11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Como bem adverte Mozart Victor Russomano (33) :<br />

“Na solução <strong>do</strong>s conflitos <strong>de</strong> trabalho, em particular <strong>do</strong>s conflitos coletivos<br />

<strong>de</strong> natureza econômica, se reitera a velha e válida i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que não<br />

basta que existam leis boas. É preciso que existam bons cidadãos e bons<br />

juízes, dispostos a respeitá-las e a fazê-las respeitar. Bons cidadãos que<br />

dispensem a interferência <strong>do</strong>s maus juízes e bons juízes que reprimam<br />

a conduta <strong>do</strong>s maus cidadãos. A sentença sempre é página arrancada<br />

da vida <strong>de</strong> algum homem. A sentença coletiva é página arrancada da<br />

história <strong>de</strong> um povo. Nele se reflete ou <strong>de</strong>la resulta o drama que chega<br />

ao último ato ou tragédia, <strong>de</strong> final <strong>de</strong>sespera<strong>do</strong>r. Nossa experiência <strong>de</strong><br />

juiz, durante quarenta anos, permite que a palavra final <strong>de</strong>ste livro seja<br />

<strong>de</strong> advertência: “Nós os juízes <strong>do</strong> século XX, viemos <strong>do</strong> povo, pois em<br />

seu seio nascemos e nos formamos. Para o fiel <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> nossa<br />

missão social, <strong>de</strong>vemos continuar ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong>le, sentin<strong>do</strong>-lhe o calor, o<br />

suor, a pulsação, o sofrimento. O verda<strong>de</strong>iro juiz, neste final <strong>de</strong> século,<br />

é aquele que consegue incorporar em sua alma a alma coletiva, anônima<br />

e comunitária das multidões. Esse é o juiz que enfrentará, certo dia,<br />

com tranquilida<strong>de</strong>, a face severa <strong>do</strong> juiz que o acompanha, o avalia e o<br />

qualifica. Foi dito alhures: ‘O povo é o juiz <strong>do</strong>s juízes’. Deveria ter si<strong>do</strong><br />

acrescenta<strong>do</strong>: E suas sentenças são inapeláveis, porque são as sentenças<br />

da história.”<br />

Concluin<strong>do</strong>, a exigência <strong>do</strong> comum acor<strong>do</strong> previsto no § 2 o <strong>do</strong> art. 114 da CF<br />

não extinguiu o po<strong>de</strong>r normativo. Mas, sem dúvida, o acesso a ele foi restringi<strong>do</strong> e<br />

se criou um obstáculo à sua instauração que, para alguns, é uma condição da ação,<br />

para outros, um pressuposto processual.<br />

Embora a jurisprudência possa a<strong>do</strong>tar uma posição mais restritiva quanto à<br />

exigência <strong>do</strong> comum acor<strong>do</strong>, como se trata, conforme fixamos entendimento acima, <strong>de</strong><br />

uma condição da ação, não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ele ser obti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuizamento<br />

<strong>do</strong> dissídio, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> tal condição da ação ser preenchida no curso <strong>do</strong> processo,<br />

inclusive <strong>de</strong> forma tácita, pela não oposição <strong>do</strong> suscita<strong>do</strong>.<br />

Assim, não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o comum acor<strong>do</strong> ser prévio ao ajuizamento <strong>do</strong><br />

dissídio, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> tal condição da ação ser preenchida no curso <strong>do</strong> processo, inclusive<br />

<strong>de</strong> forma tácita, pela não oposição <strong>do</strong> suscita<strong>do</strong>. O Tribunal não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar <strong>de</strong><br />

ofício a falta <strong>do</strong> comum acor<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> este ser invoca<strong>do</strong> em <strong>de</strong>fesa pelo próprio<br />

suscita<strong>do</strong>, sob consequência <strong>de</strong> preclusão.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacamos a seguinte ementa da lavra <strong>do</strong> Ministro Mauricio<br />

Godinho Delga<strong>do</strong>:<br />

“DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA. AJUIZAMENTO. COMUM ACORDO.<br />

NOVA REDAÇÃO DO § 2 o DO ART. 114 DA CONSTITUIÇÃO ATUAL APÓS A PRO-<br />

MULGAÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004. MANIFESTAÇÃO APÓS<br />

(33) RUSSOMANO, Mozart Victor. Princípios gerais <strong>de</strong> direito sindical. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 2002.<br />

p. 293.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 1357

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!