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— Ela está acordada.<br />
Jenny segura um copo de água, mas parece relutante em entrar no quarto. Fica na porta, olhando<br />
para mim.<br />
Não quero falar com Jenny, mas estou absolutamente desesperada para beber água. Minha garganta<br />
arde como se eu tivesse engolido uma lixa.<br />
— É para mim? — digo, gesticulando para o copo. Minha voz está rouca.<br />
Jenny faz que sim com a cabeça, com os lábios tensos em uma linha branca e fina. Pela primeira vez<br />
ela não tem nada a dizer. Avança de repente, coloca o copo na mesinha ao lado da cama e sai tão<br />
rapidamente quanto entrou.<br />
— Tia Carol disse que ajudaria.<br />
— Ajudaria o quê?<br />
Bebo um gole longo e revigorante, e a queimação em minha garganta e em minha cabeça parece<br />
acalmar.<br />
Jenny dá de ombros.<br />
— A infecção, eu acho.<br />
Isso explica por que ela está perto da porta e não quer se aproximar de mim. Estou doente,<br />
infectada, suja. Ela está com medo de pegar a doença.<br />
— Sabe que você não vai ficar doente só por chegar perto, não é? — digo.<br />
— Eu sei — responde ela rapidamente, na defensiva, mas permanece parada onde está, olhando-me<br />
com cautela.<br />
Sinto-me absurdamente cansada.<br />
— Que horas são? — pergunto.<br />
— Duas e meia — responde ela.<br />
Isso me surpreende. Relativamente pouco tempo se passou desde que fui encontrar Alex.<br />
— Por quanto tempo eu dormi?<br />
Ela dá de ombros novamente.<br />
— Você estava inconsciente quando eles a trouxeram para casa — diz ela, tranquilamente, como se<br />
isso fosse um acontecimento natural da vida ou algo que eu fiz, e não culpa de um bando de reguladores<br />
que marretaram minha cabeça. Essa é a ironia. Ela está me olhando como se eu fosse a louca, a perigosa.<br />
Enquanto isso, o cara lá embaixo que quase fraturou meu crânio e espalhou meu cérebro no chão é o<br />
herói.<br />
Não aguento olhar para ela, então me viro para a parede.<br />
— Onde está Grace?<br />
— Lá embaixo — diz ela. Um pouco do tom resmungão normal volta à sua voz. — Tivemos que<br />
colocar sacos de dormir na sala.<br />
É claro que querem manter Grace longe de mim: a jovem e impressionável Grace, cuidadosamente<br />
protegida da prima louca e doente. E eu me sinto doente, com ansiedade e desgosto. Penso em minha<br />
ideia de queimar a casa toda. Sorte de tia Carol eu não ter fósforos. Do contrário, talvez fizesse mesmo<br />
isso.<br />
— Então, quem foi? — A voz de Jenny se transforma em um sussurro sinuoso, como uma cobrinha<br />
colocando a língua em minha orelha. — Quem a infectou?<br />
— Jenny.<br />
Viro a cabeça, surpresa por ouvir a voz de Rachel. Ela está na porta, observando-nos com uma<br />
expressão completamente indecifrável.<br />
— Tia Carol precisa de você — diz ela para Jenny, que corre ansiosa para a porta, lançando um<br />
último olhar para mim, com uma expressão de medo e fascinação.<br />
Fico imaginando se fiquei assim há tantos anos, quando Rachel contraiu deliria e precisou ser presa