11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O fato proban<strong>do</strong> tem <strong>de</strong> ser controverti<strong>do</strong>, isto é, afirma<strong>do</strong> por uma parte e<br />

contesta<strong>do</strong> pela parte contrária. Os fatos não controverti<strong>do</strong>s, como regra geral, não<br />

são objeto da prova, pois admiti<strong>do</strong>s como verda<strong>de</strong>iros no processo. Não obstante,<br />

situações há em que mesmo o fato não contesta<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser objeto <strong>de</strong> prova, por<br />

exemplo: os fatos que não parecem verossímeis segun<strong>do</strong> o que ordinariamente<br />

acontece ou fora <strong>do</strong> padrão médio da socieda<strong>de</strong>, e também os fatos impossíveis ou<br />

pouco prováveis. Como bem adverte Ama<strong>do</strong>r Paes <strong>de</strong> Almeida (17) : “[...] não significa<br />

que os fatos não contraria<strong>do</strong>s não possam ser objeto <strong>de</strong> prova, pois ao juiz,<br />

em face <strong>do</strong> princípio inquisitório, é da<strong>do</strong> exigir prova <strong>do</strong> alega<strong>do</strong> ainda que não<br />

contesta<strong>do</strong>, ‘para o fim <strong>de</strong> formar com mais segurança o seu convencimento’, ou<br />

ainda que se faça necessária a prova <strong>do</strong> ato jurídico, quan<strong>do</strong> a lei exija que esta se<br />

revista <strong>de</strong> forma especial.”<br />

De outro la<strong>do</strong>, diz o art. 374 <strong>do</strong> CPC: “Não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> prova: I. os fatos<br />

notórios; II. afirma<strong>do</strong>s por uma parte e confessa<strong>do</strong>s pela parte contrária; III. admiti<strong>do</strong>s,<br />

no processo, como incontroversos; IV. em cujo favor milita presunção legal <strong>de</strong><br />

existência ou <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong>.”<br />

Como a CLT não tem regra própria no aspecto, o art. 374 <strong>do</strong> CPC resta aplicável ao<br />

Processo <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> por força <strong>do</strong> art. 769 da CLT. Desse mo<strong>do</strong>, passamos à análise<br />

<strong>do</strong>s quatro incisos <strong>do</strong> art. 374 <strong>do</strong> CPC sob a ótica <strong>do</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>.<br />

a) fatos notórios: os fatos notórios são os <strong>de</strong> conhecimento comum, <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>terminada comunida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada região, num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> lapso <strong>de</strong><br />

tempo;<br />

Como bem adverte Adalberto Martins (18) , “o conhecimento notório não se<br />

confun<strong>de</strong> com conhecimento pessoal (aquele <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> <strong>de</strong> observação pessoal),<br />

e tampouco coinci<strong>de</strong> com o conhecimento absoluto, bastan<strong>do</strong> o conhecimento<br />

relativo. Contu<strong>do</strong>, não se permite ao juiz julgar com base em fatos <strong>de</strong> que tenha<br />

ciência pessoal e que não constam <strong>do</strong>s autos, excepcionan<strong>do</strong>-se aqueles que Couture<br />

<strong>de</strong>nomina ‘fatos evi<strong>de</strong>ntes’, e que ressaltam da experiência pessoal <strong>do</strong> magistra<strong>do</strong>.”<br />

O conceito <strong>de</strong> fato notório é relativo, pois, se uma das partes sobre ele não<br />

tiver conhecimento ou se até mesmo o juiz <strong>de</strong>le não conheça, é possível a produção<br />

<strong>de</strong> provas sobre a própria existência da notorieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> fato.<br />

Como bem adverte Antonio Carlos <strong>de</strong> Araújo Cintra (19) : “Po<strong>de</strong>-se dizer que<br />

são notórios os fatos cujo conhecimento faz parte da cultura normal própria <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> segmento social ao tempo em que é proferida a sentença. Trata-<br />

-se <strong>de</strong> conceito eminentemente relativo, da<strong>do</strong> que a notorieda<strong>de</strong> se manifesta num<br />

(17) ALMEIDA, Ama<strong>do</strong>r Paes <strong>de</strong>. CLT comentada. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 392.<br />

(18) MARTINS, Adalberto. <strong>Manual</strong> didático <strong>de</strong> direito processual <strong>do</strong> trabalho. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2005.<br />

p. 156.<br />

(19) CINTRA, Antonio Carlos <strong>de</strong> Araújo. Comentários ao Código <strong>de</strong> Processo Civil. v. IV. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense,<br />

2001. p. 27.<br />

674 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!