01- Delírio

— Bem, você sabe onde estarei.
Ficamos ali por um tempo, ouvindo a água recuando, as ondas se agitando e carregando pequenos
pedaços de pedra: pedras transformadas em areia ao longo de milhares e milhares de anos. Talvez um dia
tudo isso vire água. Talvez, um dia, tudo se transforme em poeira.
Então Hana se vira e diz:
— Vamos. Aposto corrida com você até a trilha.
E sai correndo antes que eu possa concordar.
— Não é justo! — grito atrás dela, mas não me esforço muito para alcançá-la. Deixo-a alguns passos
à minha frente e tento memorizá-la exatamente como ela é: correndo, rindo, bronzeada, feliz, linda e
minha; cabelos louros brilhando como uma tocha nos últimos raios de sol, como um sinal de que há
coisas boas pela frente, dias melhores no futuro de nós duas.
* * *
Amor, a mais mortal das coisas mortais: mata quando você tem e quando você não tem.
Mas não é exatamente assim.
O condenador e o condenado. O executor; a lâmina; a prorrogação do último minuto; o suspiro e o
céu acima de você, e o obrigada, obrigada, obrigada, Deus.
Amor: ele vai matá-lo e salvá-lo, ao mesmo tempo.