11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

como nossa Consolidação das Leis <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, on<strong>de</strong>, principalmente em matéria<br />

coletiva, <strong>de</strong>ixa sensíveis rastros <strong>do</strong> pensamento político <strong>de</strong> Getúlio e <strong>do</strong> fascismo<br />

consagra<strong>do</strong> por Mussolini.”<br />

Para Henrique Mace<strong>do</strong> Hinz, “a unanimida<strong>de</strong> da <strong>do</strong>utrina encontra na concepção<br />

corporativista da socieda<strong>de</strong> a origem <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r normativo atribuí<strong>do</strong> à Justiça <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong>” (11) .<br />

Como nos ensina Ronal<strong>do</strong> Lima <strong>do</strong>s Santos (12) :<br />

“O po<strong>de</strong>r normativo da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> teve inspiração na Carta <strong>de</strong>l<br />

Lavoro <strong>do</strong> regime fascista italiano, aprovada pelo Gran Gonsiglio, em 21 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 1927. Ele foi concebi<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo autoritário <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

cuja <strong>do</strong>utrina sintetizava-se em <strong>do</strong>is conceitos básicos: autoritarismo e<br />

corporativismo. O autoritaristmo afirmava a concepção política <strong>de</strong> um<br />

Esta<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> em relação <strong>de</strong> coman<strong>do</strong>, obediência e controle. O corporativismo<br />

elevava à esfera <strong>do</strong> direito público as coletivida<strong>de</strong>s organizadas<br />

para proteção <strong>de</strong> interesses, que <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> ser simplesmente privadas,<br />

para tornarem-se corporações atreladas <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público e submetidas<br />

ao controle <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. A principal aspiração <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> corporativo era<br />

estabelecimento <strong>do</strong> equilíbrio entre as classes sociais, posicionan<strong>do</strong>-se<br />

acima <strong>de</strong>las como mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>r, regula<strong>do</strong>r e, sobretu<strong>do</strong>, organiza<strong>do</strong>r da<br />

socieda<strong>de</strong>. Esse objetivo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> fascista restou consagra<strong>do</strong> emblematicamente<br />

na célebre frase <strong>de</strong> Ben<strong>do</strong> Mussolini: ‘Tu<strong>do</strong> no Esta<strong>do</strong>, nada<br />

contra o Esta<strong>do</strong>, nada fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>’.”<br />

Inegavelmente, o po<strong>de</strong>r normativo constitui uma intervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nas<br />

relações <strong>de</strong> trabalho e máxime no conflito coletivo para solucioná-lo, substituin<strong>do</strong><br />

a vonta<strong>de</strong> das partes, e submeten<strong>do</strong>-as, coativamente, à <strong>de</strong>cisão judicial.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma competência anômala conferida à Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> para, uma<br />

vez solucionan<strong>do</strong> o conflito <strong>de</strong> interesse, criar normas que irão regular as relações<br />

entre as categorias profissional e econômica. Não se trata apenas <strong>de</strong> aplicar o direito<br />

preexistente, mas <strong>de</strong> criar, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s parâmetros, normas jurídicas.<br />

Por isso, se diz que o po<strong>de</strong>r normativo da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> atua no vazio da lei,<br />

ou seja: quan<strong>do</strong> não há lei dispon<strong>do</strong> sobre a questão. Em razão disso, a Justiça <strong>do</strong><br />

<strong>Trabalho</strong> <strong>de</strong>tém a competência constitucional para criar normas por meio da chamada<br />

sentença normativa.<br />

Amauri Mascaro Nascimento enxerga o Po<strong>de</strong>r Normativo como “a competência<br />

constitucional <strong>do</strong>s Tribunais <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> para proferir <strong>de</strong>cisões nos processos <strong>de</strong><br />

dissídios econômicos, crian<strong>do</strong> condições <strong>de</strong> trabalho com força obrigatória (13) .”<br />

(11) HINZ, Henrique Mace<strong>do</strong>. O po<strong>de</strong>r normativo da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>. São Paulo: LTr, 2000. p. 50.<br />

(12) SANTOS, Ronal<strong>do</strong> Lima <strong>do</strong>s. Sindicatos e ações coletivas. 3. ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 311-312.<br />

(13) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso <strong>de</strong> direito processual <strong>do</strong> trabalho. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.<br />

p. 633-634.<br />

1342 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!