11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

como algo <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> normativida<strong>de</strong>, ou então, o princípio da igualda<strong>de</strong> se esfumaça<br />

em uma abstração irritante em um sistema indiferente à imensa maioria <strong>de</strong> casos concretos<br />

idênticos ou semelhantes cotidianamente julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maneira diferente (103) .<br />

Indiscutivelmente, existe uma tendência contemporânea <strong>de</strong> aproximação<br />

entre os sistemas da common law e civil law, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se a força criativa <strong>do</strong><br />

direito pelos Tribunais Superiores, que são as Cortes encarregadas <strong>de</strong> dar a palavra<br />

final sobre a interpretação da lei, e aplicar o resulta<strong>do</strong> da interpretação para casos<br />

idênticos, como forma <strong>de</strong> racionalizar a ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Tribunais, e impulsionar a<br />

aplicação isonômica da norma para to<strong>do</strong>s que estão na mesma situação jurídica.<br />

O Código <strong>de</strong> Processo Civil utiliza a expressão prece<strong>de</strong>ntes quan<strong>do</strong> dispõe sobre<br />

a jurisprudência <strong>do</strong>s Tribunais. Nesse senti<strong>do</strong>, dispõe o art. 926 <strong>do</strong> CPC, “in verbis”:<br />

“Os tribunais <strong>de</strong>vem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.<br />

§ 1 o Na forma estabelecida e segun<strong>do</strong> os pressupostos fixa<strong>do</strong>s no regimento interno, os<br />

tribunais editarão enuncia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> súmula correspon<strong>de</strong>ntes a sua jurisprudência <strong>do</strong>minante.<br />

§ 2 o Ao editar enuncia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> súmula, os tribunais <strong>de</strong>vem ater-se às circunstâncias fáticas<br />

<strong>do</strong>s prece<strong>de</strong>ntes que motivaram sua criação.”<br />

O prece<strong>de</strong>nte não é o resumo <strong>do</strong> julgamento ou a conclusão da <strong>de</strong>cisão, mas<br />

a tese extraída <strong>do</strong> julgamento, que em razão <strong>de</strong> suas peculiarida<strong>de</strong>s, importância<br />

e generalida<strong>de</strong>, possa ser aplicada em outros casos análogos. É a chamada razão<br />

<strong>de</strong>terminante da <strong>de</strong>cisão ou ratio <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>ndi. Por isso, to<strong>do</strong> prece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>corrente<br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão judicial.<br />

Somente a interpretação jurídica que se extrai <strong>do</strong> enquadramento <strong>do</strong>s fatos ao<br />

regramento legal, po<strong>de</strong> ser objeto <strong>do</strong> prece<strong>de</strong>nte judicial, uma vez que as controvérsias<br />

fáticas <strong>de</strong> cada <strong>de</strong>manda são únicas e <strong>de</strong>safiam um único julgamento, cuja<br />

tese não po<strong>de</strong> ser transportada para outras <strong>de</strong>mandas.<br />

Como sustenta Hermes Zaneti Jr. (104) :<br />

“Prece<strong>de</strong>ntes judiciais não se confun<strong>de</strong>m com direito jurispru<strong>de</strong>ncial<br />

entendi<strong>do</strong> como repetição <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões reiteradas, por mais que este direito<br />

possa ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> influente ou persuasivo <strong>de</strong> fato. Os prece<strong>de</strong>ntes<br />

judiciais, como enten<strong>de</strong>mos neste trabalho, consistem no resulta<strong>do</strong> da<br />

<strong>de</strong>nsificação <strong>de</strong> normas estabelecidas a partir da compreensão <strong>de</strong> um caso<br />

e suas circunstâncias fáticas e jurídicas. No momento da aplicação, <strong>de</strong>ste<br />

caso-proce<strong>de</strong>nte, analisa<strong>do</strong> no caso-atual, se extrai a ratio <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>ndi ou<br />

holding como o core <strong>do</strong> proce<strong>de</strong>nte. Trata-se, portanto, da solução jurídica<br />

explicitada argumentativamente pelo intérprete a partir da unida<strong>de</strong> fático-<br />

-jurídica <strong>do</strong> caso-prece<strong>de</strong>nte (material facts e a solução jurídica dada para<br />

o caso-atual). Por esta razão, não se confu<strong>de</strong>m com a jurisprudência, pois<br />

(103) MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso <strong>de</strong> Processo Civil.<br />

vol. 2. São Paulo: RT, 2015. p. 605-606.<br />

(104) O valor vinculante <strong>do</strong>s prece<strong>de</strong>ntes. Salva<strong>do</strong>r: JusPodivm, 2015. p. 324-325.<br />

936 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!