11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>poimento pessoal é provocar a confissão, fazen<strong>do</strong> com que<br />

a parte compareça e, pessoalmente, fale sobre os fatos da causa. Por isso, será ela<br />

intimada também pessoalmente, constan<strong>do</strong> <strong>do</strong> manda<strong>do</strong> que se presumirão confessa<strong>do</strong>s<br />

os atos contra ela alega<strong>do</strong>s caso não compareça, ou comparecen<strong>do</strong>, se recuse a<br />

<strong>de</strong>por. Não po<strong>de</strong> ser imposta a pena <strong>de</strong> confissão se a parte não for intimada com essa<br />

advertência (art. 385, parágrafo único, <strong>do</strong> CPC, e Súmula n. 74, I, <strong>do</strong> C. TST (112) ).<br />

Na prática, o interrogatório e o <strong>de</strong>poimento pessoal, tanto no processo civil<br />

como no Processo <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, se realizam em um único ato. Primeiramente, o juiz<br />

faz as perguntas para esclarecimento <strong>do</strong>s fatos da causa e firma seu convencimento<br />

e, posteriormente, as partes fazem as reperguntas, objetivan<strong>do</strong> a confissão.<br />

Conforme a redação <strong>do</strong> art. 385 <strong>do</strong> CPC, a parte tem direito a requerer o <strong>de</strong>poimento<br />

pessoal da parte contrária, o que significa dizer que cabe ao juiz analisar,<br />

segun<strong>do</strong> o seu livre convencimento motiva<strong>do</strong>, se <strong>de</strong>fere ou não o requerimento.<br />

Embora o CPC utilize a expressão “requer o <strong>de</strong>poimento pessoal”, este somente<br />

po<strong>de</strong> ser in<strong>de</strong>feri<strong>do</strong> em hipóteses restritas, com a <strong>de</strong>vida fundamentação pelo magistra<strong>do</strong><br />

que presi<strong>de</strong> a audiência, como em hipóteses <strong>de</strong> matéria exclusivamente<br />

<strong>de</strong> direito, ou quan<strong>do</strong> não há controvérsia sobre a matéria fática, ou ainda quan<strong>do</strong><br />

já houve confissão na <strong>de</strong>fesa. De outro la<strong>do</strong>, o juiz <strong>de</strong>ve tomar muita cautela ao<br />

in<strong>de</strong>ferir o <strong>de</strong>poimento pessoal, pois po<strong>de</strong> estar obstan<strong>do</strong> um precioso instrumento<br />

da prova e, muitas vezes, per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a chance <strong>de</strong> uma confissão real.<br />

Tanto no interrogatório como no <strong>de</strong>poimento pessoal, as partes têm direito<br />

<strong>de</strong> fazer reperguntas, nos termos <strong>do</strong> art. 820 da CLT, que assim dispõe: “As partes e<br />

testemunhas serão inquiridas pelo juiz ou presi<strong>de</strong>nte, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser reinquiridas, por<br />

seu intermédio, a requerimento <strong>do</strong>s juízes classistas, das partes, seus representantes<br />

ou advoga<strong>do</strong>s.”<br />

Acreditamos ser compatível com o Processo <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> o art. 385, § 2 o , <strong>do</strong><br />

CPC, que tem a seguinte redação: “É veda<strong>do</strong>, a quem ainda não <strong>de</strong>pôs, assistir ao interrogatório<br />

da outra parte.” (113) Além disso, a experiência tem <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> que é<br />

muito conveniente a parte não presenciar o <strong>de</strong>poimento pessoal da outra, pois há<br />

sempre o ânimo <strong>de</strong> rebater as <strong>de</strong>clarações da parte contrária e a falta <strong>de</strong> espontaneida<strong>de</strong><br />

no <strong>de</strong>poimento. Po<strong>de</strong>-se questionar a aplicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal dispositivo no<br />

Processo <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, pois a CLT não prevê tal exigência (114) . Além disso, a CLT<br />

fora i<strong>de</strong>alizada para o exercício <strong>do</strong> jus postulandi pela parte, sen<strong>do</strong> assim, não há<br />

como a parte formular reperguntas se não assistir ao interrogatório da parte contrária<br />

(art. 820 da CLT).<br />

(112) “Aplica-se a pena <strong>de</strong> confissão à parte que, expressamente intimada com aquela cominação, não comparecer à<br />

audiência em prosseguimento, na qual <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>por.”<br />

(113) Nesse senti<strong>do</strong>, é a visão <strong>de</strong> Manoel Antonio Teixeira Filho. In: A prova no processo <strong>do</strong> trabalho. 8. ed. São<br />

Paulo: LTr, 2003. p. 244.<br />

(114) Nesse contexto, a seguinte ementa: “Retirada <strong>do</strong> Preposto. Inaplicável o parágrafo <strong>do</strong> art. 344, CPC, ao Processo,<br />

em face da expressa disposição <strong>do</strong> art. 848, parágrafo 1 o , da CLT, constituin<strong>do</strong> cerceamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa a retirada<br />

<strong>do</strong> preposto da sala <strong>de</strong> audiência, no momento em que o reclamante presta o <strong>de</strong>poimento” (LTr 48/11-1376,<br />

TRT – 11 a Região. RO 147/84, Ac. 263/84. rel. Juiz Antonio Carlos Marinho Bezerra, j. 31.7.1984).<br />

730 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!