11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

4. Revelia e confissão no <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong><br />

No nosso sentir, revelia e confissão não são institutos da mesma natureza. A<br />

confissão é a admissão <strong>do</strong>s fatos <strong>de</strong>clina<strong>do</strong>s pela parte contrária contra os interesses<br />

<strong>do</strong> confi<strong>de</strong>nte. A revelia é a ausência <strong>do</strong> reclama<strong>do</strong> em audiência, na qual <strong>de</strong>veria<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se, geran<strong>do</strong> uma presunção <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fatos <strong>de</strong>clina<strong>do</strong>s na inicial<br />

(art. 844 da CLT c/c art. 344 <strong>do</strong> CPC). Essa presunção não se confun<strong>de</strong> com confissão,<br />

pois confissão pressupõe um ato <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> da parte, ainda que omissivo. Na revelia,<br />

não há o elemento intencional da confissão, qual seja, o ânimo <strong>de</strong> confessar.<br />

Também a revelia não se confun<strong>de</strong> com a confissão ficta, pois esta <strong>de</strong>corre <strong>do</strong><br />

não comparecimento da parte, quan<strong>do</strong> regularmente intimada e com a advertência<br />

<strong>de</strong> consequência <strong>de</strong> confissão, para prestar <strong>de</strong>poimento (art. 385, § 1 o , <strong>do</strong> CPC, c/c<br />

Súmula n. 74, I, <strong>do</strong> C. TST).<br />

A confissão ficta é meio <strong>de</strong> prova, pois está inserida na seção II que trata <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>poimento pessoal, o qual consta <strong>do</strong> capítulo VI <strong>do</strong> CPC que trata das provas. Já<br />

a revelia faz parte <strong>de</strong> um capítulo à parte no CPC.<br />

Portanto, se o reclama<strong>do</strong>, uma vez cita<strong>do</strong>, não comparecer, há consequências<br />

processuais, sen<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>las a presunção <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fatos <strong>de</strong>clina<strong>do</strong>s na<br />

inicial. Caso o reclama<strong>do</strong>, uma vez intima<strong>do</strong> para prestar <strong>de</strong>poimento, com as<br />

advertências <strong>do</strong> § 1 o <strong>do</strong> art. 385 <strong>do</strong> CPC e <strong>do</strong> inciso I da Súmula n. 74 <strong>do</strong> C. TST,<br />

<strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> comparecer, aí sim há a chamada confissão ficta. Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacamos<br />

a seguinte ementa:<br />

“REVELIA E PENA DE CONFISSÃO. Revelia e confissão não são a mesma coisa. A revelia,<br />

na processualística trabalhista, significa o não comparecimento à audiência inaugural. A<br />

confissão, que se restringe a fatos, é penalida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> que a “ficta” po<strong>de</strong> ocorrer tanto<br />

em <strong>de</strong>corrência da ausência <strong>do</strong> reclama<strong>do</strong> na audiência inaugural (art. 844, da CLT) como<br />

em relação às partes na hipótese prevista no Enuncia<strong>do</strong> n. 74 <strong>do</strong> TST. Essa distinção tem<br />

importância para o caso concreto, em que se preten<strong>de</strong>u o adiamento da audiência após a<br />

contestação e com a ausência <strong>do</strong> reclama<strong>do</strong> a sessão subsequente. Haverá “confissão ficta”<br />

porque o réu não está presente para <strong>de</strong>por, mas não haverá revelia, porque a contestação<br />

consta <strong>do</strong> processo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a audiência em que foi manifestada. Equivoca-se, portanto, o<br />

recorrente ao alegar que lhe foi aplicada a pena <strong>de</strong> revelia e consequente pena <strong>de</strong> confissão.”<br />

(TRT 3 a Região, Proc. RO n. 5.144/95 – 4 a T., rel. Juiz Carlos Alberto Reis <strong>de</strong> Paulo.<br />

MG 5.8.95)<br />

De outro la<strong>do</strong>, é bem verda<strong>de</strong> que o art. 844 da CLT diz que a ausência <strong>do</strong><br />

reclama<strong>do</strong> importa revelia, além <strong>de</strong> confissão quanto à matéria <strong>de</strong> fato.<br />

Parece-nos que, sob o prisma <strong>do</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, como a <strong>de</strong>fesa<br />

é ato <strong>de</strong> audiência (art. 847 da CLT) e o comparecimento da parte é obrigatório<br />

(art. 843 da CLT), o legisla<strong>do</strong>r visou a aglutinar, num único artigo, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

revelia no processo <strong>do</strong> trabalho e as consequências aplicáveis ao reclama<strong>do</strong> que<br />

não comparece para prestar <strong>de</strong>poimento pessoal. Portanto, caso o reclama<strong>do</strong> não<br />

compareça, será revel em razão <strong>do</strong> não comparecimento, e confesso, por não ter<br />

presta<strong>do</strong> <strong>de</strong>poimento pessoal (arts. 848 da CLT e 385 <strong>do</strong> CPC).<br />

618 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!