POSTERS - Update em medicina 2017 book 1

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DIABETES NO RAMADÃO Eliézer Cerdas 1 , Sara Fernandez 1, , Nivalda Pereira 2 1 Internos de MGF, UCSP Quarteira, ACeS Central, ARS Algarve; 2 Interna de MGF, Centro de Saúde do Porto da Cruz, SERARAM, EPE INTRODUÇÃO A Medicina está em constante evolução e não fica aquém do fenómeno de globalização que se tem vindo a verificar, com grandes fluxos migratórios associados. A presença de doentes muçulmanos diabéticos em Portugal é uma realidade atual e a gestão destes casos durante o Ramadão torna-se um verdadeiro desafio não só pelas diferenças culturais mas também pelo difícil controlo glicémico durante esse mês. Ramadão 9º mês do calendário Islâmico Duração de 1 mês Restrição alimentar, hídrica e medicamentosa Oportunidade para elevar a espiritualidade e para purificar a mente e o corpo 15 minutos antes do amanhecer até 75 minutos antes do pôr do sol Complicações: hipoglicémia, desidratação, hiperglicémia OBJECTIVO Estruturar a abordagem terapêutica do doente diabético a fazer o Ramadão. . METODOLOGIA Pesquisa bibliográfica restrita a artigos publicados no ano de 2016 na base de dados da PubMed no dia 8 de novembro de 2016 com os termos Diabetes e Ramadan (n=44). Foram selecionados apenas artigos de revisões sistemáticas sobre a abordagem terapêutica do doente diabético que cumpre o Ramadão. . RESULTADOS Tratamento Dieta + exercício apenas Biguanidas (metformina) Modificações durante o Ramadão Distribuir cada refeição em 2-3 frações, assegurar um adequado aporte hídrico e modificar a intensidade e o momento do exercício. Libertação imediata: 2/3 da dose diária com a refeição após pôr do sol + 1/3 da dose antes da refeição antes do amanhecer. Libertação prolongada: dose total diária com a primeira refeição após o pôr do sol. Tiazolidinediones Sulfunilureias Secretagogos insulina, inibidores da glucosidase, i-DPP4 e análogos GLP 1 Inibidores SGLT2 Insulina Sem alteração necessária. OD: dose total diária com a primeira refeição após o pôr do sol. Ação curta: dose total diária sem alteração. 1 dose antes do nascer do sol e 1 dose depois do pôr do sol. Ação longa: deverão ser evitadas. Sem alteração necessária. Sem estudos em períodos de jejum. Não recomendado. Basal: diminuir 20% dose e administrar depois do pôr do sol. Rápida: omitir a dose habitual do almoço, a dose do pequeno almoço administrar com a primeira refeição após o pôr do sol e administrar ½ da dose do jantar com a refeição antes do nascer do sol. Mista: dose da manhã administrada ao pôr do sol e ½ da dose da noite ao nascer do sol. Nestes doentes, os princípios básicos no controlo da diabetes tais como as refeições fracionadas e nutricionalmente adequadas ao longo do dia, a prática de exercício físico e o uso de medicação, com atenção às hipo/hiperglicemias, têm de ser revistos e ajustados e, eventualmente, poderá ser necessário a introdução de outras estratégias adaptativas. A nível farmacológico, as drogas de eleição pertencem à classe das incretinas (análogos da GLP1 e inibidores da DPP4) uma vez que apresentam bom controlo glicémico, bom controlo ponderal e segurança ao nível de efeitos adversos. DISCUSSÃO/CONCLUSÃO A ciência e a religião, dois pilares importantes na sociedade atual, por vezes estão em conflito. O Médico de Família deve incluir uma avaliação holística de cada utente e, em particular nos muçulmanos diabéticos, preparar o Ramadão com uma abordagem multifatorial preventiva, terapêutica e de seguimento. Só assim será possível manter o bem-estar físico, mental e espiritual destes doentes BIBLIOGRAFIA 1 – Almalki MH and Alshahrani F (2016) Options for Controlling Type 2 Diabetes during Ramadan. Front. Endocrinol. 7:32. doi: 10.3389/fendo.2016.00032; 2 – Sifri SA, Rizvi K, Filling the Knowledge Gap in Diabetes Management During Ramadan: The evolving of Trial Evidence Diabetes Ther (2016) 7:221–240 DOI 10.1007/s13300-016-0168-9; 3- Jawad F, Kalra S, Ramadan and Diabetes: Holistic trail Design, J Pak Med Assoc, Vol.66, No.7, July2016; 4 – Alsairafi ZK, Taylor KMG, Smith FJ, Alattar AT, Patients’ management of type 2 Diabetes in Middle Easter countries: review of studies, Dove press Journal, 10 june 2016. maio de 2017

Ciclo card. Local Irrad Origem Idade Abordagem do Sopro Cardíaco em Idade Pediátrica pelo Médico de Família Tatiana Clemêncio USF Santa Joana Filipe Pereira USF Costa de Prata ACeS Baixo Vouga Introdução O Sopro cardíaco constitui um diagnóstico muito frequente na infância, estimando-se que cerca de 90% das crianças apresentarão esta alteração auscultatória em alguma altura. Destes, menos de 1% corresponderão a uma cardiopatia congénita (tabela 1) – tipo mais comum de alteração congénita, com uma incidência de 4-50/1000 nados-vivos. O médico de família (MF) é frequentemente o primeiro profissional a identificar um sopro cardíaco em idade pediátrica. De facto, 50-70% das crianças irão ter um sopro cardíaco identificado numa consulta de vigilância. Assim, sempre que um sopro é detetado, a capacidade do clínico em discernir corretamente entre a sua etiologia benigna ou patológica é crucial, tanto para os cuidados a prestar ao doente como à informação a veicular à família. Foi objetivo deste trabalho proceder a uma revisão clássica da abordagem de um sopro cardíaco em idade pediátrica. Sopro Criança Prevalência 0,6–4,2% ~90% Etiologia patológica 84% 0,1–0,2% Tabela 1: Prevalência do sopro cardíaco e respetiva etiologia patológica no recém-nascido e na criança. Metodologia Foi realizada uma pesquisa na Pubmed, em dezembro de 2016, utilizando os termos MeSH “heart murmurs” AND “child”. Selecionaram-se artigos publicados nos últimos 10 anos, que consistissem em revisões (clássicas ou sistemáticas) ou guidelines. Foram igualmente consultados livros de texto base. Resultados O sopro cardíaco inocente tem um pico máximo de incidência entre os 3-7 anos, sendo sete os mais comuns: sopro de Still, sopro expulsivo pulmonar, sopro carotídeo/supraclavicular, sopro sistólico aórtico, sopro da estenose pulmonar periférica fisiológica transitória, zumbido venoso e sopro mamário (tabela 2). Na abordagem clínica de um sopro cardíaco, é fundamental uma anamnese cuidada: presença de sintomatologia de patologia cardíaca, história obstétrica e perinatal (mais relevante nos lactentes), antecedentes patológicos, crescimento e desenvolvimento, hábitos (nomeadamente desportivos) e antecedentes familiares relevantes. Deverá ser realizado um exame físico global, com caracterização detalhada do sopro, referindo a sua localização, posição relativa no ciclo cardíaco, duração, intensidade (escala de Levine), frequência/tom, qualidade e radiação. Sopro inocente Still VE Ao Cordas Idade escolar ProtoS. (musical) Ápice e 4º EIC BE esq --- déb. card. E. Físico Dec. dorsal Valsalva Ortost. Sentado Características: Protossistólico, curta duração, baixa intensidade, qualidade musical / vibratória, altera com mudanças posturais/manobras Ejeção pulmonar Trato de saída do VD 8-14 anos Escoliose ProtomesoS. (rude) 2-3º EIC BE esq Axilar e dorsal déb. card. E. Físico Dec. dorsal Valsalva Ortost. Sistólico aórtico Trato de saída do VE; Aorta Crianças + velhas, Adultos MesoS. (rude) 2º EIC BE dto Cervical déb. card. --- Carotídeo/ supraclav. Arco aórtico com braquicef. Adolesc. Adulto jovem ProtomesoS. (rude) Fossa supraclav. Tórax sup. Cervical frémito Sentado E. físico Hiperextensão ombros Est. pulm. periférica Artéria pulmonar Premat. Lactentes até 6m MesoS. 2-3º EIC esq e dto Axilar e dorsal --- --- Zumbido venoso Conexão v. jug. com veia cava 3-8 anos Contínuo (musical) Base do pescoço Infraclav. e 2ºEIC dto Inspiração Ortost. Comp. v. jug., flexão ipsil. pesc. Mamário Recémnascido Vascularização mama Grávidas Lactação Sistólico ou contínuo Sobre a mama --- --- Pressão sobre o local Tabela 2: Principais sopros cardíacos inocentes em idade pediátrica. Legenda: est. pulm.- estenose pulmonar, VE e VD- ventrículo esquerdo e direito, braquicef.- braquicefálicas, v. jug.- veias jugulares, adolesc.- adolescente, premat.- prematuro, card.- cardíaco, protoS.- protossistólico, mesoS.- mesossistólico, EIC- espaço intercostal, BEbordo esternal, esq- esquerdo, dto- direito, supraclavic.- supraclavicular, sup.- superior, irrad.- irradiação, infraclav.- infraclavicular, déb.- débito e. físico- exercício físico, dec.- decúbito, ortost.- ortostatismo, comp.- compressão, ipsil.- ipsilateral, pesc.- pescoço. Características do sopro 1. Contínuo (se excluído zumbido venoso e sopro mamário), diastólico, holossistólico ou sistólico tardio 2. Intensidade ≥ grau 3 3. Intensidade máx. no bordo superior esquerdo esternal 4. Qualidade rude 5. Alterações de S2 (hipo ou hiperfonese, desdobramento fixo ou paradoxal, ou ausência de desdobramento) 6. Clique sistólico, S3 e S4, rodado diastólico 7. Audível em todo o precórdio, com irradiação 8. Aumento da intensidade com o ortostatismo História clínica 9. Má progressão ponderal 10. Antecedentes pessoais ou familiares relevantes 11. Sintomatologia associada sugestiva de cardiopatia 12. Alterações ao exame objetivo sugestivos de cardiopatia Dúvida diagnóstica de um sopro inocente Estudo complementar Sinais de Alarme A radiografia torácica e a eletrocardiografia apresentam limitações no diagnóstico etiológico. O ecocardiograma é o gold-standard no diagnóstico definitivo, estando recomendado na avaliação de um sopro potencialmente patológico e de sopro em idade neonatal. Discussão Sopro cardíaco O MF é frequentemente o primeiro profissional a identificar um idensopro cardíaco em idade pediátrica, sendo essencial que desenvolva a competência de distinguir um sopro sopro inocente de um patológico. Este diagnóstico pode ser feito se 4 critérios estiverem presentes: criança assintomática, sem antecedentes pessoais ou familiares relacionados com risco aumentado de cardiopatia, sopro de características inocentes e ausência de outras alterações ao exame objetivo. O sopro cardíaco inocente tem um excelente prognóstico, ocupando o MF uma posição privilegiada no esclarecimento da sua benignidade à família. 2A Desaparece ortostatismo Não Não Sim Tranquilizar | Vigiar Sim Referências (1) Chantepie. Souffle cardiaque chez l’enfant asymptomatic: quand demander un avis cardiologique?. Archives de Pédiatrie. 2015. (2) Frank. Evaluation and Management of Heart Murmurs in Children. American Family Physician. 2011. (3) Marcdante. Nelson Essentials of Pediatrics. Elsevier. 7ª ed. 2015. (4) Martins. O Sopro num Coração Normal. Revista Portuguesa de Cardiologia. 2008. (5) Menashe. Heart Murmurs. Pediatrics in Review. 2007. (6) Oliveira. Sopro Cardíaco Pediátrico: estudo de série de casos. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. 2013. (7) Oliveira. Blackbook Pediatria. Editora Black Book. 3ª ed. 2005. (8) Wierwillem. Pediatric Heart Murmus – evaluation and management in primary care. The Nurse Practitioner. 2011.

DIABETES NO RAMADÃO<br />

Eliézer Cerdas 1 , Sara Fernandez 1, , Nivalda Pereira 2<br />

1<br />

Internos de MGF, UCSP Quarteira, ACeS Central, ARS Algarve; 2 Interna de MGF, Centro de Saúde do Porto da Cruz, SERARAM, EPE<br />

INTRODUÇÃO<br />

A Medicina está <strong>em</strong> constante evolução e não fica aquém do fenómeno de globalização que se t<strong>em</strong> vindo a verificar, com grandes fluxos<br />

migratórios associados. A presença de doentes muçulmanos diabéticos <strong>em</strong> Portugal é uma realidade atual e a gestão destes casos durante o<br />

Ramadão torna-se um verdadeiro desafio não só pelas diferenças culturais mas também pelo difícil controlo glicémico durante esse mês.<br />

Ramadão<br />

9º mês do calendário<br />

Islâmico<br />

Duração de 1<br />

mês<br />

Restrição alimentar,<br />

hídrica e<br />

medicamentosa<br />

Oportunidade para elevar a<br />

espiritualidade e para<br />

purificar a mente e o corpo<br />

15 minutos antes do<br />

amanhecer até 75 minutos<br />

antes do pôr do sol<br />

Complicações:<br />

hipoglicémia,<br />

desidratação,<br />

hiperglicémia<br />

OBJECTIVO<br />

Estruturar a abordag<strong>em</strong> terapêutica do doente diabético a fazer o Ramadão.<br />

.<br />

METODOLOGIA<br />

Pesquisa bibliográfica restrita a artigos publicados no ano de 2016 na base de dados da PubMed no dia 8 de nov<strong>em</strong>bro de 2016 com os termos<br />

Diabetes e Ramadan (n=44). Foram selecionados apenas artigos de revisões sist<strong>em</strong>áticas sobre a abordag<strong>em</strong> terapêutica do doente diabético<br />

que cumpre o Ramadão.<br />

.<br />

RESULTADOS<br />

Tratamento<br />

Dieta + exercício apenas<br />

Biguanidas (metformina)<br />

Modificações durante o Ramadão<br />

Distribuir cada refeição <strong>em</strong> 2-3 frações, assegurar um adequado aporte hídrico e modificar a intensidade e o momento do<br />

exercício.<br />

Libertação imediata: 2/3 da dose diária com a refeição após pôr do sol + 1/3 da dose antes da refeição antes do amanhecer.<br />

Libertação prolongada: dose total diária com a primeira refeição após o pôr do sol.<br />

Tiazolidinediones<br />

Sulfunilureias<br />

Secretagogos insulina,<br />

inibidores da glucosidase,<br />

i-DPP4 e análogos GLP 1<br />

Inibidores SGLT2<br />

Insulina<br />

S<strong>em</strong> alteração necessária.<br />

OD: dose total diária com a primeira refeição após o pôr do sol.<br />

Ação curta: dose total diária s<strong>em</strong> alteração. 1 dose antes do nascer do sol e 1 dose depois do pôr do sol.<br />

Ação longa: deverão ser evitadas.<br />

S<strong>em</strong> alteração necessária.<br />

S<strong>em</strong> estudos <strong>em</strong> períodos de jejum. Não recomendado.<br />

Basal: diminuir 20% dose e administrar depois do pôr do sol.<br />

Rápida: omitir a dose habitual do almoço, a dose do pequeno almoço administrar com a primeira refeição após o pôr do sol e<br />

administrar ½ da dose do jantar com a refeição antes do nascer do sol.<br />

Mista: dose da manhã administrada ao pôr do sol e ½ da dose da noite ao nascer do sol.<br />

Nestes doentes, os princípios básicos no controlo da diabetes tais como as refeições fracionadas e nutricionalmente adequadas ao longo do dia,<br />

a prática de exercício físico e o uso de medicação, com atenção às hipo/hiperglic<strong>em</strong>ias, têm de ser revistos e ajustados e, eventualmente, poderá<br />

ser necessário a introdução de outras estratégias adaptativas.<br />

A nível farmacológico, as drogas de eleição pertenc<strong>em</strong> à classe das incretinas (análogos da GLP1 e inibidores da DPP4) uma vez que apresentam<br />

bom controlo glicémico, bom controlo ponderal e segurança ao nível de efeitos adversos.<br />

DISCUSSÃO/CONCLUSÃO<br />

A ciência e a religião, dois pilares importantes na sociedade atual, por vezes estão <strong>em</strong> conflito. O Médico de Família deve incluir uma avaliação<br />

holística de cada utente e, <strong>em</strong> particular nos muçulmanos diabéticos, preparar o Ramadão com uma abordag<strong>em</strong> multifatorial preventiva,<br />

terapêutica e de seguimento. Só assim será possível manter o b<strong>em</strong>-estar físico, mental e espiritual destes doentes<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

1 – Almalki MH and Alshahrani F (2016) Options for Controlling Type 2 Diabetes during Ramadan. Front. Endocrinol. 7:32. doi: 10.3389/fendo.2016.00032; 2 – Sifri SA, Rizvi K, Filling the<br />

Knowledge Gap in Diabetes Manag<strong>em</strong>ent During Ramadan: The evolving of Trial Evidence Diabetes Ther (2016) 7:221–240 DOI 10.1007/s13300-016-0168-9; 3- Jawad F, Kalra S, Ramadan<br />

and Diabetes: Holistic trail Design, J Pak Med Assoc, Vol.66, No.7, July2016; 4 – Alsairafi ZK, Taylor KMG, Smith FJ, Alattar AT, Patients’ manag<strong>em</strong>ent of type 2 Diabetes in Middle Easter<br />

countries: review of studies, Dove press Journal, 10 june 2016.<br />

maio de <strong>2017</strong>

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