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Manual de Direito Processual do Trabalho

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Alguns <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>res têm sustenta<strong>do</strong> a <strong>de</strong>snecessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> inciso IX <strong>do</strong> art. 114,<br />

pois o inciso I <strong>do</strong> art. 114, ao prever que a Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> tem competência para<br />

as controvérsias oriundas da relação <strong>de</strong> trabalho, já basta em si mesmo.<br />

Outros autores sustentam que o inciso IX <strong>do</strong> art. 114 da CF se harmoniza com<br />

o inciso I <strong>do</strong> mesmo dispositivo legal.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, argumenta Estêvão Mallet (74) : “A previsão <strong>de</strong> hipótese aberta<br />

<strong>de</strong> competência da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, para julgamento <strong>de</strong> ‘outras controvérsias<br />

<strong>de</strong>correntes da relação <strong>de</strong> trabalho’ conforme o disposto em lei, nos termos <strong>do</strong> inciso IX,<br />

<strong>do</strong> art. 114, fica em gran<strong>de</strong> medida esvaziada pela amplitu<strong>de</strong> da regra <strong>do</strong> inciso I <strong>do</strong><br />

mesmo dispositivo. Há, contu<strong>do</strong>, como dar senti<strong>do</strong> à norma, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se que,<br />

por meio <strong>de</strong> lei, cabe atribuir à Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> outras competências ainda não<br />

contidas em nenhum <strong>do</strong>s incisos <strong>do</strong> novo art. 114. Um exemplo correspon<strong>de</strong> ao<br />

julgamento da legalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s atos administrativos relaciona<strong>do</strong>s com toma<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

serviço que não sejam, no caso, emprega<strong>do</strong>res, hipótese que, como dito anteriormente,<br />

não está compreendida no inciso VII e não po<strong>de</strong> ser estabelecida por meio<br />

<strong>de</strong> interpretação ampliativa ou corretiva.”<br />

Não obstante a redação primitiva <strong>do</strong> art. 114, I, se referir a controvérsias<br />

oriundas da relação <strong>de</strong> emprego, o inciso IX <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> dispositivo tem <strong>de</strong> ser<br />

interpreta<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> da máxima eficiência da Constituição Fe<strong>de</strong>ral e que possibilite<br />

aplicabilida<strong>de</strong>. Como <strong>de</strong>staca a melhor <strong>do</strong>utrina, a lei, uma vez editada, ganha<br />

vida própria, <strong>de</strong>svinculan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> seu cria<strong>do</strong>r. Nas lições <strong>de</strong> Maximiliano, a lei não<br />

contém palavras inúteis. Além disso, diante <strong>do</strong>s princípios da unida<strong>de</strong> da Constituição<br />

e da razoabilida<strong>de</strong> e proporcionalida<strong>de</strong>, o intérprete <strong>de</strong>ve buscar o resulta<strong>do</strong> mais<br />

efetivo da norma constitucional.<br />

No nosso sentir, a razão está com os que pensam que as ações oriundas da<br />

relação <strong>de</strong> trabalho envolvem diretamente os presta<strong>do</strong>res e toma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> serviços e<br />

as ações <strong>de</strong>correntes envolvem controvérsias paralelas, em que não estão diretamente<br />

envolvi<strong>do</strong>s toma<strong>do</strong>r e presta<strong>do</strong>r, mas terceiros. Até mesmo a lei ordinária po<strong>de</strong>rá<br />

dilatar a competência da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> para outras controvérsias que guardam<br />

nexo causal com o contrato <strong>de</strong> trabalho. Não há contradição ou <strong>de</strong>snecessida<strong>de</strong> da<br />

existência <strong>do</strong> inciso IX, pois o legisla<strong>do</strong>r, preven<strong>do</strong> um maior crescimento da Justiça<br />

<strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> e maior <strong>de</strong>senvolvimento das relações laborais, <strong>de</strong>ixou a cargo da lei<br />

ordinária futura dilatar a competência da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s<br />

parâmetros disciplina<strong>do</strong>s pelos incisos I a VIII <strong>do</strong> art. 114 da CF.<br />

Assim, por exemplo, a nosso ver, a lei ordinária po<strong>de</strong> atribuir novas competências<br />

à Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, como: a) aplicar multas administrativas, <strong>de</strong> ofício,<br />

nas <strong>de</strong>cisões que proferir aos emprega<strong>do</strong>res que <strong>de</strong>scumprem normas <strong>de</strong> proteção<br />

<strong>do</strong> trabalho; b) executar <strong>de</strong> ofício o imposto <strong>de</strong> renda das <strong>de</strong>cisões que proferir;<br />

(74) MALLET, Estêvão. Op. cit., p. 184.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 255

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