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O cheiro que nos atinge quando entramos quase me joga para trás — pela porta e pelo tempo, de<br />
volta ao quarto ano da escola. É o cheiro de milhares de corpos suados muito próximos uns dos outros,<br />
sob um odor pungente e ofensivo de desinfetantes industriais. Acima de tudo, há o cheiro de umidade —<br />
corredores que nunca ficam realmente secos, canos com vazamentos, mofo crescendo pelas paredes e em<br />
todos os lugares escondidos que visitantes nunca podem ver. A recepção fica à nossa esquerda, e a<br />
mulher que está no posto, atrás de outro painel de vidro à prova de balas, usa uma máscara cirúrgica.<br />
Não a culpo.<br />
Estranhamente, quando nos aproximamos de sua mesa, ela levanta os olhos e se dirige a Alex pelo<br />
nome.<br />
— Alex — diz ela, acenando ligeiramente. E então vira os olhos para mim. — Quem é essa?<br />
Alex repete a história sobre o incidente nas avaliações. Ele, obviamente, é bastante conhecido pela<br />
guarda, porque a trata por seu primeiro nome algumas vezes, e não vejo nenhum crachá. Ela digita<br />
nossos nomes em um computador da idade da pedra que está na mesa e acena para que passemos para a<br />
segurança. Alex cumprimenta também os funcionários desse setor, e eu o admiro por sua calma. Estou<br />
tendo muita dificuldade para desafivelar o cinto e passar pelo detector de metais, de tanto que minhas<br />
mãos tremem. Os guardas nas Criptas parecem cinquenta por cento maiores que as pessoas normais,<br />
com mãos do tamanho de raquetes de tênis e ombros largos como barcos. E todos carregam armas.<br />
Armas grandes. Estou fazendo o possível para não parecer completamente aterrorizada, mas é difícil<br />
manter a calma quando é preciso ficar praticamente só de roupa íntima na frente de gigantes equipados<br />
com armas automáticas.<br />
Finalmente, passamos pela segurança. Alex e eu nos vestimos de novo em silêncio, e eu fico surpresa<br />
— e feliz — quando consigo amarrar meus cadarços.<br />
— Somente alas um a cinco — grita um dos guardas quando Alex gesticula para que eu o siga pelo<br />
corredor. As paredes são pintadas com um tom doentio de amarelo. Em uma casa, um berçário bem<br />
iluminado ou um escritório, esse tom poderia ser alegre, mas, sob as luzes frias que acendem e apagam<br />
constantemente, marcada por anos e anos de água, marcas de mãos, insetos esmagados e não quero nem<br />
saber o quê, a cor parece incrivelmente depressiva, como um grande sorriso de alguém com dentes<br />
pretos e podres.<br />
— Pode deixar — diz Alex. Presumo que isso significa que algumas áreas são proibidas a visitantes.<br />
Sigo Alex por um corredor estreito, depois por outro. Os corredores estão vazios, e ainda não<br />
passamos por nenhuma cela, embora, à medida que vamos virando em curvas e em esquinas, ruídos e<br />
gemidos estridentes começam a flutuar em nossa direção, assim como estranhos barulhos de animais,<br />
balidos, mugidos e crocitos, como se um bando de pessoas estivesse imitando os sons de um celeiro.<br />
Devemos estar perto da ala psiquiátrica. No entanto, não passamos por nenhum outro guarda,<br />
enfermeira ou paciente. Tudo está tão parado que é quase assustador: e silencioso, também, exceto por<br />
esses sons terríveis que parecem sair das paredes.<br />
Parece seguro conversar, então pergunto a Alex:<br />
— Como todos conhecem você aqui?<br />
— Venho muito — diz ele, como se esta fosse uma resposta satisfatória. Pessoas não “vão muito” às<br />
Criptas. Não é exatamente um programa que seja do mesmo nível da praia. Não chega nem ao nível de<br />
um banheiro público.<br />
Parece que ele não vai dar maiores detalhes, e estou prestes a exigir uma explicação mais completa<br />
quando ele expele o ar preso na boca e diz:<br />
— Meu pai está aqui. É por isso que venho.<br />
Realmente não achei que algo ainda pudesse me surpreender a esta altura ou penetrar a neblina em<br />
meu cérebro, mas isso consegue.<br />
— Achei que você tivesse dito que seu pai estava morto.