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01- Delírio

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Ela lança um olhar para mim. Hana sabe que mal troquei duas palavras com qualquer garoto na<br />

vida, a não ser um “com licença” na rua ou um “desculpe por ter pisado em seu pé” quando tropeço em<br />

alguém. Não devemos ter mais do que o mínimo contato com meninos não curados fora de nossas<br />

famílias. Mesmo após curados, raramente há necessidade ou justificativa para isso, a não ser que se trate<br />

de um médico, um professor ou alguém assim.<br />

Ele se vira para mim. Seu rosto parece completamente profissional e composto, mas juro que vejo<br />

alguma coisa brilhando em seus olhos, uma expressão de divertimento ou de prazer.<br />

— Não — diz ele, suavemente. — Não nos conhecemos. Tenho certeza de que me lembraria. — O<br />

brilho em seus olhos voltou. Ele está rindo de mim?<br />

— Sou Hana — diz Hana. — E esta é a Lena.<br />

Ela me cutuca com o cotovelo. Sei que devo estar parecendo um peixe, parada ali com a boca aberta,<br />

mas estou indignada demais para falar. Ele está mentindo. Sei que foi ele quem vi ontem; apostaria<br />

minha vida nisso.<br />

— Alex. Prazer em conhecê-las. — Alex mantém os olhos em mim enquanto aperta a mão de Hana.<br />

Em seguida, ele estende a mão para mim. — Lena — diz ele, pensativo. — Nunca ouvi este nome antes.<br />

Hesito. Apertos de mão me deixam constrangida, como se eu estivesse vestindo roupas grandes<br />

demais para brincar de ser adulta. Além disso, nunca toquei a pele de um estranho. Mas ele está ali com<br />

a mão estendida, então, após um segundo, estico minha mão e aperto a dele. Assim que nos tocamos, um<br />

minúsculo choque elétrico se espalha por mim, e recolho a mão rapidamente.<br />

— É um apelido para Magdalena — explico.<br />

— Magdalena. — Alex inclina a cabeça para trás, observando-me com seus olhos quase cerrados. —<br />

Gostei.<br />

Fico momentaneamente distraída pela maneira como ele pronuncia meu nome. Em sua boca, a<br />

palavra soa musical, não o estardalhaço grosseiro que meus professores sempre fizeram parecer. Seus<br />

olhos têm uma bonita cor âmbar e, ao observá-lo, tenho uma recordação súbita e rápida de minha mãe<br />

derramando calda em uma pilha de panquecas. Desvio o olhar, sentindo-me envergonhada, como se ele,<br />

de alguma forma, fosse responsável por atrair essa lembrança, como se tivesse estendido a mão,<br />

puxando-a de mim. Sentir vergonha me deixa irritada, então insisto:<br />

— Conheço você, sim. Eu o vi ontem, no laboratório. Você estava na galeria de observação,<br />

assistindo… assistindo a tudo.<br />

Novamente, minha coragem falha no último segundo e não digo me assistindo.<br />

Posso sentir Hana me encarando, mas eu a ignoro. Ela deve estar furiosa por eu não ter lhe falado<br />

nada a respeito.<br />

O rosto de Alex não muda. Ele não pisca nem altera seu sorriso por uma fração de segundo sequer.<br />

— Um erro de identificação, suponho. Guardas não podem entrar nos laboratórios durante as<br />

avaliações. Principalmente guardas de meio período.<br />

Durante mais um segundo ficamos ali, encarando um ao outro. Agora sei que ele está mentindo, e o<br />

sorriso simples e preguiçoso em seu rosto me faz querer esticar o braço e lhe dar um tapa. Cerro os<br />

punhos e respiro fundo, forçando-me a manter a calma. Não sou violenta. Não sei por que estou tão<br />

irritada.<br />

Hana interrompe, quebrando a tensão.<br />

— Então, é isso? Um segurança de meio período e algumas placas de “não ultrapasse”?<br />

Alex mantém os olhos em mim por mais meio segundo. Em seguida, vira-se para Hana, como se a<br />

notasse pela primeira vez.<br />

— O que quer dizer?<br />

— Pensei que os laboratórios fossem mais bem-protegidos, só isso. Não me parece muito difícil<br />

invadir este lugar.

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