Manobro a bicicleta fazendo um círculo desajeitado e começo a subir a rua. Agora que a adrenalina e a empolgação diminuíram, minhas pernas parecem feitas de ferro, e estou ofegando antes de ter percorrido meio quilômetro. Dessa vez, fico alerta a reguladores, policiais e patrulhas. No caminho para casa, digo a mim mesma que provavelmente é melhor assim. Devo estar louca, correndo na penumbra só para me encontrar com um cara na praia. Além do mais, tudo foi explicado: ele trabalha no laboratório, e provavelmente só entrou lá no dia da avaliação por algum motivo completamente inocente — para usar o banheiro ou encher sua garrafa d’água. E lembro a mim mesma que é capaz de eu ter imaginado aquilo tudo — a mensagem, o encontro. Ele deve estar sentado em seu apartamento em algum lugar, fazendo seus trabalhos acadêmicos. Provavelmente, já esqueceu as duas meninas que conheceu no complexo de laboratórios hoje. Provavelmente, só estava sendo gentil hoje, uma conversa casual. É melhor assim. Mas, não importa quantas vezes eu repita isso, a sensação estranha de vazio em meu estômago não desaparece. E por mais ridículo que seja, não consigo me livrar da sensação persistente e aguda de que esqueci algo, deixei algo passar ou perdi algo para sempre.
sete De todos os sistemas do corpo — neurológico, cognitivo, especial, sensorial —, o cardiológico é o mais sensível e o que se perturba com mais facilidade. O papel da sociedade deve ser proteger esses sistemas contra infecções e deterioração, ou o futuro da raça humana estará em perigo. Como uma fruta de verão que é protegida contra insetos, machucados e apodrecimento por todo o aparato da agricultura moderna, assim também devemos proteger o coração. — “O papel e o propósito da sociedade”, Shhh, p. 353. Fui batizada em homenagem a Maria Madalena, que quase morreu de amor: “Tão infectada com deliria e violando os pactos da sociedade, ela se apaixonava por homens que não a queriam ou não podiam mantê-la” (Livro das Lamentações, Maria 13:1). Aprendemos tudo sobre isso nas aulas de ciência bíblica. Primeiro foi João, depois Mateus e, em seguida, Jeremias, Pedro e Judas, e muitos outros homens anônimos entre eles. Seu último amor, dizem, foi o maior: um homem chamado José, solteiro a vida inteira, que a encontrou na rua, ferida, devastada e parcialmente enlouquecida pelo deliria. Há discussões a respeito de que tipo de homem era José — se era correto ou não, e se chegou a sucumbir à doença —, mas, de qualquer forma, ele cuidou bem dela. Ajudou-a a recuperar a saúde e tentou lhe trazer paz. Àquela altura, porém, já era tarde demais. O passado a atormentava, assombrando-a com os amores perdidos, estragados e arruinados, com os males que ela fizera a outros e os que outros lhe fizeram. Ela quase não conseguia comer, chorava o dia inteiro, agarrava-se a José e implorava que ele jamais a deixasse, mas não conseguia encontrar conforto em sua bondade. Então, em uma manhã, ela acordou, e José havia partido — sem qualquer palavra ou explicação. Esse último abandono finalmente a devastou, e ela caiu ao chão, implorando a Deus para que acabasse com seu sofrimento. Ele ouviu suas preces e, em sua infinita compaixão, removeu dela a praga do deliria, submetida a todos os seres humanos como castigo pelo pecado original de Adão e Eva. De certa forma, Maria Madalena foi a primeira pessoa curada. “Então, após anos de tribulações e dor, ela seguiu pelo caminho correto em paz até o fim de seus dias” (Livro das Lamentações, Maria 13:1). Sempre achei estranho que minha mãe me tenha dado o nome de Magdalena. Ela nem sequer acreditava na cura. Esse era o problema com ela. E o Livro das Lamentações é exatamente sobre os perigos do deliria. Pensei muito nisso e, no fim, acho que cheguei à conclusão de que, apesar de tudo, minha mãe sabia que estava errada: que a cura e a intervenção eram para o bem. Acredito que, mesmo naquela época, ela sabia o que ia fazer — sabia o que aconteceria. Acho que, de certa forma, meu nome foi seu último presente para mim. Foi um recado. Acho que ela estava tentando dizer: Perdoe-me. Acho que estava tentando dizer: Um dia, até essa dor desaparecerá. Está vendo? Independentemente do que todos digam, e apesar de tudo, sei que ela não era de todo ruim.
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— Não se importa. — Agora sei
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Então, de repente, tenho um ideia.
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que consegue é: — Até amanhã.
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Alex. Não consigo evitar: solto um
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subo, centímetro por centímetro.
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