11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Como bem alerta Wagner D. Giglio (157) , “convém advertir que o termo amigo, na<br />

linguagem vulgar, é <strong>de</strong> uso muito comum e, por isso, <strong>de</strong>svaloriza<strong>do</strong>. Juridicamente,<br />

só a amiza<strong>de</strong> íntima impe<strong>de</strong> o testemunho. Ora, numa empresa, on<strong>de</strong> o contrato<br />

entre o pessoal é diário e estável, durante longo tempo, to<strong>do</strong>s se dizem amigos, no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> conheci<strong>do</strong>s.”<br />

No aspecto, vale <strong>de</strong>stacar a seguinte ementa, que enfrenta a questão <strong>de</strong> forma<br />

precisa e didática:<br />

“TESTEMUNHA CONTRADITADA SOB ALEGAÇÃO DE MANTER AMIZADE ÍNTIMA<br />

COM O RECLAMANTE. SUSPEIÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. Ao ser contraditada<br />

sob alegação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> íntima com o autor, informou a testemunha que já o conhecia<br />

porque trabalharam juntos em outra loja, confirman<strong>do</strong> o fato <strong>de</strong> que convi<strong>do</strong>u-o para laborar<br />

na reclamada. Entretanto, negou a existência <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> fora <strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong><br />

sorte que restou rejeitada a contradita por ausência <strong>de</strong> comprovação da alegada amiza<strong>de</strong><br />

íntima. O art. 829 da CLT dispõe que: ‘A testemunha que for parente até o terceiro grau<br />

civil, amigo íntimo ou inimigo <strong>de</strong> qualquer das partes, não prestará compromisso, e seu<br />

<strong>de</strong>poimento valerá como simples informação’. Preceitua, ainda, o art. 405, § 3 o , III, <strong>do</strong> CPC<br />

que: ‘[...] § 3 o São suspeitos: [...] III – o inimigo capital da parte, ou o seu amigo íntimo;<br />

[...]’. O Dicionário Prático da Língua Portuguesa Michaelis <strong>de</strong>fine ‘íntimo’ como aquilo que<br />

é ‘muito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, profun<strong>do</strong>, da alma, <strong>do</strong> coração, <strong>do</strong>méstico, familiar, a parte mais interna,<br />

o âmago’. Destarte, <strong>do</strong> contexto supra<strong>de</strong>scrito, não há como concluir pela comprovação<br />

da ocorrência <strong>de</strong> convívio social familiar, <strong>do</strong>méstico, da testemunha com o reclamante,<br />

pois não trouxe a recorrente elementos firmes para caracterizar a alegada amiza<strong>de</strong> íntima e<br />

consequente suspeição da testemunha em questão, com falta <strong>de</strong> isenção <strong>de</strong> ânimo para ser<br />

ouvida em Juízo.” (TRT/SP – 01769003020095020036 (01769200903602000) – RO – Ac.<br />

12 a T. – 20110603553 – rel. Marcelo Freire Gonçalves - DOE 20.5.2011)<br />

Quantos às amiza<strong>de</strong>s em re<strong>de</strong>s sociais, principalmente no facebook, não nos<br />

parece que ela seja suficiente para configurar a amiza<strong>de</strong> íntima, já que esse tipo <strong>de</strong><br />

relacionamento é informal e instantâneo. Entretanto, conforme o caso concreto,<br />

po<strong>de</strong> configurar início <strong>de</strong> prova da amiza<strong>de</strong>.<br />

A jurisprudência tem se pronuncia<strong>do</strong> a respeito, conforme a seguinte <strong>de</strong>cisão:<br />

“EMENTA: TESTEMUNHA CONTRADITADA. AMIZADE ÍNTIMA. RELACIONAMENTO<br />

NAS REDES SOCIAIS. As amiza<strong>de</strong>s fixadas no âmbito das re<strong>de</strong>s sociais criadas na internet não se<br />

afiguram no relacionamento humano como tal, senão sen<strong>do</strong> meras superficialida<strong>de</strong>s, próprias<br />

<strong>do</strong>s “conheci<strong>do</strong>s”, pois a nomenclatura “amigo” a<strong>do</strong>tada pelas re<strong>de</strong>s não se confun<strong>de</strong> com<br />

a afetivida<strong>de</strong> própria <strong>do</strong> relacionamento humano. Assim, o termo “amigo” inseri<strong>do</strong> nas<br />

páginas eletrônicas das re<strong>de</strong>s sociais não se coaduna com o preceito <strong>de</strong> “amiza<strong>de</strong> íntima”<br />

<strong>de</strong> que trata o art. 829 da CLT. Contradita não configurada.” (TRT/SP 8 a Turma – Processo<br />

TRT/SP n. 0000458-36.2011.5.02.0071 – Acórdão n.: 20130920376. Rel. Celso Ricar<strong>do</strong><br />

Peel Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Oliveira. DOE/SP: 2.9.2013)<br />

barzinhos, ou outros locais assemelha<strong>do</strong>s, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta forma a existência <strong>de</strong> estreitos laços <strong>de</strong><br />

amiza<strong>de</strong>, afigura-se regular e justificável o acolhimento da contradita lançada, porque <strong>de</strong>monstrada a suspeição<br />

da referida testemunha por faltar-lhe a necessária isenção <strong>de</strong> ânimo, inconfundível com a hipótese <strong>de</strong><br />

mera cordialida<strong>de</strong> mantida entre colegas <strong>de</strong> trabalho. (TRT/SP – 00415200407802006 – RO – Ac. 4 a T. –<br />

20060715060 – rel. Paulo Augusto Câmara – DOE 22.9.2006).<br />

(157) GIGLIO, Wagner D. <strong>Direito</strong> processual <strong>do</strong> trabalho. 8. ed. São Paulo: LTr, 1995. p. 257.<br />

760 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!