11.04.2017 Views

Manual de Direito Processual do Trabalho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

28. Depositário infiel — Prisão <strong>de</strong>terminada pelo Juiz <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong><br />

Dispõe o art. 5 o , LXVII, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral:<br />

“Não haverá prisão civil por dívida, salvo a <strong>do</strong> responsável pelo inadimplemento voluntário<br />

e inescusável <strong>de</strong> obrigação alimentícia e a <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário infiel.”<br />

A Constituição Fe<strong>de</strong>ral consagra a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prisão civil <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário<br />

infiel que, insta<strong>do</strong> pelo juiz a entregar o bem, não o faz.<br />

Trata-se <strong>de</strong> exceção ao princípio da patrimonialida<strong>de</strong> da execução (art. 789<br />

<strong>do</strong> CPC), ten<strong>do</strong> por escopo a prisão que é <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le processual, e não penal, forçar<br />

o <strong>de</strong>positário a entregar o bem que está sob sua guarda, garantin<strong>do</strong>-se a dignida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> processo e a efetivida<strong>de</strong> da jurisdição.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, adverte Júlio César Bebber (182) :<br />

“A prisão civil (ou ameaça <strong>de</strong> prisão) embora constitua medida privativa<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção física, não tem natureza jurídica <strong>de</strong> penalida<strong>de</strong>.<br />

Trata-se <strong>de</strong> técnica processual <strong>de</strong> coerção a<strong>do</strong>tada com o escopo <strong>de</strong><br />

constranger o <strong>de</strong>positário a restituir os bens <strong>de</strong>posita<strong>do</strong>s.”<br />

Como <strong>de</strong>staca Humberto Theo<strong>do</strong>ro Júnior, “sem embargo <strong>de</strong> permiti<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>creto inci<strong>de</strong>ntal da prisão civil <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário judicial que não restitui os bens<br />

sob sua custódia, não cabe ao juiz fazê-lo sem antes ensejar-lhe o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

esclarecimento sobre o <strong>de</strong>saparecimento <strong>do</strong>s objetos penhora<strong>do</strong>s. A garantia <strong>do</strong><br />

contraditório e ampla <strong>de</strong>fesa não lhe po<strong>de</strong> ser negada, sob pena <strong>de</strong> grave ofensa aos<br />

incisos LIV e LV <strong>do</strong> art. 5 o , da Constituição. Até mesmo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>positar<br />

o preço <strong>do</strong> bem penhora<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve ser admitida como <strong>de</strong>fesa capaz <strong>de</strong> evitar a prisão,<br />

na espécie” (183) .<br />

No CPC <strong>de</strong> 1973 (art. 902), o Juiz po<strong>de</strong>ria fixar o prazo <strong>de</strong> prisão, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

exce<strong>de</strong>r um ano.<br />

O CPC atual, seguin<strong>do</strong> a tendência <strong>do</strong> entendimento firma<strong>do</strong> pelo STF, não<br />

disciplina mais a hipótese <strong>de</strong> prisão <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário infiel.<br />

Atualmente, a questão da possibilida<strong>de</strong> da prisão <strong>do</strong> <strong>de</strong>positário fiel se mostra<br />

polêmica na jurisprudência.<br />

Dispõe a Convenção Americana sobre <strong>Direito</strong>s Humanos — Pacto <strong>de</strong> San José<br />

<strong>de</strong> Costa Rica, no art. 7, item 7:<br />

“Ninguém <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>ti<strong>do</strong> por dívidas. Este princípio não limita os manda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong><br />

judiciária competente expedi<strong>do</strong>s em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> inadimplemento <strong>de</strong> obrigação alimentar.”<br />

A jurisprudência <strong>do</strong> Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral vinha admitin<strong>do</strong> a prisão <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>positário infiel diante da autorização constitucional, <strong>do</strong> relevante encargo que<br />

(182) Op. cit., p. 198.<br />

(183) THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo <strong>de</strong> execução e cumprimento da sentença. 25. ed. São Paulo:<br />

Leud, 2008. p. 316.<br />

1270 Mauro Schiavi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!