11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Como bem adverte Antonio Monteiro Fernan<strong>de</strong>s (9) , “não existe, pois, um critério<br />

para a <strong>de</strong>terminação da existência <strong>de</strong> interesses colectivos. Po<strong>de</strong>, sim, <strong>de</strong>duzir-se pela<br />

via (sindical) pela qual se afirmam as pretensões, <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> pelo qual são prosseguidas<br />

(a negociação nos termos regula<strong>do</strong>s pela lei) e da amplitu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s efeitos que se vise<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar com o resulta<strong>do</strong> final: efeitos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a cristalizarem em certos<br />

contratos individuais, ou, invés, os efeitos <strong>de</strong> um padrão geral para um conjunto<br />

abstracto <strong>de</strong> relações laborais (efeitos normativos, portanto). São estes traços os que<br />

particularmente <strong>de</strong>finem o fenómeno <strong>de</strong> superação (e, em certa medida, apagamento)<br />

<strong>do</strong>s interesses singulares ou individuais que leva à afirmação <strong>de</strong> interesses colectivos<br />

e às correspon<strong>de</strong>ntes formas <strong>de</strong> prossecução.”<br />

O art. 81 da Lei n. 8.078/90 <strong>de</strong>fine, por meio <strong>de</strong> interpretação autêntica, os<br />

interesses transindividuais, <strong>do</strong>s quais o interesse coletivo é uma das suas espécies.<br />

Com efeito, aduz o referi<strong>do</strong> dispositivo legal:<br />

“A <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s interesses e direitos <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res e das vítimas po<strong>de</strong>rá ser exercida<br />

em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A <strong>de</strong>fesa coletiva será<br />

exercida quan<strong>do</strong> se tratar <strong>de</strong>: [...] II – interesses ou direitos coletivos, assim entendi<strong>do</strong>s,<br />

para efeitos <strong>de</strong>ste Código, os transindividuais <strong>de</strong> natureza indivisível, <strong>de</strong> que seja titular<br />

grupo, categoria ou classe <strong>de</strong> pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma<br />

relação jurídica base.”<br />

Diante <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> dispositivo legal, pensamos ser interesse coletivo para fins<br />

trabalhistas: o que transcen<strong>de</strong> o aspecto individual para irradiar efeitos sobre um grupo<br />

ou categoria <strong>de</strong> pessoas, sen<strong>do</strong> uma espécie <strong>de</strong> soma <strong>de</strong> direitos individuais, mas também<br />

um direito próprio <strong>do</strong> grupo, cujos titulares são in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s, mas que po<strong>de</strong>m ser<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s, liga<strong>do</strong>s entre si (ou com a parte contrária) por uma relação jurídica base.<br />

Em razão disso, no <strong>Direito</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, cada categoria po<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o próprio interesse<br />

e também, por meio <strong>de</strong> negociação coletiva, criar normas a viger no âmbito da categoria.<br />

Atualmente, há gran<strong>de</strong> onda <strong>de</strong> impulso das ações coletivas tanto na <strong>do</strong>utrina<br />

como na jurisprudência, a ponto <strong>de</strong> a <strong>do</strong>utrina <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a existência <strong>de</strong> um <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

processo legal coletivo que disciplina o acesso à jurisdição coletiva, bem como o<br />

procedimento das ações coletivas no âmbito <strong>do</strong> judiciário. Esse <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> processo<br />

legal coletivo é <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> próprio princípio da inafastabilida<strong>de</strong> da jurisdição<br />

previsto no art. 5 o , XXXV, da CF.<br />

2.2. Do po<strong>de</strong>r normativo da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> brasileira<br />

Como <strong>de</strong>staca Walter Wiliam Ripper (10) , “o po<strong>de</strong>r normativo da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu surgimento, é objeto <strong>de</strong> críticas <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> (Wal<strong>de</strong>mar Ferreira) e<br />

<strong>de</strong>fesas <strong>de</strong> outro (Oliveira Viana). Discussões sobre seu banimento ou manutenção<br />

são largamente <strong>de</strong>batidas na <strong>do</strong>utrina jurídica e, sobretu<strong>do</strong>, na política nacional.<br />

Um instituto origina<strong>do</strong> no Esta<strong>do</strong> Novo, durante o governo <strong>de</strong> Getúlio Vargas, assim<br />

(9) Op. cit., p. 842.<br />

(10) RIPPER, Walter Wiliam. Po<strong>de</strong>r normativo da Justiça <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>: análise <strong>do</strong> antes, <strong>do</strong> agora e <strong>do</strong> possível<br />

<strong>de</strong>pois. In: Revista LTr 69-07/848.<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 1341

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!