11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

essa possibilida<strong>de</strong> em razão da indisponibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> interesse público e também da<br />

indisponibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> patrimônio público (23) . A esse entendimento, outros se opõem,<br />

dizen<strong>do</strong> que, em juízo, <strong>de</strong>vemos aplicar o princípio da isonomia (art. 5 o da CLT)<br />

e a regra <strong>do</strong> art. 844 da CLT também às pessoas jurídicas <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Público. Sob<br />

outro enfoque, tanto o CPC como a CLT não preveem inaplicabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s efeitos da<br />

revelia à pessoa jurídica <strong>de</strong> direito público (24) , não obstante o art. 345, II, asseverar<br />

que não se aplicam os efeitos da revelia quan<strong>do</strong> se tratar <strong>de</strong> direitos indisponíveis.<br />

No nosso sentir, o simples fato <strong>de</strong> um particular manter um contrato <strong>de</strong> trabalho,<br />

seja regi<strong>do</strong> pela CLT, seja regi<strong>do</strong> por Estatuto, e litigar contra a Administração Pública<br />

preten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> uma con<strong>de</strong>nação pecuniária não transforma a pretensão patrimonial<br />

em indisponível somente pelo fato <strong>de</strong> figurar no outro polo da relação jurídica<br />

processual uma pessoa jurídica <strong>de</strong> direito público. É preciso analisar efetivamente<br />

a pretensão posta em juízo, sob o enfoque <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> e da causa <strong>de</strong> pedir, para se<br />

aquilatar se o direito é indisponível ou não. Caso a pretensão seja um direito patrimonial<br />

disponível, não há por que não se aplicarem os efeitos da revelia (25) . Caso o<br />

(23) Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>staca-se a seguinte ementa: “Os efeitos da presunção <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fatos não impugna<strong>do</strong>s<br />

não são admiti<strong>do</strong>s contra as pessoas jurídicas <strong>de</strong> direito público, uma vez que o interesse público sobrepuja<br />

ao particular na proteção <strong>de</strong> tais créditos, incumbin<strong>do</strong> ao autor a prova <strong>do</strong>s fatos constitutivos <strong>de</strong> seu<br />

pretenso direito à luz <strong>do</strong> que dispõe o art. 333, I, CPC” (Ap. 32.982-1, TJMG, 3 a Câm. ac. unân. 9.2.1995,<br />

rel. Des. Hugo Bengtsson, apud Alexandre <strong>de</strong> Paula, ob. cit., p. 1526), apud Oliveira, Francisco Antonio<br />

<strong>de</strong>. A prova no processo <strong>do</strong> trabalho. São Paulo: RT, 1999. p. 119.<br />

(24) Nesse senti<strong>do</strong>, as seguintes ementas: “Entes públicos — Efeitos da revelia e confissão. Os entes públicos<br />

estão sujeitos ao ônus da impugnação específica, insculpi<strong>do</strong> nos arts. 302 e 319 <strong>do</strong> CPC, aplicáveis subsidiariamente<br />

ao Processo <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, por força <strong>do</strong> art. 769 da CLT. As exceções consubstanciadas no parágrafo<br />

único <strong>do</strong> art. 302 <strong>do</strong> Diploma <strong>Processual</strong> Civil não abrangem as pessoas jurídicas <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Público”<br />

(TRT – 15 a R. – 3 a T. – Ac. n. 35.956/99 – rel. Domingos Spina – DJSP 6.12.99 – p. 111). “Revelia — Cabível<br />

contra entes da Administração Pública — Nulida<strong>de</strong> <strong>do</strong> pacto laboral <strong>de</strong> servi<strong>do</strong>r público após jubilação<br />

espontânea, sem prévia aprovação em concurso público — Diferenças salariais — Prova <strong>do</strong>cumental em<br />

favor da recorrente — Devidas com os reflexos legais — Honorários advocatícios — Devi<strong>do</strong>s ao sindicato<br />

assistente — Imposto <strong>de</strong> Renda — Eventual <strong>de</strong>dução na forma da OJ n. 228 da SDI-1 <strong>do</strong> c. TST. Os entes<br />

da Administração Pública, se ausentes à audiência inaugural, para a qual foram <strong>de</strong>vidamente intima<strong>do</strong>s<br />

a comparecer, sofrem os efeitos da revelia. A contratação <strong>de</strong> servi<strong>do</strong>r público sem prévia aprovação em<br />

concurso público importa na nulida<strong>de</strong> <strong>do</strong> pacto empregatício havi<strong>do</strong> após a jubilação espontânea. Em razão<br />

da nulida<strong>de</strong> contratual, somente são <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s, em relação ao último perío<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>, os salários em<br />

senti<strong>do</strong> estrito e, portanto, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>vidas diferenças salariais, em consonância com a prova <strong>do</strong>cumental<br />

encartada ao processo, com os reflexos legais. Honorários advocatícios <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s em favor <strong>do</strong> sindicato<br />

assistente, na base <strong>de</strong> 15% <strong>do</strong> valor da con<strong>de</strong>nação. Eventual parcela <strong>de</strong>vida a título <strong>de</strong> Imposto <strong>de</strong> Renda, a<br />

ser calculada ao final e sobre o total da con<strong>de</strong>nação” (TRT 15 a R. – 2 a T. – RO n. 452/2003.034.15.00-8 – rel.<br />

Samuel C. Leite – DJSP 4.2.05 – p. 37).<br />

(25) Em senti<strong>do</strong> contrário, sustenta José Diniz <strong>de</strong> Moraes: “Quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>compõe uma relação obrigacional, <strong>do</strong><br />

tipo trabalhista, constata-se que o direito <strong>de</strong> crédito tem como fim imediato uma prestação (<strong>de</strong>bitum) e<br />

como fim mediato ou remoto a sujeição <strong>do</strong> patrimônio <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r (obligatio). Quan<strong>do</strong> a obrigação não é<br />

cumprida espontaneamente, a responsabilida<strong>de</strong> pessoal transforma-se em responsabilida<strong>de</strong> patrimonial,<br />

em <strong>de</strong>corrência da pretensão <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r. Quan<strong>do</strong> o emprega<strong>do</strong> maneja uma actio contra o Po<strong>de</strong>r Público,<br />

em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> uma pressuposta relação <strong>de</strong> emprego, o objeto <strong>de</strong> tal prestação exigida é a entrega <strong>de</strong><br />

dinheiro público — salário, isto é, o ato voluntário que se espera <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público. A conduta <strong>de</strong>vida é,<br />

na verda<strong>de</strong>, o exercício normal <strong>de</strong> um direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, é disposição <strong>de</strong>le. Então, o que é necessário<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 627

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!