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Manual de Direito Processual do Trabalho

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Mesmo diante <strong>do</strong> princípio da impenhorabilida<strong>de</strong> absoluta <strong>do</strong> salário, é possível<br />

se sustentar a tese da possibilida<strong>de</strong> da penhora em parte <strong>do</strong> salário?<br />

Não nos parece que seja justo e razoável o trabalha<strong>do</strong>r não receber seu crédito<br />

em razão <strong>de</strong> impenhorabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> salário <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, se este pu<strong>de</strong>r viver <strong>de</strong> forma<br />

digna, abrin<strong>do</strong> mão <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seus ganhos para satisfazer o crédito <strong>do</strong> exequente.<br />

Pensamos ser possível a penhora <strong>de</strong> parte <strong>do</strong> salário <strong>do</strong> executa<strong>do</strong>. Hoje, assistimos<br />

muitas vezes, em audiências trabalhistas, o reclama<strong>do</strong> dizer que irá cumprir<br />

o acor<strong>do</strong> entabula<strong>do</strong> na audiência ou a con<strong>de</strong>nação com um percentual <strong>do</strong> salário.<br />

De outro la<strong>do</strong>, a penhora <strong>de</strong> dinheiro é o meio mais eficaz <strong>de</strong> solucionar a execução,<br />

conforme a or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> art. 835, I, <strong>do</strong> CPC.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se o caráter alimentar <strong>do</strong> crédito trabalhista, diante da possibilida<strong>de</strong><br />

da penhora <strong>de</strong> parte <strong>do</strong> salário para satisfazer o crédito trabalhista e o direito<br />

<strong>do</strong> executa<strong>do</strong> <strong>de</strong> não ter penhora<strong>do</strong> o salário, <strong>de</strong>ve o Juiz <strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> dirimir a<br />

questão à luz <strong>do</strong> princípio da proporcionalida<strong>de</strong>.<br />

À luz <strong>do</strong>s princípios da razoabilida<strong>de</strong>, da equida<strong>de</strong> e da justiça no caso concreto,<br />

pensamos que a regra da impenhorabilida<strong>de</strong> absoluta <strong>do</strong> salário <strong>de</strong>ve ser relativizada<br />

na execução trabalhista, uma vez que tanto o reclamante como o executa<strong>do</strong><br />

postulam verbas <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le alimentar: o exequente buscan<strong>do</strong> a satisfação <strong>do</strong> seu<br />

direito e o executa<strong>do</strong> visan<strong>do</strong> à <strong>de</strong>fesa da verba alimentar. Inegavelmente, o Juiz<br />

<strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> está diante <strong>de</strong> <strong>do</strong>is males, prestigiar o cre<strong>do</strong>r trabalhista ou imunizar<br />

o salário <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r <strong>do</strong> crédito trabalhista, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tar a teoria <strong>do</strong> mal menor,<br />

constritan<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> salário <strong>do</strong> reclama<strong>do</strong>, em percentual que não atente contra<br />

sua existência digna. Quanto ao percentual da penhora <strong>do</strong> valor <strong>do</strong> salário, somente<br />

o caso concreto irá revelar.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, o Enuncia<strong>do</strong> n. 70, da 1 a Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Material e <strong>Processual</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Trabalho</strong> <strong>do</strong> TST, in verbis:<br />

“EXECUÇÃO. PENHORA DE RENDIMENTOS DO DEVEDOR. CRÉDITOS TRABA-<br />

LHISTAS DE NATUREZA ALIMENTAR E PENSÕES POR MORTE OU INVALIDEZ<br />

DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABALHO. PONDERAÇÃO DE PRINCÍPIOS<br />

CONSTITUCIONAIS. POSSIBILIDADE. Ten<strong>do</strong> em vista a natureza alimentar <strong>do</strong>s créditos<br />

trabalhistas e da pensão por morte ou invali<strong>de</strong>z <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> trabalho (CF,<br />

art. 100, § 1 o -A), o disposto no art. 649, inciso IV, <strong>do</strong> CPC <strong>de</strong>ve ser aplica<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma<br />

relativizada, observa<strong>do</strong>s o princípio da proporcionalida<strong>de</strong> e as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> caso<br />

concreto. Admite-se, assim, a penhora <strong>do</strong>s rendimentos <strong>do</strong> executa<strong>do</strong> em percentual que<br />

não inviabilize o seu sustento.”<br />

No mesmo diapasão, a seguinte ementa:<br />

“Execução — Salário — Penhorabilida<strong>de</strong> em favor <strong>do</strong> crédito trabalhista — Natureza<br />

alimentar — CPC, art. 649, IV, parte final — Conta-salário e sal<strong>do</strong> — Distinção — Penhorabilida<strong>de</strong><br />

das sobras existentes — Descaracterização da natureza alimentar <strong>do</strong> valor<br />

exce<strong>de</strong>nte ao usa<strong>do</strong> mensalmente para sustento e sobrevivência — Efeitos. O art. 649, IV,<br />

<strong>do</strong> CPC revela serem absolutamente impenhoráveis ‘os vencimentos <strong>do</strong>s magistra<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s<br />

professores e <strong>do</strong>s funcionários públicos, o sol<strong>do</strong> e os salários, salvo para pagamento <strong>de</strong><br />

1240 Mauro Schiavi

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