11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

criminal (107) e sim um remédio constitucional para tutelar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção<br />

contra ato ilegal ou <strong>de</strong> abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, não sen<strong>do</strong> exclusivamente uma ação <strong>de</strong><br />

natureza penal. Nesse senti<strong>do</strong>, é a posição <strong>de</strong> Estêvão Mallet (108) :<br />

“O habeas corpus não é ação penal. Defini-lo assim é inaceitável. Diminui<br />

sua relevância, teórica e prática. Caracteriza o habeas corpus, na verda<strong>de</strong><br />

‘privilege’, como referi<strong>do</strong> no art. 1 o , Seção IX, n. 2, da Constituição <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América, ou ‘safeguard of personal liberty’, segun<strong>do</strong><br />

a <strong>do</strong>utrina, ou, se se quiser, remédio ou garantia constitucional. Aliás,<br />

nem a origem <strong>do</strong> habeas corpus permite vinculá-lo apenas ao direito penal,<br />

já que surgiu o writ como processo <strong>de</strong> caráter mais amplo, ‘by which<br />

courts compelled the attendance of parts whose presence would facilitate<br />

their proceedings’.”<br />

11.2. Competência da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong><br />

Partin<strong>do</strong>-se da premissa <strong>de</strong> que o habeas corpus tem natureza <strong>de</strong> ação penal,<br />

parte significativa da jurisprudência anterior à EC n. 45/04 entendia que a Justiça <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> não tinha competência para apreciar o habeas corpus, mesmo que a prisão<br />

emanasse <strong>de</strong> ato <strong>de</strong> Juiz <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> a Justiça Fe<strong>de</strong>ral apreciar o writ.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a seguinte ementa:<br />

“Sen<strong>do</strong> o habeas corpus, <strong>de</strong>senganadamente, uma ação <strong>de</strong> natureza penal, a competência<br />

para seu processamento e julgamento será sempre <strong>de</strong> juízo criminal, ainda que a questão<br />

material subjacente seja <strong>de</strong> natureza civil, como no caso <strong>de</strong> infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário, em<br />

execução <strong>de</strong> sentença. Não possuin<strong>do</strong> a Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, on<strong>de</strong> se verificou o inci<strong>de</strong>nte,<br />

competência criminal, impõe-se reconhecer a competência <strong>do</strong> Tribunal Regional Fe<strong>de</strong>ral<br />

para o feito.” (STF – CC n. 6979-DF – Ac. TP – 15.8.91 – relator Min. Ilmar Galvão)<br />

Após a EC n. 45/04, não há mais dúvidas <strong>de</strong> que a Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> tem<br />

competência para apreciar o habeas corpus, para as matérias sujeitas à sua jurisdição.<br />

Com efeito, assevera o art. 114, IV, da CF, competir à Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>,<br />

processar e julgar os manda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> segurança, habeas corpus e habeas data, quan<strong>do</strong><br />

o ato questiona<strong>do</strong> envolver matéria sujeita à sua jurisdição.”<br />

Pela dicção <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> dispositivo legal, cabe o habeas corpus na Justiça <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> toda vez que o ato envolver a jurisdição trabalhista, vale dizer, estiver<br />

sujeito à competência material da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>.<br />

na liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção, por ilegalida<strong>de</strong> ou abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Não se trata, portanto, <strong>de</strong> uma espécie<br />

<strong>de</strong> recurso, apesar <strong>de</strong> regulamenta<strong>do</strong> no capítulo a eles <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> no Código <strong>de</strong> Processo Penal” (<strong>Direito</strong><br />

constitucional. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 141).<br />

(107) Talvez a <strong>do</strong>utrina majoritária fixe a natureza jurídica criminal <strong>do</strong> habeas corpus, em razão <strong>de</strong> seu procedimento<br />

estar regulamenta<strong>do</strong> no Código <strong>de</strong> Processo Penal (arts. 647 a 667).<br />

(108) MALLET, Estêvão. <strong>Direito</strong>, trabalho e processo em transformação. São Paulo: LTr, 2005. p. 177.<br />

1472 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!