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— Isto é uma batida. Se lhe solicitarem que saiam de casa, por favor, certifiquem-se de ter em mãos todos os<br />
documentos de identificação, inclusive os de quaisquer crianças com mais de seis meses de idade... Quem resistir será<br />
detido e interrogado... Quem se atrasar será acusado de obstrução...<br />
No final da rua. Em seguida, a algumas casas de distância... Em seguida, a duas casas de distância...<br />
Não. Na casa ao lado. Ouço o cachorro dos Richardson começar a latir furiosamente. Em seguida, a Sra.<br />
Richardson se desculpando. Mais latidos — então, alguém (um regulador?) murmura algo, e ouço<br />
baques pesados e um ganido, e então alguém diz:<br />
— Você não precisa matar o danado.<br />
E outra pessoa diz:<br />
— Por que não? Provavelmente tem pulgas, mesmo.<br />
Depois, por um tempo, faz-se silêncio: ouve-se apenas o cacarejo ocasional dos rádios, alguém<br />
recitando números de identidade em um telefone, barulhos de folhas de papel.<br />
Por fim:<br />
— Tudo bem, então. Estão liberados.<br />
E as botas retomaram a marcha.<br />
Apesar de toda a tranquilidade, até Rachel e Carol ficam tensas quando as botas passam por nossa<br />
casa. Posso ver Carol segurando a xícara de café com força, com as juntas dos dedos brancas. Meu<br />
coração está aos saltos, agitado como um gafanhoto em meu peito.<br />
Mas as botas passam direto. Rachel solta um suspiro alto de alívio quando ouvimos os reguladores<br />
chamarem em uma casa mais adiante na rua.<br />
— Abram... Isso é uma batida.<br />
A xícara de Carol bate no pires, e eu levo um susto.<br />
— Uma bobagem, não é? — diz ela, forçando uma risada. — Mesmo quando não se fez nada<br />
errado, uma batida ainda nos deixa tensas.<br />
Sinto uma dor ligeira na mão e percebo que ainda estou segurando a bancada como se ela fosse<br />
salvar minha vida. Não consigo relaxar, não consigo me acalmar, mesmo quando os passos ficam mais<br />
distantes e a voz no megafone se torna cada vez mais distorcida, até soar completamente<br />
incompreensível. Só consigo imaginar patrulhas — às vezes, até cinquenta em uma única noite —<br />
circulando por Portland, espalhando-se, cercando-a como água girando em torno de um redemoinho,<br />
arrastando qualquer um que possa ser acusado de comportamento inadequado ou desobediência, e<br />
mesmo quem não pode.<br />
E em algum lugar Hana está dançando, girando, agitando seus cabelos louros voando atrás de si,<br />
sorrindo — rodeada por meninos e ouvindo músicas não aprovadas pulsando nos alto-falantes. Resisto<br />
a uma sensação de náusea incrível. Não quero nem pensar no que vai acontecer com ela — com todos<br />
eles — se forem pegos.<br />
Tudo o que posso fazer é torcer para que ela não tenha chegado à festa ainda. Talvez tenha<br />
demorado demais para se arrumar — parece possível, Hana está sempre atrasada — e ainda estava em<br />
casa quando as batidas começaram. Nem Hana ousaria sair durante as batidas. É suicídio.<br />
Mas Angelica Marston e todos os outros... Todas as pessoas na festa... Todas as pessoas que só<br />
queriam ouvir música...<br />
Penso no que Alex disse na noite em que o encontrei na Roaring Brook: Vim ouvir a música, como todo<br />
mundo.<br />
Tento afastar a imagem de minha cabeça e digo a mim mesma que não é problema meu. Eu deveria<br />
ficar feliz se a batida chegar à festa e todos forem pegos. O que estão fazendo é perigoso — não só para<br />
eles, mas para todos nós: é assim que a doença entra.<br />
Mas minha parte mais interior, a parte teimosa que disse cinza na primeira avaliação, continua me<br />
pressionando e me incomodando. E daí?, diz ela. Eles queriam ouvir um pouco de música. Um pouco de