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Manual de Direito Processual do Trabalho

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De outro la<strong>do</strong>, a inversão judicial <strong>do</strong> ônus da prova está prevista no art. 6 o ,<br />

VIII, da Lei n. 8.078/90, que assim dispõe:<br />

“São direitos básicos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r:<br />

[...] VIII – a facilitação da <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus direitos, inclusive com a inversão <strong>do</strong> ônus da<br />

prova, a seu favor, no processo civil, quan<strong>do</strong>, a critério <strong>do</strong> juiz, for verossímil a alegação<br />

ou quan<strong>do</strong> for ele hipossuficiente, segun<strong>do</strong> as regras ordinárias <strong>de</strong> experiências.”<br />

Segun<strong>do</strong> Cândi<strong>do</strong> Rangel Dinamarco (56) : “inversão judicial <strong>do</strong> ônus da prova<br />

é a alteração <strong>do</strong> disposto em regras legais responsáveis pela distribuição <strong>de</strong>ste, por<br />

<strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> juiz no momento <strong>de</strong> proferir a sentença <strong>de</strong> mérito.”<br />

A CLT não prevê a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inversão <strong>do</strong> ônus da prova. Como menciona<strong>do</strong>,<br />

há um único artigo que trata <strong>do</strong> ônus da prova, que é o 818, da CLT. Não<br />

obstante, no Processo <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, tem gran<strong>de</strong> pertinência a regra da inversão<br />

<strong>do</strong> ônus da prova, pois, muitas vezes, o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> hipossuficiência <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong><br />

reclamante o impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir comprovação <strong>de</strong> suas alegações em juízo, ou<br />

essa prova se torna excessivamente onerosa, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> inviabilizar a efetivida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

próprio direito postula<strong>do</strong>.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, aplica-se perfeitamente ao Processo <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> a regra <strong>de</strong> inversão<br />

<strong>do</strong> ônus da prova constante <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, em razão da<br />

omissão da CLT e da compatibilida<strong>de</strong> com os princípios que regem o Processo <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> (art. 769 da CLT), máxime o princípio <strong>do</strong> acesso <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r à justiça.<br />

Vem toman<strong>do</strong> corpo, na Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, o entendimento da inversão <strong>do</strong><br />

ônus da prova em favor <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r nas ações aci<strong>de</strong>ntárias em que o emprega<strong>do</strong><br />

postula reparação <strong>de</strong> danos materiais e morais, em razão da gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

produção da prova da culpa <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r por parte <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, temos o Enuncia<strong>do</strong> n. 41 da 1 a Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Material e<br />

<strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> realizada no TST, in verbis:<br />

“RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DO TRABALHO. ÔNUS DA PROVA. Cabe a<br />

inversão <strong>do</strong> ônus da prova em favor da vítima nas ações in<strong>de</strong>nizatórias por aci<strong>de</strong>nte <strong>do</strong><br />

trabalho.”<br />

No mesmo diapasão, a seguinte ementa:<br />

“In<strong>de</strong>nização por dano moral — Responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r — Teoria <strong>do</strong> risco. O<br />

reclama<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r na acepção <strong>do</strong> caput <strong>do</strong> art. 2 o da CLT, está inseri<strong>do</strong><br />

no contexto <strong>do</strong> capitalismo como um ente <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à obtenção <strong>do</strong> lucro, por isso que, no<br />

âmbito <strong>do</strong> <strong>Direito</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, ele se arroga <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r diretivo, assumin<strong>do</strong> amplamente os<br />

riscos sociais <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> econômica, e se investe da obrigação <strong>de</strong> garantir a segurança,<br />

bem como a integrida<strong>de</strong> física e psíquica <strong>do</strong>s seus emprega<strong>do</strong>s, durante a prestação <strong>de</strong> serviços.<br />

Ao explorar <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica, o emprega<strong>do</strong>r é responsável<br />

pelos danos físicos sofri<strong>do</strong>s pelo emprega<strong>do</strong> no exercício <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s laborativas.<br />

Competia ao emprega<strong>do</strong>r a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medidas simples ou complexas que minimizassem<br />

(56) DINAMARCO, Cândi<strong>do</strong> Rangel. Instituições <strong>de</strong> direito processual civil. v. III. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 79.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 699

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