11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

edunda, <strong>de</strong> per si, dano moral para a parte que se viu envolvida na investigação policial. 1.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que efetivamente, com a Emenda Constitucional n. 45/2004, a competência<br />

para conhecer e julgar ação por dano moral <strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> emprego, e mesmo<br />

da relação <strong>de</strong> trabalho, passou a ser da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>. Aliás quanto àquela — dano<br />

moral <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> fatos que tiveram por base o contrato <strong>de</strong> emprego — já eram, antes<br />

da Emenda Constitucional n. 45/2004, no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ste relator, <strong>de</strong> competência <strong>de</strong>sta<br />

Justiça. As <strong>de</strong>cisões contrárias <strong>de</strong> relatores da Justiça Comum, a que se refere a autora,<br />

ocorreram antes da Emenda Constitucional n. 45/2004. A matéria já está sedimentada,<br />

na <strong>do</strong>utrina e na jurisprudência. Por outro la<strong>do</strong>, embora seja matéria <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública, e<br />

que po<strong>de</strong> ser examinada por este julga<strong>do</strong>r, mesmo sem provocação das partes, é fato que<br />

no seu recurso ordinário a autora não faz tal provocação, apenas alegan<strong>do</strong>, <strong>de</strong> passagem,<br />

como aditivo à sua argumentação, o fato. A matéria, neste aspecto sobre a competência,<br />

está assentada e <strong>de</strong>finida, sen<strong>do</strong> competente esta Justiça para conhecer e julgar os fatos e<br />

conflitos <strong>de</strong>correntes da acusação <strong>de</strong> dano causa<strong>do</strong> pelo réu, em face <strong>de</strong> atos pratica<strong>do</strong>s<br />

em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> acontecimentos consequentes à atuação da autora como empregada. 2. Deve<br />

ser aplicada a regra vigente para a prescrição, <strong>do</strong> art. 206, § 3 o , inciso V, prescreven<strong>do</strong> o<br />

direito <strong>de</strong> agir em três anos para a pretensão <strong>de</strong> reparação civil. A autora distribuiu o feito<br />

em julho <strong>de</strong> 2000, enquanto que a ação trabalhista com trânsito em julga<strong>do</strong>, que examinou<br />

fatos correlatos à justa causa, terminou em 12.8.2004, sen<strong>do</strong> que o último fato noticia<strong>do</strong> —<br />

inquérito policial — é <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1999. Portanto, o fez <strong>de</strong>ntro daquele prazo, levan<strong>do</strong>-se<br />

em conta as regras <strong>do</strong> Código Civil. A mudança da competência da ação para a Justiça <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> não faz prevalecer a prescrição trabalhista para ações que à época possuíam outro<br />

perío<strong>do</strong> prescricional, mais favorável ao que busca a prestação jurisdicional. Observe-se<br />

que o contrato <strong>de</strong> trabalho da autora já havia se encerra<strong>do</strong> e o conflito <strong>de</strong>le <strong>de</strong>corrente<br />

também fora amplamente discuti<strong>do</strong>, prova<strong>do</strong> e <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> em processo perante esta Justiça.<br />

Observa-se, ainda que, apesar <strong>de</strong>sta Justiça, naquele processo, ter acolhi<strong>do</strong> a tese da justa<br />

causa, por aban<strong>do</strong>no <strong>de</strong> emprego, os fatos que ensejaram o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> dano moral foram<br />

o sofrimento, vexame e humilhação, que diz ter a autora sofri<strong>do</strong>, em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong>s<br />

procedimentos anteriores e posteriores à justa causa, cujo termo final <strong>de</strong>u-se em junho<br />

<strong>de</strong> 1999. Assim, embora haja uma conexão em relação aos fatos <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> trabalho,<br />

o pleito <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>-se da questão meramente contratual ao acionar a Justiça Comum por<br />

dano específico, cuja causa <strong>de</strong> pedir não é a dissolução contratual injusta, mas a forma<br />

pela qual os fatos foram conduzi<strong>do</strong>s pela ré e seus prepostos. 3. O ônus da prova, em relação<br />

aos fatos que alega para a obtenção <strong>do</strong> dano moral, era da autora (art. 818 da CLT e<br />

333, I <strong>do</strong> CPC) que <strong>de</strong>le não se <strong>de</strong>sincumbiu, observan<strong>do</strong>-se que a abertura <strong>do</strong> inquérito<br />

policial, com a ‘notitia criminis’ dada pelo réu, revelou-se exercício regular <strong>de</strong> direito e,<br />

por si só, não implicou no propala<strong>do</strong> dano moral. Os fatos leva<strong>do</strong>s à Delegacia <strong>de</strong> Polícia<br />

ficaram no âmbito administrativo-judiciário. Não houve por parte <strong>do</strong> réu qualquer procedimento,<br />

ato ou fato que visasse ofen<strong>de</strong>r a honra subjetiva da autora. Não se conclui por<br />

existência <strong>de</strong> situações sociais vexatórias provocadas pelo réu, nem se po<strong>de</strong> afirmar que as<br />

ações impetradas por seus prepostos e/ou por envolvi<strong>do</strong>s liga<strong>do</strong>s diretamente à instituição<br />

financeira tivessem prejudica<strong>do</strong> a autora, salvo <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s estritos limites <strong>do</strong> procedimento<br />

legal ampara<strong>do</strong> pelo <strong>Direito</strong>, <strong>de</strong> procurar a investigação policial para a apuração <strong>do</strong>s fatos,<br />

sem prejudicar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e manifestação da autora e <strong>de</strong> acompanhamento<br />

<strong>de</strong> serviços jurídicos, se necessários. Portanto, feliz ou infelizmente — e aqui não está<br />

em julgamento os atos e fatos que envolveram criminalmente a autora e a autoria —,<br />

a recorrente expôs-se aos acontecimentos, por ato <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> própria ou por força das<br />

circunstâncias, e o réu não po<strong>de</strong> ser con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> por agir <strong>de</strong>ntro da lei. Por tais motivos,<br />

rejeito o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por dano moral.” (TRT/SP n. 00912200608402008, Ac.<br />

20080173394. Rel. Carlos Roberto Husek, DOE 14.3.09)<br />

534 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!