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Manual de Direito Processual do Trabalho

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Sem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prisão <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário infiel, há gran<strong>de</strong> risco para a<br />

efetivida<strong>de</strong> processual e <strong>de</strong>sprestígio da dignida<strong>de</strong> da Justiça, bem como satisfação<br />

<strong>do</strong> crédito <strong>do</strong> exequente.<br />

Pelo exposto, pensamos que a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prisão <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário infiel judicial<br />

é constitucional. Concordamos com o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que<br />

não se <strong>de</strong>ve permitir a prisão <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r <strong>de</strong>positário <strong>do</strong> bem em contratos com<br />

cláusula <strong>de</strong> alienação fiducinária, pelo princípio da vedação da prisão por dívida.<br />

Não obstante, concordamos com a posição <strong>do</strong> Ministro Menezes <strong>Direito</strong> no senti<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> que a prisão <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário infiel judicial encontra fundamentação diversa em<br />

razão <strong>do</strong> múnus público que exerce.<br />

Eventual ilegalida<strong>de</strong> da prisão ou abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r por parte <strong>do</strong> Juiz <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong><br />

<strong>de</strong>verá ser questionada por meio <strong>do</strong> habeas corpus.<br />

O Tribunal Superior <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> fixou entendimento no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> não haver<br />

configuração <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário infiel sobre coisa futura, conforme a OJ n. 143 da SDI-II,<br />

in verbis:<br />

“HABEAS CORPUS — PENHORA SOBRE COISA FUTURA — PRISÃO — DEPOSITÁ-<br />

RIO INFIEL. Não se caracteriza a condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>positário infiel quan<strong>do</strong> a penhora recair<br />

sobre coisa futura, circunstância que, por si só, inviabiliza a materialização <strong>do</strong> <strong>de</strong>pósito<br />

no momento da constituição <strong>do</strong> paciente em <strong>de</strong>positário, autorizan<strong>do</strong>-se a concessão <strong>de</strong><br />

habeas corpus diante da prisão ou ameaça <strong>de</strong> prisão que sofra.”<br />

Em que pese o respeito que merece, não po<strong>de</strong>mos concordar com o posicionamento<br />

<strong>do</strong> Tribunal Superior <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong>, pois, atualmente, a penhora <strong>de</strong> faturamento<br />

está disciplinada pela Lei (186) . Além disso, não se atribuir responsabilida<strong>de</strong> ao<br />

<strong>de</strong>positário que ficou incumbi<strong>do</strong> <strong>de</strong> apresentar o faturamento, <strong>de</strong>sprestigia a justiça<br />

e contribui para a ineficácia da penhora. Por isso, no nosso sentir, o <strong>de</strong>positário da<br />

penhora sobre faturamento da empresa po<strong>de</strong> ser preso, caso não preste contas ao<br />

juízo <strong>do</strong> faturamento da empresa. Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacamos as seguintes ementas:<br />

“Penhora sobre faturamento — Sócio-gerente — Depositário infiel — Caracterização. O<br />

sócio-gerente que assume o encargo <strong>de</strong> <strong>de</strong>positário sobre a penhora <strong>de</strong> parte <strong>do</strong> faturamento<br />

da empresa e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> <strong>de</strong>positar o valor em juízo, caracteriza-se como infiel, justifican<strong>do</strong><br />

o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> sua prisão.” (TRT – 15 a R. – SEDI – Ac. n. 156/2003 – rel. Luiz A. Lazarim<br />

– DJSP 7.3.2003 – p. 3)<br />

“Depositário — Infiel — Penhora em faturamento — Caracterização. A penhora em faturamento<br />

goza <strong>de</strong> legalida<strong>de</strong> (Orientação Jurispru<strong>de</strong>ncial <strong>do</strong> Tribunal Superior <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong><br />

— SBDI n. 93) e o <strong>de</strong>positário que <strong>de</strong>ixa sem qualquer justificativa comprobatória <strong>de</strong><br />

aten<strong>de</strong>r a or<strong>de</strong>m judicial para <strong>de</strong>pósito em juízo <strong>de</strong> parte <strong>do</strong> faturamento, caracteriza-se<br />

como <strong>de</strong>positário infiel, não haven<strong>do</strong> que se falar em ilegalida<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> prisão contra<br />

o mesmo emitida pelo juiz da execução.” (TRT – 15 a R. – 1 a SDI – HC n. 387/2003 – rel.<br />

Luiz Antônio Lazarim – DJSP 13.6.2003 – p. 4)<br />

(186) Art. 866-A, § 2 o , <strong>do</strong> CPC: “Na penhora <strong>de</strong> percentual <strong>do</strong> faturamento da empresa executada, será nomea<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>positário, com a atribuição <strong>de</strong> submeter à aprovação judicial, bem como <strong>de</strong> prestar contas mensalmente,<br />

entregan<strong>do</strong> ao exequente as quantias recebidas, a fim <strong>de</strong> serem imputadas no pagamento da dívida.”<br />

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Processual</strong> <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> 1275

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