<strong>em</strong>bros superiores, dificuldade na<br />

deambulação - já <strong>em</strong> cadeira de<br />

rodas e necessidade de ventilação<br />

diurna para repouso dos músculos<br />

respiratórios) abandono<br />

fisioterapia<br />

Disartria e disfagia para sólidos e<br />

líquidos colocação de PEG.<br />

Atualmente apresenta dependência total nas atividades de vida diárias (20 pontos), segundo a Escala Modificada de Barthel.<br />

DISCUSSÃO<br />

intrigante, s<strong>em</strong> tratamento eficaz. 1<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

Descrita pela primeira vez nos meados do século XIX, a ELA continua a ser uma doença neurodegenerativa<br />

O atraso no diagnóstico continua a ser um probl<strong>em</strong>a frequente nos estágios iniciais da doença. Um elevado nível de<br />

suspeição e rápida referenciação a especialidades hospitalares, tornam-se essenciais por parte do MF nesta patologia, porque<br />

uma abordag<strong>em</strong> paliativa multidisciplinar pode prolongar a sobrevivência e atenuar o impacto sobre qualidade de vida. O<br />

tratamento com riluzol e a ventilação não-invasiva melhoram a taxa de sobrevida.<br />

O MF t<strong>em</strong> também um papel crucial no desenvolvimento de estratégias de coping nesta patologia. 5<br />

1. Lauren BE, Leo M. Clinical features of amyotrophic lateral sclerosis and other forms of motor neuron disease. [acesso <strong>em</strong> 19 dez <strong>2017</strong>]. Disponível <strong>em</strong> https://www.uptodate.com 2. Madureira CD. Diagnóstico Diferencial de<br />

Esclerose Lateral Amiotrófica: A propósito de um caso clínico. Covilhã. Tese [Mestrado <strong>em</strong> Medicina] – Universidade da Beira Interior; 2012 3. Amyotrophic lateral sclerosis and other motor neuron diseases. Adv Neurol 1991; 56:1 4.<br />

Rowland LP. Diagnosis of amyotrophic lateral sclerosis. J Neurol Sci 1998; 160 Suppl 1:S6. 5. Coping strategies among patients with newly diagnosed amyotrophic lateral sclerosis. J Clin Nurs, 23: 3148–3155. doi:10.1111/jocn.12557

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