11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

não é susceptível <strong>de</strong> isolamento perfeito, como característico <strong>de</strong> uma<br />

ou outra forma <strong>de</strong> trabalho, já que há prestações <strong>de</strong> trabalho por conta<br />

alheia, em que o presta<strong>do</strong>r participa <strong>do</strong>s riscos e <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s. Mas a<br />

recíproca não é verda<strong>de</strong>ira: não há trabalho por conta própria, em que<br />

o presta<strong>do</strong>r divida riscos ou resulta<strong>do</strong>s. Admiti-lo será caminhar para<br />

formas societárias <strong>de</strong> trabalho.”<br />

Diante da <strong>do</strong>utrina acima, concluímos que o termo relação <strong>de</strong> trabalho pressupõe<br />

trabalho presta<strong>do</strong> por conta alheia, em que o trabalha<strong>do</strong>r (pessoa física)<br />

coloca sua força <strong>de</strong> trabalho em prol <strong>de</strong> outra pessoa (física ou jurídica), po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

o trabalha<strong>do</strong>r correr ou não os riscos da ativida<strong>de</strong>. Desse mo<strong>do</strong>, estão excluídas<br />

as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> trabalho em que o trabalho for presta<strong>do</strong> por pessoa<br />

jurídica (20) , porquanto, nessas modalida<strong>de</strong>s, embora haja relação <strong>de</strong> trabalho, o<br />

trabalho humano não é o objeto <strong>de</strong>ssas relações jurídicas, e sim um contrato <strong>de</strong><br />

natureza cível ou comercial.<br />

Mostra-se discutível se o requisito pessoalida<strong>de</strong> é exigível para que tenhamos<br />

uma relação <strong>de</strong> trabalho lato sensu. A pessoalida<strong>de</strong> é requisito indispensável da<br />

relação <strong>de</strong> emprego, já que a prestação pessoal <strong>de</strong> serviços se dá em caráter personalíssimo<br />

intuitu personae.<br />

Manuel Alonso Olea, cita<strong>do</strong> por Amauri Mascaro Nascimento (21) , <strong>de</strong>staca que a<br />

prestação <strong>do</strong> trabalho é estritamente personalíssima, sen<strong>do</strong> em duplo senti<strong>do</strong>. Primeiramente,<br />

porque pelo seu trabalho compromete o trabalha<strong>do</strong>r sua própria pessoa,<br />

enquanto <strong>de</strong>stina parte das energias físicas e mentais que <strong>de</strong>le emanam, e que são<br />

constitutivas <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>, à execução <strong>do</strong> contrato, isto é, ao cumprimento<br />

da obrigação que assumiu contratualmente. Em segun<strong>do</strong> lugar, sen<strong>do</strong> cada pessoa um<br />

indivíduo distinto <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais, cada trabalha<strong>do</strong>r difere <strong>de</strong> outro qualquer, diferin<strong>do</strong><br />

também as prestações <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les, enquanto expressão <strong>de</strong> cada personalida<strong>de</strong><br />

em singular. Em vista disso, o contrato <strong>de</strong> trabalho não conserva sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> se<br />

ocorrer qualquer alteração na pessoa <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r. A substituição <strong>de</strong>ste implica<br />

um novo e diferente contrato com o substituto.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que o requisito da pessoalida<strong>de</strong> também <strong>de</strong>ve ser prepon<strong>de</strong>rante para<br />

que ocorra a relação <strong>de</strong> trabalho, embora possa haver uma substituição ocasional, com<br />

a concordância <strong>do</strong> toma<strong>do</strong>r (22) , sob pena <strong>de</strong> configurar, como acontece na relação <strong>de</strong><br />

emprego, uma nova relação <strong>de</strong> trabalho entre o substituto <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r e o toma<strong>do</strong>r<br />

(20) Se houver prestação <strong>de</strong> trabalho por intermédio <strong>de</strong> pessoa jurídica apenas para mascarar a relação <strong>de</strong><br />

emprego ou relação <strong>de</strong> trabalho pessoal, também se faz presente a competência da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>.<br />

(21) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso <strong>de</strong> direito <strong>do</strong> trabalho. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 579.<br />

(22) “Ocasionalmente, a prestação pessoal <strong>de</strong> serviços po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>ferida a outrem, que não o emprega<strong>do</strong>. Des<strong>de</strong><br />

que haja pactuação expressa, o emprega<strong>do</strong>, com o consentimento <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r, po<strong>de</strong> se fazer substituir<br />

na prestação pessoal <strong>do</strong> serviço contrata<strong>do</strong>. No entanto, quan<strong>do</strong> a substituição se torna regra, passan<strong>do</strong> o<br />

pretenso emprega<strong>do</strong> a ser substituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma permanente, não há que se falar mais em nexo empregatício.<br />

Falta a pessoalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> exercício. Desnatura-se o liame. O contrato per<strong>de</strong> a sua característica típica, que<br />

é a subordinação” (TRT/SP Ac. n. 1.698/62, rel. Juiz Hélio <strong>de</strong> Miranda Guimarães), apud NASCIMENTO,<br />

Amauri Mascaro. Curso <strong>de</strong> direito <strong>do</strong> trabalho. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 578-579.<br />

224 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!