01- Delírio

correr. Mas não consigo me mexer.
— Eu disse que prefiro quando o oceano está cinza. Ou não realmente cinza. Uma cor pálida,
intermediária. Evoca a ideia de esperar que aconteça alguma coisa boa.
Ele se lembra. Ele estava lá. O chão parece estar se dissolvendo sob meus pés do mesmo jeito que
acontece no sonho com minha mãe. Tudo o que consigo ver são os olhos dele, as transições de sombra e
de luz se movendo ali.
— Você mentiu — consigo dizer. — Por que você mentiu?
Ele não responde. Recua alguns centímetros e diz:
— Claro, é ainda mais bonito ao pôr do sol. Por volta de oito e meia, quando o céu parece estar
pegando fogo, principalmente na enseada Back. Você realmente deveria ver. — Ele para e, embora sua
voz esteja baixa e casual, tenho a sensação de que ele está tentando me dizer algo importante. — Hoje,
provavelmente, será incrível.
Meu cérebro se esforça para processar lentamente suas palavras, a maneira como ele enfatiza certos
detalhes. Então a ficha cai: ele me deu um horário e um local. Está me dizendo para encontrá-lo.
— Está me chamando para…? — começo a dizer, mas nesse instante Hana corre até mim,
agarrando-me pelo braço.
— Meu Deus! — diz ela, rindo. — Consegue acreditar que já passa das cinco horas? Temos que ir.
Ela me arrasta para trás antes que eu possa responder ou protestar, e quando penso em olhar por
cima do ombro para ver se Alex está nos olhando ou me enviando qualquer sinal, ele já desapareceu.