11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

astante cautela, pois, ao admitir essa prova por uma das partes, po<strong>de</strong> estar violan<strong>do</strong><br />

um direito fundamental da parte contrária e até causar danos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m moral a esta<br />

última. Por isso, acreditamos que o Juiz <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, ao analisar a pertinência ou<br />

não da produção da prova obtida por meio ilícito como apta a <strong>de</strong>monstrar os danos<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m moral, <strong>de</strong>ve tomar as seguintes cautelas:<br />

a) verificar se a prova <strong>do</strong> fato po<strong>de</strong>rá ser obtida por outro meio lícito ou moralmente<br />

legítimo <strong>de</strong> prova, sem precisar recorrer à prova ilícita;<br />

b) sopesar a lealda<strong>de</strong> e boa-fé da parte que preten<strong>de</strong> a produção da prova<br />

ilícita (108) ;<br />

c) observar a serieda<strong>de</strong> e verossimilhança da alegação;<br />

d) avaliar o custo-benefício na produção da prova;<br />

e) aplicar o princípio da proporcionalida<strong>de</strong>, prestigian<strong>do</strong> o direito que merece<br />

maior proteção (109) ;<br />

(108) Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacamos a seguinte ementa: “DANO MORAL. GRAVAÇÃO DE CONVERSA TELEFÔNICA.<br />

PROVA IMORAL E ILÍCITA. A gravação <strong>de</strong> telefonema em que dialogam o sócio da empresa e um terceiro,<br />

feita com a participação <strong>do</strong> reclamante e sem o conhecimento <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r, mediante a qual se busca<br />

provar que estariam sen<strong>do</strong> fornecidas informações <strong>de</strong>sabona<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> ex-emprega<strong>do</strong>, não po<strong>de</strong> ser<br />

admitida como prova no processo, pois, além <strong>de</strong> implicar divulgação <strong>de</strong> conversa privada e violação <strong>de</strong><br />

conversa telefônica (art. 5 o , X e XII, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral), caracteriza prova obtida por meios ilícitos.<br />

Isso porque a prova assim produzida nada mais constitui <strong>do</strong> que um ardil utiliza<strong>do</strong> pelo reclamante e<br />

pela terceira pessoa que se faz passar por seu pretenso contratante, ‘interessa<strong>do</strong>’ na sua referência, no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> levar a reclamada a cair no <strong>de</strong>slize <strong>de</strong> fornecer informações <strong>de</strong>sabona<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> ex-emprega<strong>do</strong>,<br />

sobre as quais po<strong>de</strong>ria ser pedida a compensação <strong>de</strong> dano moral. Os preceitos legais aplicáveis à espécie<br />

buscam resguardar tanto a intimida<strong>de</strong> das pessoas, quanto a ética e a honra humana na sua dimensão<br />

maior, e qualquer procedimento que atente contra esta, ainda que a título <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> prova, <strong>de</strong>ve<br />

ser veementemente rechaça<strong>do</strong>. A atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> reclamante, ao produzir esse tipo <strong>de</strong> prova, viola a honra <strong>do</strong><br />

emprega<strong>do</strong>r, buscan<strong>do</strong> fazer com que este incorra em ilícito, e por outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>smerece a gran<strong>de</strong>za <strong>do</strong><br />

instituto da responsabilida<strong>de</strong> civil” (TRT 3 a Reg. – RO 00664-2003-096-03-00-7 – (Ac. 2 a T.) – rel a Juíza<br />

Alice Monteiro <strong>de</strong> Barros. DJMG 23.06.04, p. 08).<br />

(109) Rescisão indireta <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> trabalho – Gravação <strong>de</strong> ofensa ao emprega<strong>do</strong> no local <strong>de</strong> trabalho –<br />

Aceitação da prova no processo trabalhista. Ementa: DANO MORAL. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO<br />

DE TRABALHO. GRAVAÇÃO DE OFENSAS AO EMPREGADO NO LOCAL DE TRABALHO. ACEITAÇÃO DA<br />

PROVA NO PROCESSO TRABALHISTA. Robustamente <strong>de</strong>monstradas pela prova as ofensas gravíssimas<br />

dirigidas pela representante da empresa à empregada, a hipótese autoriza não só a rescisão indireta <strong>do</strong><br />

contrato <strong>de</strong> trabalho como também a con<strong>de</strong>nação da empresa em dano moral. A gravação clan<strong>de</strong>stina<br />

<strong>do</strong>s diálogos manti<strong>do</strong>s entre a empregada e os seus superiores no local <strong>de</strong> trabalho, nos quais essas<br />

ofensas eram sistematicamente praticadas, é perfeitamente legal e legítima, pois, apesar <strong>do</strong> <strong>de</strong>sconhecimento<br />

<strong>do</strong>s ofensores, não se trata <strong>de</strong> interceptação <strong>de</strong> conversa alheia, pois foi feita por um <strong>do</strong>s interlocutores, em<br />

local <strong>de</strong> acesso ao público, sobre fato (o trabalho) da vida social <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s. A hipótese, portanto, não<br />

caracteriza afronta à inviolabilida<strong>de</strong> da vida privada ou da intimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem quer que seja, resguarda<strong>do</strong><br />

pelo art. 5 o , X, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral (Prece<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> TST, no TST – SDI ROMS n. 11.134/90, publica<strong>do</strong><br />

no DJ <strong>de</strong> 27.9.91, p. 13.394 e <strong>do</strong> STF no HC 75.338, publica<strong>do</strong> no DJ <strong>de</strong> 25.9.98, p. 00011 e RE n.<br />

212.081, publica<strong>do</strong> no DJ <strong>de</strong> 27.3.98, p. 00023). Além <strong>de</strong> não se caracterizar prova ilícita, trata-se, no<br />

caso, <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa por parte da empregada, como meio legítimo <strong>de</strong> que ela dispunha<br />

(TRT 3 a Reg. – RO 01.262-2002-111-03-00-7 – (Ac. 2 a T.) – rel a Juíza Alice Monteiro <strong>de</strong> Barros – DJMG<br />

20.2.04 – p. 11).<br />

726 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!