11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Pela dicção <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> dispositivo legal, cabe o habeas corpus na Justiça <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> toda vez que o ato envolver a jurisdição trabalhista, vale dizer: estiver<br />

sujeito à competência material da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>.<br />

O eixo central da competência da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, após a EC n. 45/04,<br />

encontra suporte na relação <strong>de</strong> trabalho (inciso I <strong>do</strong> art. 114 da CF) e também nas<br />

<strong>de</strong>mais matérias mencionadas nos incisos I a VIII <strong>do</strong> art. 114 da CF.<br />

Na Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, as hipóteses <strong>de</strong> prisões <strong>de</strong>terminadas pelo Juiz <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> são em <strong>de</strong>corrência ou <strong>do</strong> <strong>de</strong>scumprimento <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m judicial para<br />

cumprimento <strong>de</strong> uma obrigação <strong>de</strong> fazer ou não fazer, ou <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário infiel.<br />

Inegavelmente, a hipótese mais comum da utilização <strong>do</strong> habeas corpus na<br />

Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> é em <strong>de</strong>corrência da prisão <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário infiel, que se dá na<br />

fase <strong>de</strong> execução <strong>de</strong> sentença trabalhista.<br />

Há, a nosso ver, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impetração <strong>de</strong> habeas corpus na Justiça <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> quan<strong>do</strong> o emprega<strong>do</strong>r ou toma<strong>do</strong>r <strong>de</strong> serviços restringirem a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> locomoção <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong> ou trabalha<strong>do</strong>r por qualquer motivo, como em razão<br />

<strong>de</strong> não pagamento <strong>de</strong> dívidas. A Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> neste caso não está aprecian<strong>do</strong><br />

matéria criminal, ou se imiscuin<strong>do</strong> em ativida<strong>de</strong> policial, mas julgan<strong>do</strong> ato que está<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua competência material, pois cumpre à Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />

liberda<strong>de</strong> ao trabalho, os valores sociais <strong>do</strong> trabalho e a dignida<strong>de</strong> da pessoa humana<br />

<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r (art. 1 o , incisos III e IV, da CF). Nesta hipótese, o habeas corpus é<br />

cabível contra ato <strong>de</strong> ilegalida<strong>de</strong>.<br />

A <strong>do</strong>utrina e a jurisprudência têm entendi<strong>do</strong> que é possível a impetração <strong>de</strong><br />

habeas corpus se o constrangimento emanar <strong>de</strong> ato <strong>de</strong> particular (101) , pois o inciso<br />

LXVIII, <strong>do</strong> art. 5 o , da CF, não fala em ato <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>. Nesse mesmo diapasão,<br />

<strong>de</strong>stacamos a posição <strong>de</strong> Edilton Meirelles: “[...] o constituinte <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> assegurou<br />

a competência da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> para conhecer <strong>do</strong> habeas corpus ‘quan<strong>do</strong> o ato<br />

questiona<strong>do</strong> envolver matéria sujeita à sua jurisdição’. Logo, essa competência não<br />

envolve tão somente os atos pratica<strong>do</strong>s pela autorida<strong>de</strong> judiciária, mas <strong>de</strong> qualquer<br />

autorida<strong>de</strong> ou pessoa que esteja, ilegalmente ou em abuso <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, restringin<strong>do</strong><br />

a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> outrem. Assim, como já exemplifica<strong>do</strong>, tem-se a possibilida<strong>de</strong> da<br />

Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> julgar o habeas corpus impetra<strong>do</strong> em face <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r que<br />

restringe a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>, mantém o emprega<strong>do</strong> no ambiente<br />

<strong>de</strong> trabalho, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento grevista em face <strong>do</strong>s atos por este pratica<strong>do</strong><br />

(101) Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacamos as seguintes ementas: STJ: “O HC é ação constitucional <strong>de</strong>stinada a garantir<br />

o direito <strong>de</strong> locomoção, em face <strong>de</strong> ameaça ou <strong>de</strong> efetiva violação por ilegalida<strong>de</strong> ou abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Do<br />

teor da cláusula constitucional pertinente (art. 5 o , LXVIII) exsurge o entendimento no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> admitir-se<br />

que o uso da garantia provenha <strong>de</strong> ato <strong>de</strong> particular, não se exigin<strong>do</strong> que o constrangimento seja exerci<strong>do</strong><br />

por agente <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público. Recurso ordinário provi<strong>do</strong>” (RT n. 735/521). No mesmo senti<strong>do</strong>, RT n.<br />

577/329 e RT n. 574/400. Internação em hospital — TJSP: “Constrangimento ilegal. Filho que interna os<br />

pais octogenários, contra a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>les em clínica geriátrica. Pessoas não interditadas, com casa on<strong>de</strong><br />

residir. Decisão concessiva <strong>de</strong> habeas corpus mantida” (RT n. 577/329).<br />

270 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!