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Manual de Direito Processual do Trabalho

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) Possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impetração contra ato <strong>de</strong> particular na Justiça<br />

<strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong><br />

Há, a nosso ver, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impetração <strong>de</strong> habeas corpus na Justiça <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> quan<strong>do</strong> o emprega<strong>do</strong>r ou toma<strong>do</strong>r <strong>de</strong> serviços restringirem a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> locomoção <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong> ou trabalha<strong>do</strong>r por qualquer motivo, como em razão<br />

<strong>de</strong> não pagamento <strong>de</strong> dívidas. A Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> neste caso não está aprecian<strong>do</strong><br />

matéria criminal, ou se imiscuin<strong>do</strong> em ativida<strong>de</strong> policial, mas julgan<strong>do</strong> ato que está<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua competência material, pois cumpre à Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />

liberda<strong>de</strong> ao trabalho, os valores sociais <strong>do</strong> trabalho e a dignida<strong>de</strong> da pessoa humana<br />

<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r (art. 1 o , incisos III e IV, da CF). Nessa hipótese, o manda<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

segurança é cabível contrato ato <strong>de</strong> ilegalida<strong>de</strong>.<br />

Como bem <strong>de</strong>staca Carolina Tupinambá (115) , “contrariamente ao que comumente<br />

se imagina, a ação <strong>de</strong> habeas corpus po<strong>de</strong> ser impetrada contra pessoa alheia ao<br />

organograma político estatal, que seja, o emprega<strong>do</strong>r priva<strong>do</strong>. Obviamente que,<br />

nesse caso, somente a eventual ilegalida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá propiciar a impetração <strong>do</strong> writ<br />

constitucional.”<br />

A <strong>do</strong>utrina e a jurisprudência têm entendi<strong>do</strong> que é possível a impetração <strong>de</strong><br />

habeas corpus se o constrangimento emanar <strong>de</strong> ato <strong>de</strong> particular (116) , pois o inciso<br />

LXVIII, <strong>do</strong> art. 5 o , da CF, não fala em ato <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>. Nesse senti<strong>do</strong>, é a visão<br />

<strong>de</strong> A<strong>de</strong>rson Ferreira Sobrinho: “concordamos inteiramente com esta última posição<br />

<strong>do</strong>utrinária, pois nem a Constituição Fe<strong>de</strong>ral, nem a lei processual penal, restringem a<br />

aplicação <strong>do</strong> habeas corpus aos atos pratica<strong>do</strong>s por autorida<strong>de</strong> ou que exerça função<br />

pública. E nem mesmo quan<strong>do</strong> a coação configurar crime, não <strong>de</strong>ve ser obsta<strong>do</strong> uso<br />

<strong>do</strong> writ, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da ação policial.” (117)<br />

No mesmo diapasão, é a opinião <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> da Costa Tourinho Filho, com<br />

suporte em Costa Manso, Pedro Lessa, Aureliano Guimaraens, João Men<strong>de</strong>s Júnior e<br />

Magalhães Noronha. Aduz o referi<strong>do</strong> jurista: “De fato, o art. 5 o , LXVIII, da Magna<br />

Carta não fala em autorida<strong>de</strong>. Entretanto, no inciso seguinte, ao cuidar <strong>do</strong> manda<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> segurança, e habeas data, acrescenta: ‘... quan<strong>do</strong> o responsável pela ilegalida<strong>de</strong><br />

testemunho, assevera a Súmula n. 165 <strong>do</strong> STJ que “compete à Justiça Fe<strong>de</strong>ral processar e julgar crime<br />

<strong>de</strong> falso testemunho cometi<strong>do</strong> no processo trabalhista.”<br />

(115) TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> à luz da reforma constitucional. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Forense, 2006. p. 405.<br />

(116) Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacamos as seguintes ementas: “STJ: O HC é ação constitucional <strong>de</strong>stinada a garantir<br />

o direito <strong>de</strong> locomoção, em face <strong>de</strong> ameaça ou <strong>de</strong> efetiva violação por ilegalida<strong>de</strong> ou abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Do teor<br />

da cláusula constitucional pertinente (art. 5 o , LXVIII) exsurge o entendimento no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> admitir-se<br />

o uso da garantia provenha <strong>de</strong> ato <strong>de</strong> particular, não se exigin<strong>do</strong> que o constrangimento seja exerci<strong>do</strong><br />

por agente <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público. Recurso ordinário provi<strong>do</strong>” (RT n. 735/521). No mesmo senti<strong>do</strong> (RT n.<br />

577/329) e (RT n. 574/400). Internação em hospital – TJSP: “Constrangimento ilegal. Filho que interna<br />

os pais octognenários, contra a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>les em clínica geriátrica. Pessoas não interditadas, com casa<br />

on<strong>de</strong> residir. Decisão concessiva <strong>de</strong> habeas corpus mantida” (RT n. 577/329)<br />

(117) FERREIRA SOBRINHO, A<strong>de</strong>rson. O habeas corpus na Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>. São Paulo: LTr, 2003. p. 39.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 1475

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