11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ousamos divergir da referida Súmula, pois a confissão ficta não se confun<strong>de</strong><br />

com a real. O art. 443, I, <strong>do</strong> CPC, no nosso sentir, refere-se à confissão real, pois a<br />

confissão ficta acarreta uma mera presunção. Além disso, é direito da parte preten<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>rrubar os efeitos <strong>de</strong>correntes da confissão ficta com a produção <strong>de</strong> provas, tanto<br />

a oral como a <strong>do</strong>cumental. De outro la<strong>do</strong>, o magistra<strong>do</strong>, como diretor <strong>do</strong> processo<br />

e <strong>de</strong>stinatário final da prova, caso já esteja convenci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fatos da causa, diante<br />

<strong>do</strong> conjunto probatório, po<strong>de</strong>rá in<strong>de</strong>ferir a produção <strong>de</strong> provas, com suporte no<br />

art. 765 da CLT, mas tal in<strong>de</strong>ferimento <strong>de</strong>ve ser fundamenta<strong>do</strong>, com natureza <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão interlocutória, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a parte prejudicada questionar a correção <strong>do</strong> procedimento<br />

em eventual recurso.<br />

Como bem adverte Francisco Antonio <strong>de</strong> Oliveira (133) : “O entendimento ora<br />

esposa<strong>do</strong> transforma a confissão ficta em real, o que não está autoriza<strong>do</strong> pela lei.<br />

On<strong>de</strong> a lei não restringe, <strong>de</strong>feso ao intérprete fazê-lo, tem a parte relativamente<br />

confessa o direito <strong>de</strong> ouvir, inclusive, <strong>de</strong>poimento da parte adversa que po<strong>de</strong>rá<br />

confessar o fato <strong>de</strong> forma real (confissão real) e <strong>de</strong>sprestigiar a ficta confessio (<strong>de</strong><br />

valor relativo); <strong>de</strong>ve-se dar ênfase à busca da verda<strong>de</strong> real. A busca da celerida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve conviver em harmonia com o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> processo legal. [...] A confissão, <strong>de</strong> que<br />

falam os arts. 334 e 400 <strong>do</strong> CPC, diz respeito à confissão real. O juiz somente não<br />

incorrerá em cerceamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa se a dispensa da produção <strong>de</strong> outras provas<br />

era para confrontar prova <strong>do</strong>cumental pré-constituída. De resto, ao julga<strong>do</strong>r cabe<br />

o ‘livre convencimento’ (art. 131 <strong>do</strong> CPC) em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> confissão relativa.”<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacamos as seguintes ementas:<br />

“Ficta confessio. Valoração <strong>do</strong> conjunto probatório <strong>do</strong> julga<strong>do</strong>. A pena <strong>de</strong> confissão faz<br />

presumir verda<strong>de</strong>iros os fatos alega<strong>do</strong>s pela parte contrária <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não elidi<strong>do</strong>s pelo<br />

conjunto probatório. É a aplicação <strong>do</strong> princípio da busca da verda<strong>de</strong> real, combina<strong>do</strong> com<br />

o princípio <strong>do</strong> dispositivo. Recurso a que se dá parcial provimento.” (TRT/SP 02990227134<br />

RO, Ac. 9 a T. 20000186672, rel. Juiz Antônio José Teixeira <strong>de</strong> Carvalho, DOE 16.5.00)<br />

“Confissão ficta. Po<strong>de</strong> ser elidida por qualquer prova em direito admitida, testemunhal,<br />

<strong>do</strong>cumental ou <strong>de</strong>poimento da parte adversa, não se limitan<strong>do</strong> aos <strong>do</strong>cumentos existentes<br />

nos autos. Entendimento <strong>de</strong> que a ficta confessio não ren<strong>de</strong> tributos a outras provas transforma<br />

a simples ficção em verda<strong>de</strong> absoluta, se ressente <strong>de</strong> razoabilida<strong>de</strong> e atenta contra<br />

o princípio da hermenêutica.” (TRT/SP, 02990303191 RO – Ac. 5 a T. – 2000307917 – rel.<br />

Francisco Antonio <strong>de</strong> Oliveira – DOE 7.7.00)<br />

Em boa hora, o Tribunal Superior <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> acrescentou o inciso III à Súmula<br />

n. 74, fixan<strong>do</strong> entendimento <strong>de</strong> que a confissão ficta não inibe os po<strong>de</strong>res instrutórios<br />

<strong>do</strong> Juiz <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> em busca da verda<strong>de</strong> real e da justiça da <strong>de</strong>cisão, conforme<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos anteriormente, não obstante tenha manti<strong>do</strong> o entendimento no senti<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> que a parte prejudicada pela confissão ficta não possa produzir provas posteriores<br />

para tentar elidi-la.<br />

(133) OLIVEIRA, Francisco Antonio <strong>de</strong>. Comentários às Súmulas <strong>do</strong> TST. 6. ed. São Paulo: RT, 2005. p. 217.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 739

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!