01- Delírio

— Tudo bem, então. A gente se vê. — Então o momento implode e com ele minha chance de falar.
— Tudo bem. A gente se vê.
Hana começa a descer a rua. Fico tentada a observá-la. Sinto o impulso de memorizar seu andar —
fixá-lo em meu cérebro de alguma forma, exatamente como é —, mas, enquanto a vejo caminhar pela
forte luz do sol, sua silhueta se confunde com outra em minha cabeça, uma sombra que se move para
dentro e para fora da escuridão, prestes a pular de um penhasco, e já não sei mais para quem estou
olhando. De repente, as bordas do mundo estão ficando borradas e sinto uma dor aguda na garganta,
então me viro e caminho rapidamente para casa.
— Lena! — grita ela para mim, pouco antes de eu chegar ao portão.
Giro o corpo, com o coração acelerado, pensando que talvez será ela quem dirá: Sinto sua falta.
Vamos voltar a ser melhores amigas.
Mesmo a uma distância de quinze metros, posso ver Hana hesitando. Em seguida, ela faz um gesto
com a mão e grita:
— Deixa pra lá. — Dessa vez, quando ela vira, não hesita. Caminha reto e rapidamente, dobra a
esquina e some.
Mas o que eu estava esperando?
A questão é essa, afinal: não há volta.