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— Está com medo? — pergunta ele, sorrindo.<br />
— Não estou com medo, é só...<br />
— Ótimo. — Ele estende o braço e encosta dois dedos em meu ombro. — Então, o que acha de um<br />
pouco menos de conversa e um pouco mais de... Já!<br />
Ele grita a última palavra e dispara a toda velocidade. Levo dois segundos inteiros para sair atrás<br />
dele, gritando:<br />
— Não é justo! Eu não estava pronta!<br />
Estamos os dois rindo enquanto corremos de roupa pela água rasa, passando pelo solo irregular<br />
exposto pela maré baixa. Conchas se quebram sob os meus pés. Meus dedos ficam presos em um<br />
emaranhado de algas vermelhas e roxas, e quase caio no chão. Levanto-me da areia molhada com uma<br />
das mãos espalmada e recupero o equilíbrio, e estou quase alcançando Alex quando ele se abaixa, pega<br />
um punhado de areia molhada e se vira para me acertar. Grito e me esquivo, mas um pouquinho atinge<br />
minha bochecha e escorre pelo pescoço.<br />
— Você rouba muito! — consigo dizer, sem fôlego por causa da corrida e das risadas.<br />
— Não posso roubar se não existem regras — responde Alex, por cima do ombro.<br />
— Não existem regras, é?<br />
A água está na altura de nossos tornozelos agora, e começo a molhá-lo com as mãos, deixando suas<br />
costas e seus ombros marcados na roupa. Ele se vira, passando o braço pela superfície da água, um arco<br />
brilhante. Giro para desviar da água e escorrego, caindo apoiada nos cotovelos, molhando o short e a<br />
parte inferior da blusa e prendendo a respiração com o frio repentino. Ele continua avançando pela<br />
água, com a cabeça inclinada para trás, um sorriso deslumbrante, a risada tão alta que a imagino<br />
atravessando a ilha Great Diamond e o horizonte e alcançando outras partes do mundo. Levanto-me e<br />
corro atrás dele. As boias estão a seis metros de distância, e a água bate em meus joelhos, depois nas<br />
coxas, na cintura, até estarmos meio correndo, meio nadando, batendo os braços freneticamente. Não<br />
consigo respirar, pensar ou fazer qualquer coisa além de rir, bater com os braços na água e me<br />
concentrar nas boias vermelhas e brilhantes se agitando, e em ganhar, ganhar, preciso ganhar. Quando<br />
estamos a apenas alguns centímetros das boias e ele continua na dianteira — minhas roupas me fazendo<br />
pesar como se os bolsos estivessem cheios de pedras —, lanço-me para a frente sem pensar e o ataco,<br />
afundando-o na água e sentindo meu pé tocar sua coxa enquanto salto e estendo o braço para bater na<br />
boia mais próxima, empurrando o plástico ao atingi-la. Devemos estar a quatrocentos metros da praia,<br />
mas a maré ainda está baixando, então consigo ficar de pé, com água até o peito. Ergo os braços,<br />
triunfante, enquanto Alex se levanta espalhando água e sacudindo o cabelo.<br />
— Ganhei — digo, arfando.<br />
— Você roubou — diz ele, avançando mais alguns passos e caindo com os braços para trás,<br />
apoiando-se na corda que prende as boias.<br />
Ele arqueia a coluna, virando o rosto para o céu. Sua camiseta está completamente molhada e a água<br />
escorre de seus cílios e desce pelas bochechas.<br />
— Não existem regras — digo —, então não posso roubar.<br />
Ele se vira para mim, sorrindo.<br />
— Deixei você ganhar, então.<br />
— Ah, claro. — Jogo um pouco de água nele, que levanta as mãos, em sinal de rendição. — Você só<br />
não sabe perder.<br />
— Não tenho muita prática.<br />
Lá está aquela autoconfiança outra vez, com aquela tranquilidade quase irritante, a inclinação da<br />
cabeça e o sorriso. Mas hoje não é irritante. Hoje eu gosto porque tudo isso parece, de alguma forma,<br />
passar para mim, como se por estar perto dele tanto tempo eu jamais pudesse me sentir estranha,<br />
assustada ou insegura.