11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacamos a visão <strong>de</strong> Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz<br />

Arenhart (17) :<br />

“Quan<strong>do</strong> a Constituição Fe<strong>de</strong>ral afirma que estão assegura<strong>do</strong>s o contraditório<br />

e a ampla <strong>de</strong>fesa, com os recursos a ela inerentes, ela não está<br />

dizen<strong>do</strong> que toda e qualquer <strong>de</strong>manda em que é assegurada a ampla <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>de</strong>va sujeitar-se a uma revisão ou a um duplo juízo. Os recursos nem<br />

sempre são inerentes à ampla <strong>de</strong>fesa. Nos casos em que não é razoável<br />

a previsão <strong>de</strong> um duplo juízo sobre o mérito, como nas hipóteses das<br />

causas <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> ‘menor complexida<strong>de</strong>’ — que sofrem os efeitos<br />

benéficos da oralida<strong>de</strong> —, ou em outras, assim não <strong>de</strong>finidas, mas que<br />

também possam justificar, racionalmente, uma única <strong>de</strong>cisão, não há<br />

inconstitucionalida<strong>de</strong> na dispensa <strong>do</strong> duplo juízo.”<br />

De outro la<strong>do</strong>, a interpretação da Lei processual não po<strong>de</strong> estar divorciada<br />

<strong>do</strong> texto constitucional, pois atualmente já se reconhece na <strong>do</strong>utrina um chama<strong>do</strong><br />

“direito processual constitucional” (18) que irradia seus princípios para to<strong>do</strong>s os<br />

ramos da ciência processual e, portanto, ao interpretar o <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong>, <strong>de</strong>ve o<br />

intérprete realizar a chamada interpretação em conformida<strong>de</strong> com a Constituição<br />

Fe<strong>de</strong>ral, o que significa ler o texto constitucional ou infraconstitucional com os<br />

olhos da Constituição e principalmente seus princípios fundamentais.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, ensina J. J. Gomes Canotilho: “O princípio da interpretação das<br />

leis em conformida<strong>de</strong> com a Constituição é fundamentalmente um princípio <strong>de</strong><br />

controlo (tem como função assegurar a constitucionalida<strong>de</strong> da interpretação) e ganha<br />

relevância autónoma quan<strong>do</strong> a utilização <strong>do</strong>s vários elementos interpretativos não<br />

permite a obtenção <strong>de</strong> um senti<strong>do</strong> inequívoco <strong>de</strong>ntre os vários significa<strong>do</strong>s da norma.<br />

Daí a sua formulação básica: no caso <strong>de</strong> normas polissêmicas ou plurissignificativas<br />

<strong>de</strong>ve dar-se preferência à interpretação que lhe dê um senti<strong>do</strong> em conformida<strong>de</strong><br />

com a Constituição. Esta formulação comporta várias dimensões: 1) o princípio da<br />

prevalência da Constituição impõe que, <strong>de</strong>ntre as várias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação,<br />

só <strong>de</strong>ve escolher-se uma interpretação não contrária ao texto e programa da<br />

norma ou normas constitucionais; 2) o princípio da conservação <strong>de</strong> normas afirma<br />

que uma norma não <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>clarada inconstitucional quan<strong>do</strong>, observa<strong>do</strong>s os<br />

fins da norma, ela po<strong>de</strong> ser interpretada em conformida<strong>de</strong> com a Constituição; 3) o<br />

princípio da exclusão da interpretação conforme a Constituição, mas contra legem,<br />

impõe que o aplica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma norma não po<strong>de</strong> contrariar a letra e o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

norma através <strong>de</strong> uma interpretação conforme a Constituição, mesmo que através<br />

<strong>de</strong>sta interpretação consiga uma concordância entre a norma infraconstitucional e<br />

as normas constitucionais. Quan<strong>do</strong> estiverem em causa duas ou mais interpretações<br />

— todas em conformida<strong>de</strong> com a Constituição —, <strong>de</strong>verá procurar-se a interpretação<br />

consi<strong>de</strong>rada como a melhor orientada para a Constituição.”<br />

(17) Op. cit., p. 494.<br />

(18) Alguns autores preferem a expressão CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO PROCESSO.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 863

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!