11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

processual, que é o direito <strong>de</strong> reagir a cada ação <strong>do</strong> ex adverso. Ora, revelia não é<br />

pena, não é um ônus, é uma situação processual. O revel não po<strong>de</strong> ser visto como<br />

um fora da lei porque não veio a juízo se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. Ainda que não tenha controverti<strong>do</strong><br />

os fatos, o revel, caso compareça em momento oportuno, po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>rrubar essa<br />

presunção <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fatos invoca<strong>do</strong>s pelo autor. Não po<strong>de</strong>rá fazer prova<br />

<strong>de</strong> fatos que não alegou, ou seja, não po<strong>de</strong>rá fazer prova <strong>de</strong> fatos modificativos,<br />

extintivos e impeditivos <strong>do</strong> direito <strong>do</strong> autor. Caso o revel consiga, com a produção<br />

<strong>de</strong> provas, <strong>de</strong>rrubar a presunção <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fatos afirma<strong>do</strong>s pelo autor, este<br />

último terá <strong>de</strong> fazer prova <strong>do</strong> fato constitutivo <strong>do</strong> seu direito. Não se está com o<br />

presente entendimento <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o instituto da revelia, mas possibilitan<strong>do</strong><br />

ao réu o direito <strong>de</strong>, efetivamente, exercer o contraditório e buscar minorar os efeitos<br />

da revelia. Em razão <strong>do</strong> princípio da proporcionalida<strong>de</strong> a que já nos referimos, no<br />

nosso sentir, o revel que comparece e ingressa na relação jurídico-processual possui<br />

maiores faculda<strong>de</strong>s processuais <strong>do</strong> que o revel que jamais comparece. Sob outro enfoque,<br />

po<strong>de</strong>, inclusive, ser benéfico ao autor o comparecimento <strong>do</strong> revel, pois há a<br />

possibilida<strong>de</strong> da conciliação, também possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o autor produzir a prova <strong>do</strong>s<br />

fatos constitutivos <strong>do</strong> seu direito e sepultar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> anulação da revelia<br />

em se<strong>de</strong> recursal, e também certeza <strong>de</strong> que irá encontrá-lo para futura execução.<br />

No mesmo senti<strong>do</strong>, se pronuncia Rita Gianesini (67) : “Em qualquer hipótese,<br />

em se realizan<strong>do</strong> a prova pericial, o revel po<strong>de</strong>rá apresentar quesitos suplementares<br />

(art. 425) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não amplie o âmbito da perícia. Po<strong>de</strong>rá também requerer, na<br />

forma e no prazo <strong>do</strong> art. 435, a presença <strong>do</strong> perito e/ou assistente técnico <strong>do</strong> autor<br />

para prestar(em) esclarecimentos, em audiência. No tocante à produção da<br />

prova testemunhal, se requerida pelo autor e <strong>de</strong>ferida ou <strong>de</strong>terminada <strong>de</strong> ofício ou<br />

necessária por motivos subsequentes, o revel po<strong>de</strong>rá arrolar suas testemunhas, na<br />

forma e prazo <strong>do</strong> art. 407.”<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> levar em consi<strong>de</strong>ração essa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, econômica e, por que não dizer, espiritual, que se<br />

estabelece em cada relação jurídica processual. Persegue-se um novo paradigma, segun<strong>do</strong> a racionalida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> outro. Interpela-se o outro para a Justiça. Essa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> macula a efetivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.<br />

Aceitan<strong>do</strong>-se passivamente o contraditório formal, coloca-se em risco a <strong>de</strong>mocracia e a legitimação <strong>do</strong><br />

procedimento. Segun<strong>do</strong> Luiz Guilherme Marinoni, ‘[...] Quem visualiza o contraditório a partir da ótica <strong>do</strong><br />

liberalismo <strong>do</strong> século XIX, <strong>de</strong>screverá o princípio como uma garantia <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> formal. Entretanto, como<br />

esta perspectiva está superada e enterrada pela nossa própria Constituição, e é necessário que o direito se<br />

ajuste aos anseios da justiça social, é lógico e bem mais <strong>do</strong> que evi<strong>de</strong>nte que o princípio <strong>do</strong> contraditório<br />

não po<strong>de</strong> mais ser focaliza<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> formal. Com efeito, na atualida<strong>de</strong> o princípio<br />

<strong>do</strong> contraditório <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>senha<strong>do</strong> com base no princípio da igualda<strong>de</strong> substancial, o que reflete os<br />

valores <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Social’. É por isso que não basta apenas observarem-se os direitos fundamentais<br />

<strong>de</strong> primeira geração, os quais foram e são <strong>de</strong> extrema importância, para amparar aquele chama<strong>do</strong> campo <strong>de</strong><br />

auto<strong>de</strong>terminação individual, no qual o Esta<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> penetrar. Também importante para o processo,<br />

na sua atual concepção, são os chama<strong>do</strong>s direitos fundamentais <strong>de</strong> segunda e terceira geração, segun<strong>do</strong><br />

os quais, o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve não apenas respeitar a individualida<strong>de</strong>, mas, sobretu<strong>do</strong>, atuar com efetivida<strong>de</strong>, a<br />

fim <strong>de</strong> que a igualda<strong>de</strong> substancial prevaleça, acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, na relação jurídica processual. A igualda<strong>de</strong><br />

não se estabelece somente pelas normas jurídicas, mas, e, principalmente nos dias <strong>de</strong> hoje, mediante a<br />

análise das circunstâncias sociais <strong>de</strong> cada parte no processo” (Contraditório e revelia. Perspectiva crítica<br />

<strong>do</strong>s efeitos da revelia em face da natureza dialética <strong>do</strong> processo. São Paulo: RT, 2003, p. 255-256).<br />

(67) Gianesini, Rita. Da revelia. Tese <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> apresentada na PUC/SP, 1979. p. 156.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 707

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!