11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

asseguran<strong>do</strong>-lhe o direito <strong>de</strong> ir, vir e ficar, contra ato <strong>de</strong> ilegalida<strong>de</strong> ou abuso <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r. Po<strong>de</strong> ser preventivo, quan<strong>do</strong> há iminência da lesão <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>,<br />

ou repressivo, quan<strong>do</strong> já tolhida a liberda<strong>de</strong>.”<br />

Quanto à natureza jurídica <strong>do</strong> habeas corpus, em que pese a opinião majoritária<br />

da <strong>do</strong>utrina e da jurisprudência em senti<strong>do</strong> contrário (98) , não se trata <strong>de</strong> uma ação<br />

criminal (99) , mas sim <strong>de</strong> um remédio constitucional para tutelar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

locomoção contra ato ilegal ou <strong>de</strong> abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, não sen<strong>do</strong> exclusivamente uma<br />

ação <strong>de</strong> natureza penal. Nesse senti<strong>do</strong>, é a posição <strong>de</strong> Estêvão Mallet (100) :<br />

“O habeas corpus não é ação penal. Defini-lo assim é inaceitável. Diminui<br />

sua relevância, teórica e prática. Caracteriza o habeas corpus, na verda<strong>de</strong>,<br />

‘privilege’, como referi<strong>do</strong> no art. I, Seção IX, n. 2, da Constituição <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América, ou ‘safeguard of personal liberty’, segun<strong>do</strong> a<br />

<strong>do</strong>utrina, ou, se se quiser, remédio ou garantia constitucional. Aliás, nem<br />

a origem <strong>do</strong> habeas corpus permite vinculá-lo apenas ao direito penal, já<br />

que surgiu o writ como processo <strong>de</strong> caráter mais amplo, ‘by wich courts<br />

compelled the attendance of partis whoese presence would facilitate their<br />

proceedings’.”<br />

Partin<strong>do</strong>-se da premissa <strong>de</strong> que o habeas corpus tem natureza <strong>de</strong> ação penal,<br />

parte significativa da jurisprudência, anterior à EC n. 45/04 entendia que a Justiça<br />

<strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> não tinha competência para apreciá-lo, mesmo que a prisão emanasse<br />

<strong>de</strong> ato <strong>de</strong> Juiz <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> a Justiça Fe<strong>de</strong>ral apreciar o writ.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a seguinte ementa:<br />

“Sen<strong>do</strong> o habeas corpus, <strong>de</strong>senganadamente, uma ação <strong>de</strong> natureza penal, a competência<br />

para seu processamento e julgamento será sempre <strong>de</strong> juízo criminal, ainda que a questão<br />

material subjacente seja <strong>de</strong> natureza civil, como no caso <strong>de</strong> infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário, em<br />

execução <strong>de</strong> sentença. Não possuin<strong>do</strong> a Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, on<strong>de</strong> se verificou o inci<strong>de</strong>nte,<br />

competência criminal, impõe-se reconhecer a competência <strong>do</strong> Tribunal Regional Fe<strong>de</strong>ral<br />

para o feito.” (STF-CC 6979-DF – Ac. TP, 15.8.91, relator Min. Ilmar Galvão)<br />

Depois da EC n. 45/04, não há mais dúvidas <strong>de</strong> que a Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> tem<br />

competência para apreciar o habeas corpus, para as matérias sujeitas à sua jurisdição.<br />

Com efeito, assevera o art. 114, IV, da CF, competir à Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>,<br />

processar e julgar os manda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> segurança, habeas corpus e habeas data, quan<strong>do</strong><br />

o ato questiona<strong>do</strong> envolver matéria sujeita à sua jurisdição.<br />

(98) Por to<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>stacamos a opinião <strong>de</strong> Alexandre <strong>de</strong> Moraes: “O habeas corpus é uma ação constitucional<br />

<strong>de</strong> caráter penal e <strong>de</strong> procedimento especial, isenta <strong>de</strong> custas e que visa a evitar ou cessar violência ou<br />

ameaça na liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção, por ilegalida<strong>de</strong> ou abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Não se trata, portanto, <strong>de</strong> uma<br />

espécie <strong>de</strong> recurso, apesar <strong>de</strong> regulamenta<strong>do</strong> no capítulo a eles <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> no Código <strong>de</strong> Processo Penal”<br />

(<strong>Direito</strong> constitucional. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 141).<br />

(99) Talvez a <strong>do</strong>utrina majoritária fixe a natureza jurídica criminal <strong>do</strong> habeas corpus, em razão <strong>de</strong> seu procedimento<br />

estar regulamenta<strong>do</strong> no Código <strong>de</strong> Processo Penal (arts. 647 a 667).<br />

(100) MALLET, Estêvão. <strong>Direito</strong>, trabalho e processo em transformação. São Paulo: LTr, 2005. p. 177.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 269

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!